‘Psiu’ chama a atenção, ‘psiu’ cala…

Minha experiência na exposição ‘Psssiiiuuu’… de Anna Maria Maiolino, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake

Isadora Laviola
Iandé
2 min readMay 16, 2022

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O “Psssiiiuuu” de Anna Maria Maiolino imediatamente arrebatou minha atenção. Fui atraída pelos ouvidos, surpreendida pelos olhos, e encantada pelo nariz.

Os gritos, lamentos e gemidos — que se confundiam entre dor e prazer — me receberam na exposição e me fizeram arrepiar durante toda a experiência.

Ao entrar, fui despida sem tirar a roupa, feridas foram rasgadas em mim sem o uso de uma faca. Maiolino explora de maneira perspicaz o nu de diversas formas, com a desnudez da pele, o abandono de disfarces, a dispensa de eufemismos e a exposição de defeitos e fragilidades do mundo.

“Psssiiiuuu” me provocou, me levou à limites: do compreensível, do aceitável, do tolerável, do “engulível”. Mesmo sem que eu pudesse compreender por completo os temas abordados, o significado por trás de obras tão diversas. O que importa não é o que Maiolino tentava me dizer, mas o que ela despertou em mim: um novo olhar para o mundo, fora do confortável, além da minha vivência, uma indignação que, se habitasse dentro de cada ser humano, mudaria o mundo para melhor.

A identificação com as obras de Maiolino foi inevitável. Seja por intenção da artista ou por delírio meu, logo consegui enxergar meus traumas, temores e angústias nas formas mais abstratas. Senti dor, medo, tristeza, nostalgia e muito mais, a cada obra que observava. Meu coração pareceu ser arrancado do peito e posto nas telas e esculturas.

Estive desperta durante toda a experiência, Maiolino manteve alertas todos os meus sentidos. Impossível calar os gritos internos e também os que ecoavam das caixas de som. Quis fechar os olhos para as imagens assustadoras que eram despertadas em minha mente, assim como o mundo fecha os olhos para a fome, a desigualdade e a dor alheia. Maiolino também explora as capacidades olfativas do espectador, como na argila manuseada com esmero, ou assim eu imagino.

A comida, material usado em algumas obras, provocou meu paladar e meu olfato através da memória, pois os materiais expostos eram apenas cenográficos. O tato também foi sentido pela lembrança de experiências passadas, apenas de olhar pude sentir muitas obras e imaginar o que a artista sentiu ao produzi-las — que o duplo sentido seja percebido na segunda metade desta frase.

“Psssiiiuuu” me calou, mas, por dentro, saí muito mais desperta do que antes de atender ao chamado.

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