Ponto de Partida

por Carolina Fung C. B. dos Santos

Carolina Fung
Iandé
2 min readNov 3, 2019

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Naquela noite eu me desfiz, me refiz, me fiz mais eu mesma do que eu jamais havia sido. Foi como se meu peito tivesse descolado do resto do corpo e se jogado em queda livre em um abismo que não havia um fim aparente.

A maior crueldade, tudo que eu sempre abominei, aquela era eu. Fui eu que fiz aquilo, fui eu que causei tamanha dor em suas palavras e tamanho rancor em seu peito. Não quis ouvir, não quis olhar. Minhas palavras queriam se manter firmes e ir embora, mas se eu a olhasse… Ah, meus olhos diziam exatamente o contrário. Eles gritavam em desespero, pedindo por favor fique, por favor. Eu te amo.

Foi então que eu percebi. Pela primeira vez eu havia dito aquelas palavras pra mim mesma. Elas não haviam sido postas pra fora, não haviam se tornado ondas sonoras, elas estavam ali, ecoando na minha mente enquanto eu escutava tudo que meu peito implorava para não ouvir. A mente gritava, o peito gritava enquanto caia no abismo, os olhos ardiam e viravam nascentes e meu corpo inteiro cantava em uma só voz uma música melancólica pedindo por favor me escute, não escute essa pessoa que se fez presente no momento de indecisão.

Era só isso, eu estava assustada e indecisa. Tudo era novo. E em minha indecisão eu havia machucado aquela por quem esperei durante tantos anos, durante tantos sonhos e tantos pesadelos. Ela falava firmemente com a voz trêmula e com um ar de decepção.

E então eu disse.

Eu berrei e finalmente entendi.

Eu a amava. Não tinha escapatória, estava exposto em todos os meus gestos e palavras. Mas ela não acreditou. Eu implorava pra ser ouvida, mas parecia que da boca nenhum som saia.

Passei a noite inteira inquieta, pensando em como desfazer toda a crueldade que eu havia causado àquele coração.

Fui dormir tarde.

Pensei em você.

Na verdade não conseguia parar de pensar em você.

De como eu te machuquei com as minhas palavras, com as minhas ações, com o meu jeito estranho de ser.

Não é normal isso pra mim.

Eu nunca tive que lidar com algo assim.

Por favor me entenda.

Pensei em você.

Pensei no seu sorriso e em como cortou meu coração te ver chorando em meus braços.

Logo você, tão maior que eu, se fez pequena a ponto de caber inteira em meu abraço.

Aquilo me quebrou.

Tenho medos, muitos deles.

Inseguranças, mais do que eu queria ter.

Preconceitos, que nunca pensei que teria.

Mas acima de tudo, eu não quero nunca mais te ver daquele jeito. Me sentir impotente da forma que senti.

Eu te amo.

Te amo.

Amo até demais.

Por favor, entenda minha confusão. Compreenda meus medos, inseguranças e releve meus preconceitos.

Por favor.

Me espera?

Eu chego já.

Eu e Gabi no nosso primeiro mês de namoro | Foto: Natalia Pupo

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Carolina Fung
Iandé
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