Minha carta para mim

por Gabriela Von Ammon Eifler

Gabriela Eifler
Iandé
3 min readNov 3, 2019

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Foto tirada em abril de 2014. Na imagem eu tinha 15 anos.

Quando estava começando o primeiro ano do colegial foi proposto que todos escrevessem uma carta para abrir quando nos formássemos no terceiro ano do colegial.

Lembro que estava sentada e pensando muito sobre o que gostaria de ler quando me formasse. Escrevi o que estava sentindo e fiz um movimento de tentar pressupor o que estaria sentindo 3 anos no futuro.

Foto tirada em junho de 2014. Na imagem eu tinha 15 anos.

Naquele momento da minha vida eu estava focada na melhora do meu psicológico. Um ano antes eu havia sido diagnosticada com depressão e após um ano de terapia, estava começando meu tratamento com antidepressivos.

Meu foco era a sobrevivência.

Comecei a escrever, eu amava escrever nessa época, e sentada ali no meu cantinho, me escondendo um pouco, derramei meu coração.

Essa época se apagou muito na minha memória, então não me proponho a lembrar de detalhes físicos que a mente apaga para dar lugar a memórias felizes e construtivas. Minhas memórias desse tempo estão cravadas no corpo e em sentimentos.

3 anos depois, 3 anos de inúmeros altos e baixos, chegou finalmente o momento de ler a carta.

Abri e logo me deparei com uma letra que não parecia a minha, a não ser pelo senso de déjà vu que me preencheu naquele momento, um déjà vu confortante de saber o que sentiu e confiança no que está por vir.

Foto tirada em junho de 2016. Na imagem eu tinha 17 anos.

Li, reli, li uma terceira vez e comecei a chorar. Chorei de orgulho, chorei por luto, chorei de amor. Orgulho de estar viva, de ter sobrevivido, de entender que daqui pra frente eu poderia começar a viver. Luto da pessoa que eu era, que não me fazia falta, mas que venci lutando todos os dias. Amor por mim, simples, sem perguntas e sem dúvidas, um amor puro que antes não era capaz de sentir.

Chorei, mas as lágrimas caíam em um sorriso, enquanto lia eu mesma me parabenizando por ter sobrevivido.

Ninguém além de mim pensaria em me parabenizar por estar viva, porque ninguém consegue compreender a força que cada pessoa tem que ter para viver seu dia-a-dia.

Depois disso vivi.

Vivi um ano a mais no mesmo lugar mas com outra vontade.

Vivi com gosto, com amor, com paixão e fervor.

Vivi como não vivia antes.

Foto tirada em setembro de 2017. Na imagem eu tinha 18 anos. | Foto: Ju Selles Wuerkert

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