Passeio na montanha russa havaiana

Julie Herck
Iandé
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4 min readApr 13, 2018

Por Julie de Toledo Herck

Imagem ilustrativa do filme Lilo & Stitch.

A origem etimológica da palavra estética (ou aisthesis, em grego) implica “perceber com os sentidos”. Entretanto, numa concepção moderna de tal palavra, segundo Kant, seria uma teoria dos efeitos produzidos em nossa sensibilidade subjetiva por por criações igualmente subjetivas, em outras palavras, os impactos de certas experiências sobre nós.

Desde pequena eu possuo enorme apreço pelo mundo da animação e seus inúmeros filmes, curta-metragens, serie televisivas e mesmo os animes japoneses. O desenho em movimento sempre me intrigou, afinal, como poderia um desenho ganhar vida e entrar em ação? Essa possibilidade era, e continua sendo, algo que me causa admiração.

Minha infância foi profundamente marcada, principalmente, pela animação Lilo & Stitch. O longa-metragem da Disney, dirigido por Dean DeBlois e Chris Sanders, teve seu lançamento no Brasil em 28 de Junho de 2002. Depois da época conhecida como “renascimento da Disney”, que que se deu entre 1989 e 1999, quando os Estúdios da Disney se voltaram a produzir animações de grande sucesso baseadas em histórias clássicas, como A Pequena Sereia, Aladin, Pocahontas, Mulan, Hércules, etc, o presidente da empresa, Michael Eisner, teve a ideia de investir em um filme mais barato, utilizando de um personagem já existente, Stitch, criado em 1985 para um livro que não chegou a ser produzido, exigindo apenas a alteração da trama e do roteiro.

Lilo e Stitch surtando após perceber que está em uma ilha cercada pelo mar.

Por minha grande paixão pela animação e, em especial, pela criação de personagens, uma das coisas que mais me impressionou no filme foi a questão da estética deles, que é bem diferente do padrão em pregado em A Bela e a Fera, por exemplo, lançado apenas 11 anos antes. As personagens são mais próximas do modelo de corpo real, não possuindo uma silhueta fina como a de Ariel, de A Pequena Sereia, mas marcando elevação da barriga, com pernas grossas, braços mais definidos, além do rosto ser ovalado, olhos mais afastados e puxados, nariz grande. Essa estética me é atrativa por fugir do universalmente conhecido padrao americano/europeu de beleza, mas ressaltando-a em diferentes estilos. Para buscar suas referências, tanto visuais (na estrutura física dos havaianos) quando conceituais (o significado de família: “Ohana”), a equipe viajou para a ilha de Kauai, no Havaí, cenário inédito para as produções.

Nani Pelekai, irmã mais velha de Lilo.

Outra característica da importante da animação é a relação das irmãs Nani e Lilo. As Pelekai demonstram uma verdadeira relação de irmãos, na qual ocorrem brigas e discussões constantes mas há um forte sentimento de união e dependência. Apesar de haver de fato um interesse romântico entre Nani e David, o elo principal da história é a família, que segundo o conceito havaiano “Ohana”, significa jamais abandonar ou esquecer. Isso mostra que uma boa trama não precisa envolver o protagonista romanticamente.

Imagem que ilustra o relacionamento das irmãs Nani e Lilo.

A arte de Lilo & Stitch teve o cenário baseado na aquarela, aspecto comum a Disney, e o traço foi inspirado no estilo peculiar de Chris Sanders, o co-diretor. Em questão de animação, é perceptível sua fluidez, desde o balançado no andar, até o movimento dos cabelos.

A temática da ilha e a estética diferenciada foi novamente empregada pela Disney na superprodução Moana: Um Mar de Aventuras (também uma de minhas animações preferidas, tanto pela questão estética, quanto pelo tema mitológico — que é outra de minhas paixões), lançada em 23 de Novembro de 2016, cuja estética é incrivelmente semelhante a aplicada em Lilo & Stitch. Pode-se até mesmo afirmar que Moana é uma versão 3D do mesmo modelo.

Lilo e Stitch dançando ao som de Elvis Presley.

Ps: o título do post faz menção a uma das músicas que fazem parte da trilha sonora do filme entitulada "Hawaian rollercoaster ride".

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