Quanta saudade suporta o amor?

Gil Carvalho
Iandé
Published in
4 min readOct 16, 2017

por Gildevan Carvalho

Em junho de 2003, conheci alguém que mudou a minha forma de ver o mundo, aquela que me ensinou o significado de um abraço, de um sorriso e que se tornou a minha melhor companhia!

Quando a conheci eu tinha 14 anos e ela 12. Costumava ficar muitas horas na internet, em jogos online, ou conversando com pessoas de vários lugares. Certo dia, reparei que havia alguém no chat com um username extremamente parecido com o meu, e resolvi conversar. Mal sabia eu que a partir daquele momento, nos tornaríamos grandes amigos! Naquela época era incomum cultivar “amizades virtuais”, e meus amigos costumavam questionar como eu podia considerar como amiga alguém que não conhecia pessoalmente. A verdade é que a resposta era fácil: com ela eu tinha as melhores conversas, que sempre duravam incontáveis horas.

Até o terceiro mês de amizade eu não havia visto nenhuma foto dela, e não me importava muito com isso. Certo dia, porém, ela acabou me enviando uma fotografia. Acredite, naquela época a maioria das câmeras tinham uma resolução horrível, e mesmo assim eu tive o vislumbre do seu lindo sorriso! Bom, não vou dizer que foi amor à primeira vista, pois a minha admiração e meu coração já eram dela antes mesmo de ver aquela foto! Continuamos conversando muito e partilhando nosso tempo, sonhos e expectativas.

Ao completar pouco mais de um ano de amizade, chegamos à conclusão de que estávamos completamente envolvidos e resolvemos namorar. Até então não fazíamos ideia da complexidade de um relacionamento à distância, eu morando em Salvador, ela em Rondonópolis. Para ser mais preciso, entre nós haviam 2.500 km, a falta de grana, o descrédito da família, a impossibilidade de viajar e outras tantas dificuldades! Foi aí que, como bons cristãos, resolvemos submeter as burocracias e complexidades à fé, afinal de contas o que poderiam fazer dois adolescentes diante de tantas barreiras?

Apesar das pessoas duvidarem do namoro, nós levávamos tudo muito a sério, e como na maioria dos relacionamentos, terminamos e voltamos algumas vezes. O curioso é que independente do motivo pelo qual decidíamos colocar um ponto final, a amizade permanecia a mesma! Entre idas e vindas, namoramos durante 4 anos, isso sem nunca nos encontrarmos pessoalmente! No fim do terceiro ano milagrosamente alguns amigos compraram nosso projeto e então fui encontrá-la.

Quando nos encontramos o tempo parecia ter perdido o sentido, a palavra “ansiedade” já não dava conta de descrever o que estava sentindo e de repente aqueles quatro anos e toda aquela distância já não estava mais entre nós! Ela estava ali diante de mim, e cada minuto de ausência foi convertido em momentos preciosos! Foram dias incríveis.

Voltamos às nossas rotinas, e aproximadamente um ano após o encontro, nos desentendemos. Agora que sabíamos mais do que nunca como precisávamos estar perto um do outro, a distância pesou mais do que em qualquer momento dos anos anteriores e por esse e outros motivos terminamos.

Nos anos seguintes, mantivemos apenas a nossa amizade, pois cada um seguiu por caminhos diferentes: Depois de um tempo, ela assumiu um relacionamento e eu mesmo também me envolvi com outras pessoas. As namoradas sempre acabavam ouvindo através de pessoas próximas sobre aquele relacionamento “impossível” que tive, e insistiam em dizer: “acho que você ainda gosta daquela menina”. Eu sempre negava, pois acreditava que já não gostava e que tudo que havia restado era a nossa amizade.

Continuamos sendo amigos, mas, depois de três anos, em uma de nossas conversas rotineiras, quando ambos estavam sós, começamos a perceber o quanto um fazia bem para outro e reatamos. As coisas fluíram bem no início, mas pouco tempo depois percebemos que aquela era uma decisão precipitada, que não estávamos prontos. Nos desentendemos novamente e resolvemos não conversar mais. Pelos meses seguintes a única coisa que nos restou em comum foi o silêncio, e eu já não tinha notícias dela e vice-versa. Eu duvidava que ela voltaria atrás em sua decisão e que pudesse fazer algo que me provasse que naquela altura um relacionamento valeria a pena. No fundo ela sabia que deveria fazer algo que fosse além de palavras para que eu pudesse voltar a acreditar…

E ela fez! Viajou aproximadamente 1800 km, para passar menos de 42 horas ao meu lado. Tivemos uma longa conversa, choramos, rimos, e no final reconhecemos algo que já estava claro fazia algum tempo: somos muito melhores juntos!

Desde a nossa conversa até o dia em que essa história foi escrita já se passaram 4 anos, 8 meses, 12 dias e 4 horas que estamos juntos. Casamos a pouco menos de 4 anos e nosso relacionamento está longe de ser perfeito, porém todas as vezes que “acordamos com o pé esquerdo” ou algo está errado nos lembramos de onde viemos, o quanto lutamos por esse amor e o fato de que, no final das contas, ele só depende de nós ❤

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