SUOR

Luíza Fonseca
Iandé
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2 min readApr 24, 2019

Texto e vídeo inspirados em um espetáculo de dança contemporânea sobre Marighella que assisti há um tempo atrás. A dança provocou tanto suor ao ponto de se tornar linguagem própria. Eu nunca mais interpretei essa reação do corpo da mesma forma.

Eu vi a gotícula escorrer da testa poro por poro na dimensão de uma cachoeira. Não pensei em nada. Eram dois corpos dançando para uma plateia e fazia calor. Simples. A pele escorre, como a chuva cai, como uma criança corre, como alguém grita, como alguém morre. Simples. Pequeno. Uma gota pequena.
Fez mais calor; eles dançaram com raiva. Esfregaram a pele na outra, no chão, na roupa, se debulharam em volta do clarão até a inundação total. Eu vi, a maré encher, eu senti o cheiro, a poça d’água, a marca da mão molhada, a pele brilhando, as gotas voando do corpo no movimento como sangue, o rosto que parecia chorar, a roupa ensopada, o som do pé escorregando, eu vi, eu vi os corpos se anularem num turbilhão líquido e eu mergulhei.
O que mais eu podia fazer?

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