Mulheres na rua
Foi de All Star nos pés, uma câmera no pescoço e um cartaz na mão que eu, em 2015, caminhei pela primeira vez na Paulista fechada para uma manifestação.
E foi nesse dia que eu entendi.
Estava no segundo colegial e as conversas sobre feminismo e liberdade começavam a ganhar espaço na minha vida. Porém, tudo se encontrava em palavras, em uma realidade apenas minha e de quem estava do meu lado todos os dias. Pouco entendia do que era a vida do portão pra fora, das diversas mulheres.
E foi por isso que no dia 30 de outubro de 2015 que eu senti o verdadeiro som da realidade. Senti o tambor da dor e da esperança de tantas mulheres tocar no peito. A rua era de todas: das mais pobres, das mais ricas, das negras, das brancas, das lésbicas, héteros, bis e trans. E ali todas eram uma só.
A reivindicação era da PL 5069, feita pelo presidente atual da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que dificultava o aborto legal em caso de estupro. Mas no coração cabia muito mais. O medo escorria pelas mãos e se misturava com toda coragem que abraçava meu corpo. Lembro da sensação de fazer os cartazes no chão do quarto de casa, de encontrar minhas amigas no metrô e de subir a escada rolante e ver milhares de mulheres ocupando um espaço normalmente não feito para nós. As mulheres estavam na rua. Sai de lá e senti toda aquela força em mim e entendi que meu lugar era caminhando ali.
Naquele entardecer de primavera eu entendi melhor.
Foi com um cartaz na mão e do lado de tantas parceiras de vida e da rua, que eu decidi fotografar a força, o poder, a pluralidade de ser mulher. Nesse dia eternizei nas minhas lentes um pouco da garra de ser mulher e de como também é possível encontrar paz e família em tudo isso. E como cada medo e cada dor podem ser acolhidos nos momentos mais diversos.
Foi em 2015, com dezessete anos, que eu entendi bem mais de mim, que eu fui pra rua falar do quanto somos (e pretendemos ser bem mais) parte da cidade. E, desse dia em diante, nunca mais saí de lá.
