‘Rebel Girl You Are The Queen Of My World’
A luta do feminismo está longe de acabar e vou te explicar o por quê
Era uma vez um grupo de garotas conversando tranquilamente no período de tarde após as aulas no ensino médio. Elas estavam na escola para o plantão de dúvidas com os professores e esse período nunca tiveram muitas regras, até uma das garotas aparecerem de regata (coisa que os garotos sempre faziam, mas nunca aconteceu nada). Desde então as meninas deveriam usar uniforme na escola mesmo fora de período de aula.
Até aí OK. Eram só mudanças mas tudo bem, estávamos na escola, deveríamos usar uniforme né. Ai ai… e como éramos inocentes. Mas, enfim, os dias se passaram e um outro dia fomos notificadas de que não poderíamos mais usar calça rasgada. Isso nunca foi regra da escola. Não poderíamos usar short “mais de 4 dedos acima do joelho” (mesmo que os meninos usassem e ninguém se importasse), mas calça rasgada? Para uma escola conhecida na cidade como “pra frente”, “que dá liberdade aos estudantes” e tudo isso? A gente sabe que essa regra era só para as meninas. E quando questionamos para encontrar qualquer resposta coerente, a coordenadorA disse que “alguns rasgos distraíram os alunos”. E não sei se era o medo de suspensão, o período de vestibulares, o nervosismo com tudo, não fizemos nada sobre.
Constantemente garotas são mandadas, interrompidas, diminuídas, assediadas e isso não é de agora. E por que não fazemos nada sobre? Ativamente? Só ir lá e mudar esse sistema?
Assisti hoje o filme Moxie, que foi inspirado no livro de mesmo nome, onde uma garota do ensino médio começa uma fanzine feminista inspirada em incríveis mulheres de sua vida (e na incrível banda Bikini Kill, autora do trecho utilizado como título dessa experiência estética). E como eu queria que na minha infância eu conhecesse histórias como essa.
Constantemente achamos que a luta do feminismo é algo do passado, algo que já foi resolvido, mas nós, mulheres, que a cada dia notamos uma olhada na rua, que um homem igualmente qualificado ganha prioridade, que altos cargos geralmente não são de mulheres, que alguém gritou pra você quando você passava… enfim, esse assunto não morreu e, pelo contrário, continua muito pertinente.
O mundo melhora mais a cada dia, mas nossos passos estão tão lentos. E muitos diriam sobre o quanto hoje em dia estamos melhores do que no passado, mas isso não descarta o quando ainda temos que andar para alcançar um mínimo de igualdade. Moxie se tornou uma inspiração para mim. Uma inspiração de mudança local. Podemos começar a mudar desde nossos ciclos mais próximos. Eu já fui mandada, interrompida, diminuída, assediada, e sempre tive medo de falar sobre minhas experiências pessoais sobre tudo isso. Esse filme me trouxe um túnel do tempo que eu ainda não sei se quero entrar, mas sei que preciso. Nós, mulheres, temos o direito de falar sobre essas coisas, mas quando falamos de nossa experiência, a sociedade automaticamente diz que estamos tentando chamar atenção. E devemos dar um basta nisso.
Alguns anos atrás o incrível movimento #MeToo se instaurou no Twitter ajudando muitas mulheres a se empoderarem e não é porque a trend acabou que devemos parar de lidar com tudo isso. Assuntos mudam, mas não morrem. A pauta feminista vai e volta na internet, mas ainda temos que lidar com isso diariamente independente do ibope. Assistir Moxie hoje reacendeu meu fogo por justiça e igualdade, que nunca se apagou, mas acho que devido a essa quarentena, eu estou presa não só em casa, mas também em minha cabeça. Não podemos deixar de lembrar de tudo que vivemos e de tudo que outras mulheres passam diariamente. Não é a aparência, não é a fala nem o jeito de falar, não é o jeito que se veste nem que se pinta, não é nada além de uma mentalidade patriarcal que permeia até em quem tenta fugir de tudo isso e a luta para o fim desse pensamento arcaico deve perdurar.
Somos uma causa válida. E sempre temos uma voz.
