O show de um Beatle — Minha experiência estética
Por: Pedro Amed
Podemos chamar de experiência estética tudo aquilo que percebemos través dos sentidos fisiológicos; assim, para que uma experiência seja completa, é necessário que usemos todos os cinco sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição. Passamos por experiências assim durante todos os momentos de nossos dias, algumas nos passarão despercebidas pelo seu caráter ordinário enquanto outras nos marcarão para o resto de nossas vidas.
A experiência estética mais marcante para mim foi o primeiro show que vi do Paul McCartney em 2010, foi, também, o meu primeiro grande show da vida. A sensação de estar no mesmo lugar que seu ídolo, de estar vendo e ouvindo ao vivo o mesmo cara que vem escutado durante toda sua infância, é quase que indescritível. A importância do Beatles na minha vida, e principalmente na minha infância, foi tamanha que caberia escrever um texto inteiro só sobre isso. Lembro-me que momentos antes, enquanto estava aguardando o início do show — espera que normalmente é longa em shows grandes como esse, podendo durar até mesmo 10 ou 12 horas se quisermos garantir um lugar bem na frente do palco — que estava nervoso, com uma ansiedade maior do que o comum, mas mal eu sabia que isso só ia se multiplicar quando finalmente o ex-Beatle entrou no palco ao som de Drive my car. A adrenalina era tamanha que o desmaio ali quase foi uma realidade.
Dos sentidos, como normal de experiências com música, a audição desempenhou um forte papel, mas como se trava de um show ao vivo, a visão competia pela importância sensorial. A mistura de ouvir aquele som tão familiar para mim, tão vivo e alto, e ao mesmo tempo ver ele, Paul McCartney, autor desses sons os produzindo a poucos metros de mim, foi de uma energia imensa. Não é possível medir nem comparar a felicidade que estava sentindo. Além destes, o tato também tem seu papel nos shows ao vivo, principalmente quando se está na pista perto do palco, pois ali mais que qualquer lugar está concentrado um número gigantesco de outras pessoas que, assim como eu, estavam lá para passar por essa experiência. Assim, estar apertado com essas pessoas faz parte da composição da experiência, e mais que isso, cria um sentimento de pertença, de unanimidade; todos lá partilham do mesmo amor que tenho pela música e pelo artista.
Depois disso fui a vários outros shows que me marcaram, inclusive fui em mais dois shows do Paul no Brasil — em 2014 e 2017 –, mas nenhum foi ou será tão especial para mim quanto esse primeiro show que vi aos 11 anos junto de meu pai.