SALVATION MOUNTAIN

eduardo matos
Iandé
Published in
3 min readOct 15, 2018

Estou deitado em uma sala grande com um sofá extremamente confortável. Deitada em meus ombros está essa garota que eu namorava. Estávamos assistindo “Na natureza selvagem”, filme preferido dela. Ela insistiu para que víssemos juntos e veio a ser uns dos meus preferidos também.

Assistimos o filme todo sem trocar uma palavra, totalmente concentrados, ela devia saber todas as falas e citações contidas no filme mas ela deixou eu ter minha própria experiência. Eu também não perguntei nada.

Salvation Mountain

Alex Supertramp conhece uma garota em um camping. Ela o convida para ir a um lugar chamado Salvation Mountain. Dá-se início a cena que mudaria minha perspectiva de vida e meu relacionamento. Lá eles conversam com um senhor chamado Leonard Knight, que provavelmente deve ser o ser mais sábio do planeta. Ele fala sobre sua vida e sobre acreditar no amor. Aquele momento me fez repensar muita coisa.

O filme acabou e ela me perguntou o que eu tinha achado do filme, eu fiquei em silêncio por alguns segundos e agradeci por ela ter me mostrado.

Leonard Knight

Por vários dias eu fiquei refletindo sobre aquela específica cena de menos de dois minutos mas que traz uma reflexão tão profunda. Procurei Salvation Mountain no google pra poder rever aquela cena e descobri que Leonard Knight não era um personagem, mas uma pessoa, a pessoa que fez aquele lugar e que sua fala não era apenas uma fala de roteiro mas o que ele acredita de fato.

Depois de uma semana eu terminei meu relacionamento, percebi que não entendia o que era o amor e não tinha “a sabedoria de amar de volta” que mesmo Leonard não tinha mas me vi em uma situação completamente confusa. O que eu queria pra minha vida? Eu realmente amava ela? Ela realmente me amava?

Ela tinha depressão, eu era quem a lembrava de tomar seus remédios todos os dias. Ela me fazia bem, ela dizia estar feliz comigo, será? No começo sim, mas depois eu não soube lidar com toda aquela carga, eu era uma criança covarde. Então eu fugi. Disse que não sabia o que estava fazendo, citei essa cena e falei que sentia como se não estivesse sendo uma pessoa boa para ela, ela chorou, me chamou de monstro. A gente nunca mais se falou.

Recentemente ela falou comigo. Ela me agradeceu, falou que já tinha assistido o filme milhares de vezes mas nunca tinha reparado no poder daquela cena e por ter sido sincero. Ela me disse que estava bem melhor, tinha parado com os remédios, ela me disse que eu não era o motivo de ela estar depressiva, mas o fato de eu estar sempre com ela deixava ela na zona de conforto. Ela me disse que depois do término ela buscou sua própria felicidade e passou a não projetar sua felicidade nos outros. Ela me disse que “God is love” mesmo não acreditando em Deus, mas ela acredita no amor, em todas as suas vertentes e ela me disse “good gets better”. Ela estava positiva. Ela entendeu a mensagem do filme preferido dela, depois de tanto tempo.

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