Ressocialização de uma pessoa que está se auto-conhecendo

Nós nunca estamos sozinhos

Laura Santana
Iandé
3 min readNov 15, 2021

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Por Laura Santana da Costa

Foto: Pinterest/autoconhecimento

Dois mil e vinte e um. Após um ano e meio de pandemia e reclusão total voltamos para as atividades normais do dia a dia, ao longo do tempo o contato interpessoal foi reduzido apenas às pessoas que moram na mesma casa, sem sair e conviver com o mundo real de forma ativa trouxe à tona diversos problemas mentais em que eu sempre ignorei. A jornada emocional em que vivi os meus dezoito anos em um ano e meio me levou a depressão profunda deixando diversas sequelas em mim e na minha família.

Em fevereiro de dois mil e vinte o primeiro caso de covid-19 foi registrado no Brasil, na época eu fazia cursinho pré-vestibular, a exaustão mental já estava aparente mas nada que não considerava incomum, a ideia de ficar apenas quinze dias recluso para evitar contaminações me parecia agradável: férias, descanso era algo que precisava, mas os quinze dias se passaram e foram para um mês sem contato com nenhuma pessoa, o desespero na população era evidente, todos sabiam que não ia durar apenas um mês e ninguém tinha coragem de falar, os dias foram se passando e quando me dei conta já era julho, o meio do ano e não fiz nada.

A angústia que estava acumulada em mim foi saindo aos poucos, atentando à todos que vivem na minha casa, resolvi voltar à terapia. Já na primeira consulta fui encaminhada para a psiquiatra, o choque foi grande, pois não era algo que esperava ou aceitava. Comecei o uso de medicamentos e sessões semanais com a psicóloga, e descobri que fui diagnosticada com essas doenças com apenas sete anos, foram doze anos acumulados que veio à tona ao mesmo tempo.

O tratamento começou, a quantidade de remédios comprados que não deram certo, a falta de contato humano, a solidão de estudar de forma remota e ficar o dia inteiro da cozinha para o quarto apenas piorava o quadro, mas por outro lado me confortava no monótono, aceitava que iríamos ficar mais tempo assim e me acostumei a lidar sozinha com meu problemas, a ansiedade já não era tão forte por conta de que não havia interação social e a depressão estava conseguindo conviver; o tempo passou e todos começaram a se vacinar, tudo voltando ao normal, o pensamento de ter que ver outras pessoas e conversar com elas me abalou, era algo bom, mas difícil.

Tentativas falhas de ficar em ambientes com mais de três pessoas me gera pânico, a ida ao mercado é algo assustador, os tremores nas mãos são algo mais evidente, a ansiedade que percorre meu corpo exala e todos percebem e ao olhar em meus olhos veem a depressão, pessoas desconhecidas perguntam se estou bem em meio de uma crise de pânico em que as lágrimas percorrem o rosto com uma rapidez que nunca consigo segurar, o difícil mesmo é acompanhar o ritmo das pessoas ao voltarem ao “normal”.

De fato, hoje percebo que sempre fui assim, apenas a forma em que expressava era não me comunicar com ninguém, com a terapia e os remédios todos esses sentimentos saem de forma incontrolável. Ao ser diagnosticada me possibilitou um processo de conhecimento pessoal, no qual estou aprendendo mais quais são os meus limites e como vou voltar à viver em sociedade, o processo é longo e lento mas sei que não estou vivendo isto sozinha, tenho pessoas ao meu lado que me apoiam e espero que ao escrever essa experiência que vai ficar para sempre em minha vida, possa ajudar alguém que está passando por esse mesmo problema, nós nunca estamos sozinhos.

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