Momento numa câmara escura

Enrique Valentino
Iandé
Published in
3 min readApr 16, 2018
Foto autoral

Uma grande paixão minha é a fotografia. A possibilidade de capturar e eternizar um mínimo momento, um milésimo de segundo e levá-lo consigo é uma ideia que me fascina de forma incalculável. A imensidão do céu azul, um simples prédio, um pequeno inseto em uma árvore, um abraço, um sorriso, um olhar. A fotografia é capaz de capturar desde o mais grandioso dos momentos até os mais pequenos e singelos. As possibilidades são infinitas.

Existem aqueles que pensam que a fotografia possui uma função apenas documental: ver a realidade como ela é, despida de subjetividade. Claro, não se pode negar que há essa função e que ela pode ser explorada de forma eficiente e poderosa.

Foto autoral

Por outro lado, me inclino ao outro lado da fotografia: em algum momento, em alguma foto, o fotógrafo percebe algo que não estava lá, algo que talvez ninguém antes tinha percebido. Uma combinação de cores, uma sombra, uma luz, um avião voando no céu. Obviamente, tais aspectos estavam ali no momento em que a foto foi tirada. Mas, ao mesmo tempo em que estavam, também não estavam.

Foto autoral

Tais aspectos foram captados não apenas pelo olhar do artista, mas por sua subjetividade. As cores, a sombra, a luz e o avião não são apenas cores, sombras, luzes e aviões. São também sentimentos: melancolia, tristeza, felicidade, a insignificância da vida.

O fotógrafo, assim como um dos homens que se achavam no café quando o enterro passou, percebe o que muitos não percebem: que a vida não tem finalidade, calmaria e nem objetivo. A vida é o que fazemos dela, e fazemos o que fazemos dela através do caos que observamos a nossa volta.

Fotos autorais

O fotógrafo se percebe nas coisas que vê.

Suas fotos são um gesto longo e demorado.

Fotos autorais

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