O VAZIO DO CORPO

Giovanna Imperatore
Iandé
Published in
3 min readApr 18, 2018

Em meio a um borrão de lembranças e sentimentos

Um corpo eternizado

Eu não senti quando ele me tocou pela primeira vez

Meu corpo estava frio

Seus dedos eram ásperos

Suas mãos apertavam meu corpo

Como se eu fosse uma boneca

Como se eu não sentisse

Seus braços me prendendo

Eu não conseguia me mexer

Eu não senti quando ele tirou a minha roupa

Eu não senti quando ele arranhou meu corpo

Eu sentia tudo

E nada ao mesmo tempo

Devagar

E depois rápido

Rápido demais

Para que eu pudesse fazer alguma coisa

E devagar o suficiente

Para que eu sentisse seu corpo pesando contra o meu

Eu não consegui fazer nada

Eu não consegui dizer nada

“É só falar não”, eles dizem

Mas como falar não quando você não sabe o que está acontecendo

Como faze-lo parar?

Como esquecer?

Como superar?

Eu não consigo respirar

Eu não consigo falar

Eu não consigo me mexer

Eu não consigo sentir o meu corpo

Eu não consigo faze-lo parar

Eu sabia que aquela noite ficaria eternizada no meu corpo

Como uma pintura

Porém não bela, e sim sombria

“Sua primeira vez deve ser memorável”

E a minha foi

Mas não do jeito que deveria ser

Não como nos ensinam

Não como nos contos de fadas

Não como nos filmes

As vezes eu ainda me lembro daquele momento

Eu ainda não consigo sentir meu corpo por inteiro

É como se uma parte minha ainda estivesse presa aquela noite

Aquele momento

Eu sentia tudo e nada ao mesmo tempo

Eu tentava esquecer aquele primeiro toque

Mas era quase impossível

Eu ainda conseguia sentir seu corpo pressionando o meu

Era como se eu nunca tivesse saído daquele quarto

Como se meu corpo ainda estivesse preso àquela cama

Sem conseguir se mexer

Era como se…

Se eu me mexesse

Seria tornaria real

Talvez se eu ficasse ali parada

Tudo aquilo sumiria

Mas não foi o que aconteceu

Aquele momento nunca sumiu

E eu acabei sumindo

Me perdendo

Em meio a um borrão

De lembranças e sentimentos

Um borrão do corpo

Acho que a violência está impregna nos humanos.

Atos violentos são inevitáveis.

E quando eles acontecem.

Não há nada que você possa fazer.

Porque?

Porque você está tão acostumado

Com a violência

Que nem percebe

Até que seja

Tarde demais

Um corpo vazio.

O que ficou em mim

Foi o vazio

O vazio do corpo

Mas talvez

Tenha sido minha culpa.

Afinal,

Eu não disse não.

Eu não disse nada.

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