O fim de uma era

Alguma hora tudo há de acabar

isabella rustice
Iandé
4 min readDec 8, 2020

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Por Isabella Rustice

Os melhores momentos da minha vida sempre foram aqueles que eu passei na casa da minha avó materna. As minhas memórias mais especiais foram construídas naquela casa, sempre na companhia dos meus pais, dos meus dois avós, da minha bisavó e de todos os animais que passaram pelas nossas vidas.

Fachada da casa da minha avó

Desde que consigo me lembrar, o lugar que eu mais frequentava era aquela casa. Em todas as datas importantes, era lá onde as comemorações aconteciam, inclusive meu primeiro natal. Como meus pais trabalhavam fora e eu estudava no período da tarde, eu era deixada lá bem cedo, e aproveitava para assistir minhas séries e desenhos favoritos, brincar com o Jader, o gato que nasceu poucos meses antes de mim, Liza, a cachorra, Marie, a gata e Julia, a tartaruga, e claro, desfrutar da companhia dos meus avós e da minha bisavó enquanto não chegava a hora do almoço e consequentemente a perua que costumava me levar para a escola.

Deve ser por todos esses motivos e muitos outros que eu fiquei tão triste e melancólica quando soube que construtoras estavam interessadas em demolir as casas da rua para fazer um prédio, alguns anos atrás. Por sorte, todas essas tentativas acabaram falhando, e o meu medo ia sendo cada vez mais adiado.

O problema é que no começo deste ano essa situação infelizmente começou a se consolidar. Entre diversas negociações e discussões com os vizinhos, a casa que faz parte da minha história finalmente não pertencia mais aos meus avós. A partir de agora, como ainda estamos nesse processo, tudo irá mudar, e eu honestamente não sei se estou pronta para isso. Mesmo que meus avós ainda estejam morando lá e eu frequente a casa diariamente, é doloroso saber que em três meses estaremos observando a sua demolição.

Eu entendo os motivos da venda, sei que fica difícil se locomover numa casa tão grande, sei que ela já está meio velha e os reparos sairiam muito caros, mas mesmo assim ver o mais importante cenário da minha infância e adolescência sumir possui um significado muito mais importante, porque na minha opinião isso também indica que eu finalmente terei que crescer.

Acredito que o maior problema será deixar para trás tudo que me marcou. Estamos analisando o que vai ou não ser levado para o novo apartamento, inclusive meus brinquedos antigos e que ainda possuem muito valor sentimental. Além disso, tenho medo das minhas memórias da minha bisavó, Flávia, que morreu em 2012, do gato Jader, que morreu em 2017 e de Liza, cachorrinha salsicha que eu e minha vó tínhamos juntas e que nos trazia tanta alegria, que morreu em 2018, apenas dois dias após meu aniversário, e quem eu não pude nem me despedir pois estava viajando, também sumirem, já que todos os momentos que passamos juntos foi naquela casa.

Foto de Liza (esquerda) e eu, minha vó e ela numa foto tirada apenas 6 meses antes de sua morte (direita)

O que me conforta é ainda termos Marie, que ainda está aqui para me lembrar de todos os animais e pessoas que já passaram pela nossa vida, e o fato de meus avós terem comprado um apartamento ao lado do nosso, no qual acredito que também possamos criar boas vivências, mesmo que elas possam não marcar minha vida tanto assim.

Por fim, sei que nunca irei esquecer tudo o que passei na casa de meus avós, sei que levarei tudo comigo para o resto da vida, pois de alguma forma ela me fez ser o que eu sou hoje, e isso não irá mudar. Sentirei falta das tardes em que eu levava Liza passear, convidava minha amiga para jogar videogame, brincava com as minhas Barbies, fazia bolo com minha bisavó, e etc. Pelo menos vou ter a chance de comemorarmos nosso último natal lá e relembrar todos os acontecimentos importantes, além de poder dar um último adeus antes de presenciarmos sua demolição, porém ainda assim não posso negar que estou desejando que esse dia não chegue.

Estou muito grata de ter tido a oportunidade de ter uma infância tão especial, e acredito que sempre terei as fotos para olhar quando estiver sentindo saudades.

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