O Mundo Dá Voltas

Daniel Blucher
Iandé
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2 min readNov 18, 2019

Por Daniel Blucher

Me recordo de quando meu irmão dois anos mais velho tirou as rodinhas de treino de sua bicicleta. Apesar da diferença de idade sempre fomos muito próximos e queria acompanhá-lo em suas conquistas, mas sempre tive mais receio de me machucar e acabei me conformando que ainda não era meu momento de retirar as rodinhas.

Algum tempo depois, não me lembro quando exatamente, mas por um motivo desconhecido — possivelmente por frustração — peguei a bicicleta e comecei a tentar pedalar sem rodinhas. Estava no meu quintal, um espaço de uns 4x4 metros, com chão e paredes brancas, lembrando agora o espaço assemelhava-se a um hospital. Me conhecendo, acredito que era a melhor situação para que eu pudesse focar, sem estímulos exteriores como na rua cheia de pessoas e carros. Por mais de uma hora tentei pedalar, no início conseguia apenas 2 ou 3 pedaladas antes de me desequilibrar e bater na parede. Girava e girava naquele cubículo, acrescentando uma pedalada em cada tentativa. Quando finalmente estava conseguindo andar na bicicleta por tempo indeterminado apenas continuei rodando.

Nessa hora minha mãe veio me chamar e se surpreendeu com a cena de mim sobre a bicicleta sem as rodinhas. Ela ficou feliz e comemorou comigo pois sabia que eu estava tendo dificuldade em superar este obstáculo. Em seguida ela olhou para o quintal e, pasma, diz que não entende por que eu havia escolhido um espaço tão ruim para praticar mas que estava contente que deu certo.

Atualmente reflito sobre a situação e acredito que foi um importante momento de aprendizado, mudou minha relação com dilemas. Hoje, tento “não me colocar no quintal”.

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