O Tubarão Sorridente que se Perde dentro da Pele

Talissa da Cunha Gracio
Iandé
Published in
2 min readOct 17, 2017

Eu gosto muito de desenhar no meu braço. Escolho braço por pura praticidade: é o mais perto da mão. Porque desenho não sei. Mas me dá uma sensação de companhia. Sensação de quando a aula acabar, os carros saírem do estacionamento e os ônibus partirem do ponto, ainda vai ter um tubarão sorrindo pra mim, logo ali. Provavelmente, eu comecei com isso em alguma aula que não estava me prendendo e eu, provavelmente, senti a necessidade de dar uma forma física pro que tava na minha cabeça. Até que um dia, as pessoas começaram a vir até mim e falar que não sabiam que eu tinha feito tatuagem. Então, claro, eu mostrava pra elas e elas entendiam o engano. Porém, algumas pessoas me perguntavam por que, se eu desenhava todo dia e praticamente os mesmo desenhos, eu não os tatuava logo. Dessa forma, eu não teria o trabalho de fazê-los todos os dias. E, na verdade, eu nunca tinha pensado muito sobre isso. Mas quando eu pensei, eu descobri que o motivo pelo qual eu não me tatuava era exatamente porque seria permanente. Aquilo me fazia eu me sentir presa. Desenhando eu podia ter coisas diferentes todos os dias. E não era trabalho nenhum. Era um momento de criação; um momento que eu parava pra me dedicar àqueles que garantiam estar ali pelos próximos dias. Até porque a caneta era permanente. Aquilo não sai nem com aquelas buchas que seu vô tem no box. Mas eu não me incomodava, mesmo com os desenhos ficando mais fracos.

Depois que eu pensei sobre isso e acabei descobrindo um pouco sobre mim, eu cheguei nessa personagem que faz exatamente a mesma coisa, porque não tem uma boa relação com o permanente. Pensei que, somente por essa característica, a personagem já diria muito sobre si. Na história que eu imaginei, ela estaria dizendo muitas coisas não somente sobre ela mas sobre como o relacionamento dela com esse homem está. Sutilmente, como um desenho que se perde dentro da pele.

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