Ser tupãense é um estado de espírito

Posso ter nascido em São Paulo, mas minhas raízes estão em Tupã

Anália Dualibi
Iandé
3 min readNov 15, 2021

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Por Anália Dualibi Messas

Vindos da Espanha e do Líbano, é engraçado pensar que o caminho dos meus antepassados se cruzaria em uma cidadezinha no interior do estado de São Paulo. Tupã fazia parte da minha história antes mesmo que ela começasse a ser tecida, foi a cidade onde meus bisavós viveram, meus avós se conheceram e meus pais cresceram. Apesar de já ter nascido na cidade de São Paulo, por mais que não tenha nenhuma memória dessa época, tive a oportunidade de passar o primeiro ano da minha vida torrando sob o Sol escaldante que parece nunca desaparecer de Tupã.

Mesmo que a minha estadia na cidade tenha sido curta, as minhas visitas eram frequentes. Meus avós paternos viviam numa chácara maravilhosa na Rua Brasil; logo no portão de entrada havia as iniciais “GM” cravadas, iniciais de meu avô, mas que minhas primas e eu gostávamos de pensar que eram as primeiras letras do nome de meu avô e minha avó, que coincidentemente tinha um nome iniciado por M. A chácara era lotada de cachorros — majoritariamente pastores alemães, os favoritos do meu avô — e outros tantos animais (sério, já tive desde patos até topolinos de estimação), tinha uma piscina que eu demorei para conseguir colocar os pés no chão sem me afogar, uma edícula para os churrascos que meu pai gostava de fazer e a casa, com um quarto para cada filho dos meus avós.

Portão da chácara dos meus avós (foto tirada do Google Street View)

Na esquina da Rua Goitacazes, ficava a casa de grade verde e portão de vidro dos meus bisavós maternos. Do lado de fora, na varanda, tinha uma mesinha com cadeiras de ferro que meu bisavô gostava de sentar durante a tarde para observar a rua; depois de uns anos, as cadeiras passaram a ser acorrentadas umas às outras, pois uma vez pularam o portão e roubaram uma das cadeiras — quando fiquei sabendo dessa história, nunca mais deixei meus brinquedos do lado de fora quando ia dormir. A casa era confortável, com três quartos, um único banheiro e uma cozinha tão estreita que parecia um corredor. Meus bisavós não possuíam mais um carro quando eu nasci e nós, quando íamos visitá-los, costumávamos parar na rua, em frente a casa, mesmo com o ladrão de cadeiras solto por Tupã. No lugar do carro, durante as férias de verão, era comum encontrar uma piscina inflável dada de presente por minha avó.

Casa dos meus bisavós (foto tirada do Google Street View)
Igreja Matriz de São Pedro, localizada na Praça da Bandeira

Mesmo passando tão pouco tempo como residente de Tupã e mais como uma visitante, sinto como se fizesse parte dessa cidade tanto quanto ela faz parte de mim, de minha história. Quando penso em minha infância, penso em Tupã. Hoje, sei que cresci porque Tupã se tornou, e se torna cada dia mais, algo distante. Em agosto deste ano, 2021, perdi minha bisavó, a última pessoa que me ligava fielmente à cidade e, consequentemente, à minha infância. A perda sempre foi complicada para mim, desde criança era egoísta quanto à isso, odiava que tirassem de mim o que era meu, mas hoje que cresci, aprendi a me apegar às lembranças que me restavam. Agora, quando fecho os olhos, consigo caminhar novamente pela Rua Brasil, pela Rua Goitacazes, pelas ruas de Tupã, minha Tupã.

Linda vista das casinhas de Tupã

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