"Quarentenando"

Por Natália Rodrigues Dourado

Natália Rodrigues Dourado
Iandé
5 min readApr 15, 2020

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Era mais uma quinta-feira comum de aulas na FAAP, acordei, fiz minha rotina como estava acostumada todos os dias pela manhã e fui para a faculdade. De quinta costumávamos ter aula de Rádio II — Produção Publicitária e Marketing II — Estratégias de Produtos e Marcas.

Chegando na FAAP, fui para uma reunião de trabalho em grupo, pois o professor Marcelo Abud de Rádio havia dispensado a mim e ao meu grupo já que estávamos com todo o trabalho dele pronto e entregue. Fizemos a reunião na sala de estudos ao lado da biblioteca, e comecei a reparar o “burburinho”. Poucas pessoas circulavam pelo campus, algumas de máscara…a hora passou e chegou o momento da aula de Marketing com o professor Roberto Bertani.O caos já estava sendo instalado.

A aula foi dispersa, todos falando, pensando e discutindo sobre o novo inimigo que nos assombra desde então: o COVID-19. Naquela mesma tarde de quinta-feira foi decretada a suspensão das aulas nas instituições de ensino superior. Daquele dia em diante tudo só piorou. Escolas, shoppings, comércio no geral, empresas grandes, empresas pequenas, praticamente tudo parou devido ao novo vírus. Alguns continuam trabalhando, mas grande parte das pessoas está em casa. Quem não pode ou não consegue, está tomando os devidos e necessários cuidados, reduzindo horas de trabalho, número de funcionários ou medidas do tipo…além é claro, de muita higiene a todo momento.

Independentemente de todas as notícias, fake news, decisões políticas no geral, questões nacionais ou mundiais, venho aqui por meio deste texto relatar a minha experiência com essa quarentena. Antes de mais nada um agradecimento aos profissionais que estão “segurando a barra” aí fora para que possamos permanecer aqui dentro, para que tudo isso acabe o mais rápido possível. Profissionais da área de saúde, profissionais dos serviços essenciais, todos que estão arriscando suas vidas diariamente nas ruas, sem exceção, deixo aqui registrado meu muito obrigada!

Bom, agora vamos a como tudo isso tem sido pra mim… confesso que a ansiedade, aflição, desespero, nervoso e a tristeza estão constantemente aparecendo nessa minha jornada. Já sou uma pessoa muito intensa, que vive cada momento entregue completamente àquilo e não seria diferente agora. Ansiosa demais também, muitas vezes sem razão específica, ansiosa por natureza mesmo, desde sempre. Os outros sentimentos, dentre eles os citados acima e outros que nem trouxe à tona, ocorrem ao longo de nossa vida em diversos momentos, por diversas pessoas e/ou situações mas dessa vez é diferente. Dessa vez por mais egoísta que alguém seja, está sofrendo pelo todo. Pela situação por completo, pelas pessoas que estão sem trabalhar ou pelas que estão trabalhando e correndo sérios riscos diariamente.

Nessa nova onda de medo, sinto-me impotente (por mais que eu esteja fazendo tudo que posso por mim e pelos outros), fazendo doações, ficando em casa e só saindo se extremamente necessário e tomando muitos cuidados, dentre tantas outras coisas, mesmo assim, sinto que isso nunca vai terminar, apesar de racionalmente saber que alguma hora vai. Os sentimentos ruins tomam conta, a falta de encontrar pessoas queridas dói o coração, a consciência pesa por quem se arrisca e a alma sente-se definhada.
Apesar de tantas coisas desagradáveis, sinto que devo expressar as boas também. Tenho conversado e dado mais atenção aos meus amigos, tenho tido tempo para refletir sobre minha vida inteirinha…passado mais tempo com meu filho (meu pastor-alemão chamado Iron no caso) e meu sobrinho o Border Collie de nome Héctor, admirado mais a natureza, feito meus trabalhos e coisas da faculdade no geral com mais calma, mais imersa nos assuntos e com muito mais dedicação do que nunca, porque acredito ser necessário para o momento. Tirando itens para doação, reciclagem, coisas que não uso e pretendo dar para minhas irmãs ou amigas por exemplo. Os dias estão esquisitos, por mais que tentemos fazer uma rotina claramente não é a mesma coisa mas estou tentando “tirar o melhor do pior”.

As possibilidades de coisas para se fazer na quarentena são infinitas, é hora de organizar a vida em todos os sentidos possíveis. A casa, o quarto, a garagem, a cabeça, o coração, as nossas relações, nosso físico, tudo que tiver pra organizar (eu como já sou fã de organização e limpeza) eu estarei firme e forte organizando. Tenho dias super negativos e “pra baixo”, outros super alegres e positivos, ouço conselhos de amigos (porque afinal estamos todos na mesma aflição), faço exercícios físicos, faço o dia render de alguma forma sempre que possível. Como realmente seria caso isso não estivesse acontecendo, dias bons e dias ruins…porque afinal a vida com ou sem quarentena é dessa forma, nem sempre estaremos bem e nem sempre estaremos mal!

Portanto posso dizer que o COVID-19 pode tentar nos derrubar mas isso não acontecerá de forma alguma. Entrou em nossas vidas pra bagunçar tudo e no final estaremos com tudo mais organizado do que nunca quando tudo isso acabar. Entrou em nossas vidas para nos afligir e sairemos dessa com o coração muito mais tranquilo, grato, transformado, maduro. Acredito que nada (nada mesmo) nessa vida é por acaso, tudo acontece por uma razão, um motivo, mesmo que não enxerguemos no momento em que tudo está acontecendo. Então acredito naturalmente que tudo isso é por algo maior, e espero que dentro desse “algo maior”, esteja o fato se sairmos de tudo isso mais fortes, corajosos, unidos, amáveis, empáticos e felizes.

A experiência é nova, às vezes mais fácil e outras vezes mais difícil, mas o importante é a lição, o aprendizado, o amadurecimento e a construção que não somente eu devo fazer dentro de mim mas todos nós, cada um no seu próprio tempo e da forma como achar melhor, mas sabendo que estamos juntos, na ansiedade e na tristeza, mas também na empatia e no amor, e podem ter certeza que um dia, (esperamos profundamente que esse dia esteja bem próximo), tudo isso não passará de uma grande aventura a ser contada.

Foto tirada por mim em um momento de reflexão no sítio da família nesta quarentena.

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