tá todo mundo rindo?
Tá todo mundo rindo. Eu to rindo também. Quer dizer, estava. Por quê? Por quê tá todo mundo rindo?
Acho que não importa.
Tinha muita gente. Muita gente mesmo. Na real, não tinha ninguém.
Ninguém se importa.
Eu acho que não me importo também. Eu tava parado bem no final de uma escada. Era uma escada daquelas que você olha e automaticamente já se sente cansado.
Subo a escada ou não subo a escada?
Claro que não, olha o tamanho disso. Tinha alguém descendo. Finalmente tinha alguém naquele lugar. Isso não mudou o fato de que eu ainda tava sozinho, claro.
Mas ela tava ali.
O problema mesmo foi quando ela tropeçou. Puta merda, ela vai cair muito feio. Aquele momento parecia que passava tão devagar que nunca ia acabar. O estranho mesmo era a cara dela. Parecia que ela não tava dando a mínima que ia cair, enfiar a cara no chão, quebrar o nariz e talvez perder alguns dentes. Não que eu me importasse, mas eu saí correndo pra tentar segurar ela. Eu dei de cara no vazio.
Falhei, miseravelmente.
Nem olhei pra trás. Deve ter sido um tombo feio. Um desses tombos que você não sabe o que preocupa mais; o seu sangue espalhado no chão ou a dor de algum osso que você provavelmente quebrou.
Tá, isso foi exagero.
Mais exagerado ainda foi eu achar que eu não tinha segurado ela. É claro que eu segurei, ela tava ali do meu lado. Acho que só não senti peso nenhum.
Obrigado por nada Luísa, mas obrigado por tudo também.
(Guilherme Viana)