O que vai e vem

Marcelo Morganti
Iandé
Published in
3 min readDec 8, 2020

Por Marcelo Morganti

A Night at the Opera, do Queen

Foi no dia 20 de agosto de 2011. Um dia antes do meu aniversário de 11 anos e um dia depois do meu avô ter falecido. Foi minha primeira grande perda. Obviamente, toda minha família estava meio sem saber o que fazer. Aquela bagunça de arrumar velório, resolver um monte de coisa para lá e pra cá até quase esquecer que está triste. Eu não quis ir ao velório, por isso, meu pai saiu comigo para passear durante todo aquele dia.

A gente deve ter saído bem cedo e dado uma volta pela cidade até ir em uma padaria para tomar café da manhã. Lá dentro, em uma das TVs estava passando na finada MTV, ou coisa parecida, o clipe de Bohemian Rhapsody, do Queen. Aquele vídeo que claramente era meio antigo, estranho e diferente, chamou minha atenção e, talvez para pensar em outra coisa, eu comecei a perguntar para o meu pai se ele sabia o que era que estava passando. Ele sabia e me explicou sobre a banda enquanto eu ficava meio fascinado com aquilo. Por sorte, ele tinha justamente o CD do A Night At the Opera no carro e logo que a gente entrou, ele o colocou para eu finalmente escutar aquela música.

Eu nunca tinha me ligado muito em música e só ouvia quando tocava no rádio, por isso aquilo deve ter sido uma revelação. Lembro claramente de ficar impressionado com aquelas músicas, desde o mais simples da melosidade de You’re My Best Friend até umas loucuras diferentes de qualquer coisa que já tinha ouvido como The Prophet’s Song.

Um tempo depois, nós fomos buscar meu primo da minha idade que também não ia para o velório. Naquele ponto eu já devia ser fã do Queen e nós passamos provavelmente a tarde inteira só escutando aquele disco várias vezes seguidas. Meu pai tentando distrair a gente e os dois moleques lidando com uma perda pela primeira vez conseguindo se divertir pelo menos um pouco com aquela música, querendo saber mais sobre o Queen e escutando as histórias do meu pai com a banda. É engraçado como as memórias daquela tarde são tão gostosas no meio de um dia tão triste, e como, quase 10 anos depois, eu ainda lembro direitinho da alegria de andar pela cidade com aquela música. Chegou de noite, a gente voltou para o apartamento da minha avó, o aviso de falecimento no elevador para lembrar o que deu para esquecer um pouco durante o dia. Nos dias seguintes, eu continuei a pesquisar sobre a banda e fiquei mais fã ainda, talvez como um jeito de me distrair durante aquele tempo.

Eu gosto bastante de pensar em como é quase matemático perder alguém tão importante em um dia e descobrir por meio da arte algo que me marcou tanto e por tanto tempo. É aquela coisa bem clichê: eu não trocaria um abraço do meu avô por todas as músicas do Queen, mas descobrir sobre a arte deles foi muito importante não só para diminuir a dor daquela perda, mas para me interessar por música (ou arte em geral). Eu posso nem escutar essas músicas tanto hoje, mas só por isso elas sempre vão ser importantes para mim.

Eu

--

--