“Pertencer com os sentidos” — o show.

Giulia Ogera
Iandé
Published in
2 min readOct 15, 2018

Sou uma pessoa acumuladora, tenho essa mania e esse apego material as coisas que me remetem a momentos especiais da minha vida. Hoje, em meu quarto, me vejo em meio a um amontoado de papéis, ingressos, fotos e objetos que materializam parte de minhas memórias. A princípio, gostaria que, como um todo, eles fossem o protagonista da minha experiência estética, mas não encontrei forma de juntar tantas informações de modo que encontrassem um sentido harmônico e não se tornassem apenas um híbrido desprovido de emoções.

O primeiro show que eu fui.

Dessa forma, me debrucei sobre a outra face desses materiais. Todas essas memórias, tenham elas forma de papel, de plástico ou de madeira, remetiam a alguém ou à algum momento, no qual eu não estava sozinha. Essa reflexão me transportou para muito além, passei a refletir sobre todo o percurso que me trouxe até aqui e, mais que isso, para como eu me sinto estando aqui. Dessa forma, escolhi o conto “Pertencer” de Clarice Lispector, pois ao reler esse conto recentemente, me veio um daqueles momentos onde, sem querer, você passa por um esclarecimento repentino. Acredito que o conto seja uma boa justificativa para os impulsos que me levaram a construir cada uma das minhas memórias. Encontrei o meu pertencimento e meu prazer em viver com minhas companhias.

“perten(seres)”

Minha família, meus grandes amigos, minhas antigas e atuais paixões fizeram que as força desses vídeos fosse muito mais intensa em mim do que nas imagens. Escolhi vídeos de shows que fui com as pessoas que, até hoje, são as que deixaram as marcas mais profundas em mim. Acredito que o show é um momento que expressa muito bem a frase “pertencer é viver”, em meio àquela massa de gente, você se torna parte de um todo que se reúne por motivos similares; num espaço no qual a comunicação verbal se torna praticamente impossível, as trocas acontecem através de olhares, gestos e, possivelmente, sorrisos e afetos com as pessoas que te cercam.

Os vídeos dizem muito sobre mim. Expostos numa ordem cronológica, eu visualizo nos fragmentos as pessoas que estavam presentes desde o início, quando algumas delas surgiram em minha vida e quando outras se foram. O mesmo, com o meu gosto musical, aquelas bandas e artistas que ficaram para trás e aqueles que eu achei que jamais presenciaria. Uma dedicatória a construção do meu “eu” através de um recorte das minhas experiências estéticas.

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