O que uma cidade muda

Alexandrina Santos
Iandé
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3 min readApr 15, 2018

Transformações de vida acontecem através de experiências que são dadas de maneiras inusitadas e completamente diferentes para cada um. Perceber com os sentidos é a básica definição do que seria uma experiência estética. No meu caso, foi sentir e entender uma certa experiência com calma, depois de muita reflexão. Minha experiência estética é sobre a minha mudança de cidade para cursar a faculdade de cinema fora do pais no ano de 2015.

Em 19 de agosto de 2015, eu estava embarcando para Los Angeles, para morar pela 2ª vez (a primeira foi em Janeiro de 2014) e agora estudar o que tanto queria fazer para o resto da vida. De primeira, para a mente do ansioso, é normal pensar nas consequências ruins, tentar se precaver para que elas não aconteçam, mas nunca é possível medir o que realmente virá a ser um problema ou não. Colocar objetivos muito traçados e pouco maleáveis na vida é bom, mas a longo prazo não, pois em tudo é necessário manutenção, reflexão e maturação.

Lembro-me dos meus primeiros meses lá como flashes. Tanto pelo número de mudanças de residências feitas em tão pouco tempo, quanto pela desesperada necessidade de provar a todos que o meu tempo não estava sendo perdido e que tudo que eu estava sacrificando (família, amigos, relacionamentos) teria uma recompensa e então tentava agir o mais rápido e de maneira mais eficiente possível para isso. 2016 então começa e tudo fica mais real e palpável. Matérias mais difíceis na faculdade, saudade de pessoas, não aproveitando tanto o lugar que eu tanto amava e vivia. E, principalmente, percebendo aos poucos, como me incomodava, ficar sozinha na maioria do tempo.

O Brasil, além de ser um pais caloroso, é extremamente dependente de gente. Por mais que você tente ser antissocial as pessoas irão querer estar na presença de outras pessoas por puro hábito. Se sentir sozinho e estar bem com isso é um processo demorado e que precisa ser praticado. Sempre vi prazer em fazer pequenas atividades sozinha como dirigir, ir ao cinema, ir ao supermercado, porém, viver sozinha e não digo fisicamente pois poderia ter morado com alguém, digo, viver longe de pessoas que são importantes e estar na ausência de pessoas na maior parte do tempo é algo completamente diferente e que me fez perceber como é necessário colocar na balança o que eu quero comparado ao que custa para chegar lá. Um objetivo muito fixado, não sujeito a modificações no processo, traz frustração quando não alcançado e também não nos faz pensar de maneira prática sobre o que precisa ser feito para chegar nesse objetivo. Uma vez que experienciamos tudo e não tornamos uma experiência como a vida por completa, as percepções sobre o que é certo na situação se tornam tangíveis.

Essas transformações, às vezes percebidas a partir de um estopim pequeno e outras a partir de um maior é que criam a percepção de como é necessário viver as experiências para, através delas, chegar a conclusão do que é melhor para si próprio. Minha mudança tanto de ida como de volta me fez concluir que ninguém nunca está pronto para se jogar em desafios e mudanças, mas que há circunstâncias e momentos certos para que eles funcionem. Hoje, com uma mente clara, com ajuda e com muita reflexão, consigo ver que ainda não era a minha hora de estar lá tentando fazer o que eu queria fazer lá.

Percepções como essas, tomam tempo, vivência e calma. Não passa despercebido como uma experiência estética afinal mudanças na vida e na maneira como a enxergamos é completamente sensorial.

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