Reflexos de uma Despedida
O ano é 2018. O acontecimento é uma morte, um adeus. Ou melhor, a primeira despedida de um familiar querido. A história é de afeto, de uma relação linda entre neto e avô. Relação essa que foi cultivada à mil chaves, com carinho e dedicação. O spoiler é que não é, ou, pelo menos, não deveria ser triste.
Agosto de 2018, alguns dias após meu aniversário de 17 anos. Fernando Amorim, também conhecido como “Seu Amorim”, no auge de seus 96 anos de idade. Um senhor de saúde quase que perfeita. Com alguns problemas de memória, normais para a idade avançada. Um homem sempre acompanhado de emoções, de choro fácil. Feliz. Que, como ele mesmo gostava de dizer, não tinha do que se queixar.
Uma infecção urinária. Coisa pouca, fácil de resolver. Alguns dias de internação. A melhora esperada. A volta para casa. A mudança de humor. A agressividade (esse não é o avô de que eu me lembro). A piora. A infecção generalizada. A reinternação. Os meus ânimos a flor da pele. A UTI. A família reunida. A preocupação. O falhar de órgãos. O processo de aceitação. A despedida. A morte. O velório.
O velório. Me faltam palavras para descrevê-lo. As imagens, ainda frescas na minha cabeça, fazem parecer que foi mês passado que isso tudo aconteceu. Lembro de minha avó, agora viúva, antes das pessoas começarem a chegar, ao lado do caixão aberto, dizendo sobre como o meu avô partira em paz, sabendo que os netos, agora grandes, cuidariam de sua amada. Ouvir isso, no dia, me deu arrepios. Me fez pensar na morte de meu avô quase que como a mudança de protagonismo de uma história. Lembro também das flores, que chegavam em abundância e, com suas cores e beleza, faziam com que eu saísse momentaneamente da dor que sentia. Lembro das pessoas, que enchiam a sala de amor, carinho e respeito. Do choro, que inundava meu rosto e desentalava da minha garganta. E da constante emoção de ver que aquele avô, tão querido por mim, havia espalhado seu carinho e deixado um legado no coração de tantos outros.
Hoje, após algum tempo, não olho para tudo que aconteceu com pesar. A morte não tem que ser triste. Toda história precisa de um desfecho, e esse foi o fim da história do meu avô. Me emociono em pensar que, em seus noventa e seis anos de vida, ele experienciou coisas lindas, cultivou relações encantadoras e foi muito feliz. Agora, meu avô se faz presente em todos que tocou com seu jeito de ser. Para mim, ele é o exemplo de alguém que realmente viveu.