PORTINARI, 29 de dezembro.

Gabriela Cavalcante
Iandé
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3 min readOct 15, 2018

Gabriela Cavalcante Lisbôa da Costa

A minha admiração pelo artista Cândido Portinari começou quando eu tinha 15 anos, estava no primeiro ano do ensino médio em uma aula de literatura sobre modernismo brasileiro. A aula na realidade era sobre Graciliano Ramos e o seu livro “Vidas Secas”, mas para ilustrar a situação da família de retirantes retratada no livro, o meu professor utilizou a obra “Os Retirantes” de Portinari.

Entre os assuntos que mais gosto está o interesse pelo social brasileiro, em específico o nordestino e nortista, já que cresci em uma família que é de Belém do Pará já tenho origens que justificam um maior interesse. Como também tenho interesse pelas artes em geral, principalmente as artes visuais e literárias, por isso, a junção de Graciliano e Portinari sempre me tocou muito.

Com o passar dos anos fui me aproximando mais das artes visuais e pesquisando sobre os artistas brasileiros e me lembrei de Cândido Portinari, decidi buscar sobre a sua vida pessoal, eis que descubro que ele nasceu no dia 29 de dezembro, que por coincidência é o mesmo dia em que eu nasci. Era o que bastava para que eu me sentisse mais íntima dele e de suas obras, ao ler mais sobre a sua vida, descobri que uma das suas motivações de produzir arte era o cenário brasileiro de extrema pobreza de alguns lugares; ele possuía grande apreço por trabalhadores rurais, retirantes, descobrimento do Brasil, enfim, um apaixonado pela cultura brasileira, assim como eu.

Ocorreu de no ano passado no primeiro semestre da faculdade eu precisar ir ao MASP (Museu de Arte de São Paulo), por mais que eu sempre tenha tido essa relação intimista com Portinari, eu nunca havia pesquisado onde suas obras estavam localizadas nos museus brasileiros. Ao chegar no museu me deparei com diversas obras de arte que durante todo meu ensino médio eu só tinha tido a oportunidade de ver por uma tela de computador (isso porque eu morava em Campinas, que apesar de ser muito perto de São Paulo meus pais raramente me traziam para cá). Conforme fui andando foram chegando obras de artistas brasileiros como Anita Malfatti e Di Cavalcanti, mas quando me deparei com os dois quadros feitos por Portinari que mostram os retirantes, eu simplesmente fiquei paralisada e de certa forma não acreditava no que estava a centímetros de distância de mim.

A esquerda “Criança morta — 1944” e a direita “Os Retirantes — 1944”

Descrever com palavras o que eu senti seria impossível, mas ver a obra pessoalmente, ver os detalhes das pinceladas deixadas por Portinari, saber de todo o contexto colocado nessas telas, veio como um tiro no meu coração e naquele momento meu corpo só conseguiu responder com lágrimas. Eu chorei ao ver uma obra que por anos admirei e li a respeito. Devo ter ficado longos minutos apenas parada admirando tamanha beleza, e com beleza não me refiro somente ao padrão estético do modernismo do artista, me refiro ao que essa obra representa, e em especial QUEM ela representa.

Nessa hora eu compreendi com corpo e mente o propósito da arte.

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