O que um post de Futebol faz por aqui?

Rafael Gaeta
Iandé
Published in
3 min readApr 19, 2018

O ano de 2016 foi marcado por grandes reviravoltas em minha vida. Tinha acabado de voltar de uma tentativa frustrada de estudar cinema em Los Angeles, fui expulso da casa de minha mãe, fui morar com meu pai, entrei no cursinho e sem rumo, aos 19 anos de idade, não tinha a menor ideia de qual seria o meu próximo passo.

Pode falar, não esperava um começo de post tão tempestuoso com esse título, não é mesmo?

Marcado por dúvidas, o ano seguiu e as coisas não pareciam melhorar. Nem mesmo um curso universitário eu era capaz de escolher, estava verdadeiramente perdido. Mas, como se sabe, 2016 também foi marcado pelo evento das Olimpíadas no Brasil e apesar de relutar para aceitar o convite do meu primo de ir na final de Futebol Masculino, já que deveria focar nos estudos, não me aguentei e fugi, junto com alguns amigos, para passar um final de semana no Rio de Janeiro.

Foto da minha visão do campo.

Separo esse parágrafo para explicar tal fuga contando minha relação com o Futebol. Me apaixonei por jogar bola ainda criança, era o estereótipo do brasileiro que sonha em ser jogador de futebol. Lembro da minha primeira partida, minha primeira camisa, minha primeira chuteira, minha primeira vez no estádio — São Paulo x Chivas Guadalajara em 2005 pela Libertadores. Passei por clubes, ganhei campeonatos de interclasses, campeonatos entre colégios e até mesmo alguns internacionais. Futebol, em certo momento, deixou de ser paixão e tornou-se responsabilidade. Virou sinônimo de competição e necessidade de vitórias, coisa que, pra ser sincero, não era exatamente o porque eu jogava.

Eu e o “Japa” — e uma intrusa — esperando o jogo começar.

Nunca falo que desisti do Futebol, só acredito que não era meu sonho — como já achei que fosse — e quando recebi o convite, o torcedor dentro de mim falou mais alto.

A atmosfera criada aos arredores do estádio era algo de outro mundo. Ao mesmo tempo milhões de sentimentos passavam por mim. Nervosismo de ver o Brasil enfrentar a Alemanha depois do pesadelo do 7x1 na Copa do Mundo, estava ansioso já que era a minha primeira vez entrando no Maracanã, ter a possibilidade de ver a primeira medalha de ouro de Futebol do Brasil e, principalmente, a lembrança de todos os momentos difíceis que tinha passado nos últimos meses somados a minha fuga das responsabilidades.

A minha vontade de escrever esse post com tal assunto se relaciona de uma maneira menos convencional quando pensamos no conceito de experiência estética. Proponho essa relação com o evento, uma vez que uma nova perspectiva foi criada no exato momento em que o Brasil ganhou aquela medalha. Como torcedor eu ja presenciei estranhos unidos comemorando uma vitória dentro do campo, mas como o que aconteceu naquele dia, eu nunca vi nada parecido. Um sentimento de união e otimismo pairou sobre o estádio. As pessoas deixaram de lado seus problemas pessoais, a crise que o país passava e qualquer outro problema para comemorar a vitória de um simples jogo.

Por mais besta que isso possa parecer, naquele momento eu percebi a simplicidade das coisas, que sempre há espaço para enxergar um lado bom, que crises e momentos complicados estão apenas de passagem nas nossas vidas e tudo aquilo que era pesadelo para mim começou a transformar-se em mera lembrança.

Um sentido novo, foi o que consegui levar dessa “fugidinha” das minhas responsabilidades. E parando hoje para pensar em tudo o que aconteceu depois daquele jogo, acredito que foi uma das melhores decisões que já tomei.

Vídeo do último gol do Brasil.

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