Segunda casa
Julia de Andrade Franco
Seria completamente plausível compara o que foi Jesus na história da humanidade, com o que foi essa viagem para minha história de vida. A menina que chegou em Junho de 2017 é completamente diferente da que saiu no dia 28 de Outubro de 2017, de longe um dos dias que só de lembrar já dói o coração, enche os olhos de lagrimas de felicidade pelo que vivi e tristeza do que deixei para trás.
E se eu contasse que de início eu não fazia ideia que iria fazer um intercambio, tudo começou como uma viagem em família, com o intuito de conhecer a cidade e visitar a prima de minha mãe, Ludmila e seu marido Guilherme. Porém secretamente, meu pai já havia alterado minha passagem de volta sem eu ter a menor noção de tudo isso, hoje agradeço eternamente pelo que ele fez, mas aquele Julia ficaria completamente surtada, pois ela se achava incapaz de viver toda quela experiencia, algumas “justificativas” eram “ninguém vai me entender”, “não vou conseguir me virar sem vocês”, “ estou largando todos os meus amigos la”. Resumindo eu estava com MUITO medo de ficar lá e toda vez eu SEMPRE me deixei vencer por meus medos, porém não daquela vez.
Meus pais, então, tiveram a missão (quase impossível) de me convencer a ficar, sem que eu soubesse que não tinha volta mais, foram duas semanas de tortura mental profunda e a questão “ Ficar ou não ficar?”. Mesmo com esse dilema na cabeça viajei para lugares incriáveis com meus pais como Montreal e Quebec, que pertencem a parte francesa do Canadá. Visitamos também outros pontos turísticos de Toronto como o Ripley’s Aquarium of Canada (aquário da cidade de Toronto), CN Tower (torre que possibilita uma visão 360º da cidade) e Toronto Zoo ( Zoológico de Toronto).
Depois de muito refletir cheguei a conclusão de que por maior que fosse meu medo eu teria que vence-lo, era hora de para de perder oportunidades pelo medo de errar, de não conseguir, mas como eu saberia se eu iria conseguir passar por aquilo ou não sem nem tentar, foi ai que eu ouvi da Lud um frase que guardo até hoje “Quando as coisas são positivas é melhor se arrepender do que fez do que o que deixou de fazer”. Foi assim que decidi passar 4 meses morando em Toronto junto com a prima da minha mãe e seu marido.
Vamos ser honesto nada no princípio são flores, pelo contrário qualquer mudança de rotina é complicada, principalmente se essa mudança é drástica, como foi no meu caso. Primeiro ponto a língua, 24h 7 dias por semana falando, ouvindo e pensando em outra língua que não é a sua materna, por não ser algo natural pensamos muito, pois primeiro traduzimos e depois interpretemos para criar uma resposta traduzir para outra língua e responder, um longo processo, porém felizmente com o tempo passamos a pensar na língua em que estamos inseridos. Outro grande impasse, amizade, como estava indo para uma escola de inglês todos os que estavam lá eram de outros países assim como eu, a grande questão é como interagir com o diferente, porque temos formas de amizade no mundo todo, depois de um tempo percebi que todos tem a mesma duvida e assim tentam ser compreensivos com a cultura do outro. Em meu primeiro mês, Julho, por ser férias qui no Brasil muitos brasileiros estavam lá, o que tornou minha vida um pouco mais fácil em fazer amizade, porém por incrível que possa parecer minha grade amiga desse mês foi uma Russa chamada Sofia.
Após todas esses desafios superados você pensa, o que mais pode aparecer? Bem uma consequência que não é muito aparente até o momento que ela começa a acontecer, a despedida, não minha, pois só estava no começo de minha aventura, mas a de todos os amigos que fiz e vieram somente para as férias ou já haviam chegado ao fim de sua estadia. Tive que aprender a lidar com a despedida e pensar na possibilidade que não vou voltar a ver essas pessoas em um curto prazo, talvez nem em um longo, talvez nunca mais. Assim passei a valorizar mais os meu momentos nessa viagem, tanto sozinha quanto acompanhada de amigos e família. Sabia que alguma hora chegaria minha vez de partir então que eu aproveitasse o máximo de tudo que estava sendo oferecido.
Assim fiz meus primeiros passeios sozinha, nunca em minha vida tinha tido toda essa liberdade, de curtir momentos comigo mesma, com isso descobri um grande hobby, fotografar. Fui a alguns parques onde pude tirar fotos maravilhosas das paisagens.
Os momentos Família foram maravilhosos, pude aproveitar e viajar com minha prima de segundo grau e seu marido para casas no lago, super charmosas e conhecer um pouco desse costume canadense. As paisagens são maravilhosas e pelo fato de mais da metade do ano ser congelante, a ligação que eles tem com a natureza no verão é mais intensa, por isso casas a beira do lago e no meio da floresta. Ajudei a Lud com seus preparativos para seu casamento no Brasil, por ela estar sozinha lá fiz questão de acompanha-la em todas as provas de vestidos, escolhas de adereços, sabia o quão dificil deveria estar sendo para ela nao ter sua mãe presente em um moneto tão especial, eu ja estava sentindo muita saudade de meus pais e amigos, imagina ela que está lá há anos. Assim aprendi que a saudade sempre vai existir, temos que aprender a conviver com ela, isso foi um aprendizado essencial para mim, pois em novembro eu viria a perder minha tia avó que me incentivou a fazer o intercambio, infelizmente não tive a oportunidade de ve-la depois da viagem.
A ultima parte que vou colocar aqui de minha experiência é sobre tudo o que eu vivi em 3 meses com a pessoa mais incrível de todas que eu conheci e fez a minha viagem ganhar um significado mais profundo. Saskia, alemã, atualmente mora em Berlin, nos conhecemos na sala de aula, estava planejando passeios para fazer com a escola, foi então que ela me perguntou se poderia ir junto comigo, pois tinha acabado de chegar na escola e estava meio perdida, assim viajamos juntas para Niagara Falls.
Assim começou o que seria uma grande amizade e foram 3 meses juntas basicamente todos os dias, quase o dia todo. Ela me apresentou sua cultura, fomos em um restaurante alemão, onde aprendi de onde era cada prato, como comer, entre outras coisas. fiz questão de leva-la a um restaurante brasileiro, onde ela pode provar um pouco do nosso tempero e guaraná. Fizemos ensaio fotográfico juntas, tanto no verão como no outono, fomos a um parque de diversão e ela me ajudou a perder o medo de montanha russa, foram os melhores três meses que eu poderia pedir.
Assim chegou a minha vez de partir, e eu definitivamente não achei que seria tão difícil como foi. Em quatro meses criei vínculos, memórias, e liberdade como nunca tive com nenhum lugar, nem mesmo com São Paulo onde nasci. Voltei recheada de nova vitalidade, muitas experiências, e acima de tudo aprendi a acreditar que sou capaz de enfrentar todos os meus medos, todas minhas dificuldades, a única coisa capaz de me impedir sou eu mesma. O contato com outras culturas me fez abrir meus horizontes para o mundo e entender como outras pessoas o enxergam. Toda essa vivencia contribuiu para meu amadurecimento como pessoa, entender que sou capaz de cuidar de mim mesma e que sou completa comigo mesma. Sonhos também foram criados, tenho como meta de vida ir morar nesse lugar maravilhoso que agora tem o metade do meu coração, Toronto é e sempre será minha segunda casa, onde me sinto confortável de estar, acolhida por todos, me adaptei aos costumes de maneira fluida, e não passa um dia que não sinto saudades de tudo que vivi, só tenho a agradecer o que meus pais fizeram por mim, e o que EU conquistei por não deixar me vencer pelo medo.
