Tempestade

João Pedro Alves Carvalho
Iandé
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5 min readOct 19, 2017

No fim de 2016, eu tinha acumulado já 3 dependências em um período apenas de 2 semestres na faculdade. Eu estava impedido, portanto, de continuar para o próximo semestre, a não ser que eu pedisse progressão. Contudo, devido à situação econômica complicada da minha família na época, eu precisei dar adeus a minha agora antiga sala e passar por um processo de recomeçar a faculdade depois de 1 ano passado.

Durante o primeiro semestre de 2017, eu tinha apenas 3 matérias, as minhas DPs, divididas em 2 salas diferentes, sendo que eu precisaria ir à faculdade somente dois dias. Á princípio, pensei que seria uma boa oportunidade para fazer atividades novas, devido ao excesso de tempo livre, e de início foi o que fiz: peguei aulas de desenhos, passei a fazer academia, procurei entrar em vários curtas de TCC, tentei assistir mais filmes. Contudo, ainda passava muito tempo em casa e uma série de fatores começaram a atingir de forma negativa o meu emocional.

Primeiramente, como pouco eu ia à FAAP, eu também não via muito os meus amigos da minha antiga sala e, justamente no mesmo período, uma fusão entre o meu grupo de amigos e um outro de outro curso começou a acontecer, fusão a qual eu me senti de fora, devido a de fato não estar presente com eles.

Segundo, eu mal conhecia as minhas salas novas, as quais já tinham grupos formados, o que dificultava meu entrosamento com eles, tendo em vista que criar relações sociais não é o meu forte. Além disso, eu tinha apenas 1 matéria com uma das salas e 2 com a outra, algo que também não facilitava a minha situação. A sensação era a de não pertencimento, afinal aquelas pessoas se viam durante quase toda a manhã de todos os dias, enquanto eu estava com eles no máximo durante meia manhã por semana.

Assim, eu começava a me sentir extremamente solitário e minha disposição caia cada vez mais, o que por sua vez me fazia ir menos ainda à faculdade e fez com que eu saísse de algumas das minhas atividades extras. Para mim, na época, parecia que ninguém realmente se importava comigo, algo o qual me doía bastante, porque eu gostava muito dos amigos que eu tinha feito naquele primeiro ano como universitário, alguns deles eu inclusive amava de verdade, e eu sentia como se estivesse sendo deixado de lado pelos próprios.

As coisas não mudaram muito daí durante o semestre. Uma série de notícias ruins externas à faculdade, as quais não interessam no momento, somaram aos problemas já ditos e me levaram de volta a um psicólogo por um breve período. A vida de todo mundo continuava e a minha aparentava estar estagnada. Eu ficava sabendo de saídas, histórias, “rolês” do meu antigo grupo para os quais eu não era mais convidado, alguns de propósito, porém boa parte situacionais, aqueles que são decididos na hora, portanto eu não estava presente para participar.

Naquele semestre, amizades formaram-se e desfizeram-se, assim como desfizeram-se namoros e começaram-se outros, e uma rede inteira de novas relações sociais se consolidou sem mim. Em algumas ocasiões, as quais eu não aguentava mais de tristeza, eu procurei expressar os meus sentimentos aos meus amigos, o que resolvia bem a situação por um tempo, mas não demorava para regressar tudo de novo.

Todavia, no ápice da minha sensação de solidão, após saber de uma viagem para a qual não fui convidado, que ocorreu no mesmo período em que eu tinha convidado todos a também fazer uma viagem, que foi minha tentativa de não ficar de fora, já no fim do semestre, eu chamei as minhas duas melhores amigas daquele grupo, que eram na verdade o centro dos problemas, para uma conversa, um verdadeira discussão de relacionamento. A minha ideia era de realmente cortar todas as relações com elas, pois eu já não aguentava mais me importar tanto com pessoas que não aparentavam importar-se a mínima comigo.

Nessa conversa os apertos se resolveram.

Foi muito estranho como na semana anterior eu estava totalmente destruído e então, de repente, a minha felicidade tinha voltado completamente.

De fato foi uma DR, como eu mencionei. Nela eu pude falar tudo o que eu havia sentido naquele semestre, tudo o que elas haviam me feito sentir, ainda que sem querer. E elas explicaram o porquê de alguns acontecimentos terem acontecido de tal forma, pediram desculpas, eu também pedi desculpa, nós choramos, nos abraçamos e nos resolvemos.

Eu nunca liguei muito para aniversários, não eram nada mais do que mais uma data, ao meu ver. Contudo, nesse meu último aniversário, em Junho de 2017, eu tinha muito o que agradecer, e assim fiz quando, na minha festa, novamente chamei as duas para uma conversa. Nessa ocasião, no entanto, eu o fiz para dizer-lhes que as amava de verdade e que era grato por tê-las como amigas.

Pode parecer contraditório ler isso depois de tudo o que eu escrevi aqui, mas isso foi só um resumo dos acontecimentos daquele semestre em específico, muito foi deixado de fora e nem expliquei como era o meu relacionamento no primeiro ano de faculdade com as pessoas em questão. Ás vezes, uma amizade pode ser como um namoro mesmo, nem tudo são altos o tempo todo, há baixos também, e eu penso que quando uma conversa sincera consegue resolver um dos momentos de maior crise da relação, significa que é uma relação forte, e se torna mais forte ainda à cada crise que se passa.

(Claro que é melhor se não houver crises também :D)

Agora, nesse segundo semestre de 2017, eu ainda não pude fazer amizades significativas na minha nova sala, porém não mais eu tenho apenas 2 matérias com eles e, apesar do problema dos grupos já formados ainda persistir, eu tenho acredito que algumas idas ao bar possam resolver isso.

É engraçado que, até um dia antes de eu escrever esse texto, eu me sentia pessimista em relação à sala, achei que minha timidez não permitira que eu criasse relações, no entanto justamente uma ida ao bar me fez mudar de ideia e, consequentemente, todo esse texto foi alterado para refletir essa mudança, a ideia original era um tanto diferente do que está escrito aqui.

Em relação ao meu antigo grupo, agora eu me sinto propriamente introduzido nessa nova rede de relações a qual mencionei, e as minhas amizades com cada um de seus membros só tem aumentado de uma forma que eu mesmo me impressiono.

Nunca antes eu me senti tão amado quanto como me sinto hoje.

Não estão todos aqui, mas essa é a minha foto favorita do momento
  • João Pedro Alves Carvalho — 41613068
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João Pedro Alves Carvalho
Iandé
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Estudante do curso de cinema na Fundação Armando Alvares Penteado de São Paulo — SP