O furto fotográfico.

Beatriz Pereira Guerra
Iandé
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2 min readOct 11, 2017

A percepção da desigualdade social através de uma fotografia.

Em junho desse ano, 2017, minha família decidiu fazer uma viagem a Salvador, Bahia. Eu fiquei super animada, claro! Afinal, quem não quer conhecer o Nordeste brasileiro?!

A Bahia é conhecida, além do acarajé, capoeira e Pelourinho, por suas paisagens naturais encantadoras. Certamente, eu fui uma das vítimas do encantamento dessa beleza toda. Essa foto, tirada por mim, retrata uma praia que fica ao lado do hotel onde me hospedei, no bairro chamado Ondinas. Pela janela do meu quarto, que ficava em um andar bem alto, já dava pra ver o quanto era bonita essa cena: a água se encontrando com as pedras. E eu, fui querer fotografar de pertinho, esses fotógrafos não se aguentam, né? Depois de 50 segundos com os pés na areia (e que areia fofa) fui interceptada por um rapaz, ele apontou sua arma para a minha barriga e pediu pra eu passar tudo. O que era tudo, afinal? Passei meu celular, meu dinheiro, e minha câmera profissional (adeus, fotos). Ele pediu pra eu ficar de costas enquanto ele fugia, e disse: “Aproveita para olhar o mar!”, e foi isso que eu fiz.

Fui além-mar com meus pensamentos. Comecei a pensar por que aquilo tudo tinha acontecido. Foi muito chato, mas, por quê? Não consegui tirar essa pulga de trás da minha orelha.

Quando voltava para o hotel, um homem me chamou, perguntando se aquela câmera jogada no chão era minha. Eu fiquei desacreditada que eu tinha a recuperado, e melhor, inteirinha e com o cartão de memória lá (o dinheiro e o celular se foram mesmo, saudade).

Na primeira oportunidade de ficar sozinha, levei minha câmera comigo e comecei a rever as fotos. Através delas, eu revivi os momentos retratados, inclusive o do assalto. Essa foto, ao mesmo tempo que me traz uma sensação terrível de medo, me traz uma sensação de descoberta. Foi através dela que eu abri o olho e percebi o tamanho do nosso Brasil. O tamanho da nossa desigualdade. A Bahia é o estado com maior número de moradores de rua do nosso país. A diferença entre uma turista curiosa que quer fotografar o mar, com a de um homem, que, infelizmente, faz do assalto seu “meio de sobrevivência”. Sobreviver? Talvez ele sobreviva no sentido de continuar a viver ou a existir, e eu, continuar a existir depois de algo ou algum acontecimento.

Anna Beatriz Pereira Guerra, 41621656.

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Beatriz Pereira Guerra
Iandé
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publicitária, fotógrafa, ascendente a viajante e ariana.