TESOUROS
ou As coisas que não perdemos com o tempo
Vivemos cada dia de nossas agitadas vidas sempre com pressa, sempre querendo mais, querendo tudo rápido, assim, por diversas vezes, não aproveitando nossas experiências vividas ao máximo. Entretanto, quando somos menores, em nossa infância, fazemos justamente o contrário. A noção de tempo é melhor valorizada, aproveita-se cada segundo, sem se preocupar muito com o dia de amanhã. Nesse processo de formação, tido por cada criança, a imaginação e criatividade não para, sempre se está produzindo novas ideias mesmo que nem sempre fique claro o que cada uma significa.
Durante esse período, boa parte de quem nós somos também é construída. Assim como muitas pessoas, eu sempre busquei, e ainda busco, saber quem sou e o que posso me tornar nesse mundo. Não sou muito acumulador, mas há certos objetos que eu simplesmente não consigo me livrar, pois me fazem lembrar desse tempo onde as coisas eram mais simples. Embora, é claro, muitas delas tenham se deteriorado com o tempo, algumas estão em ótimo estado. Ainda me lembro do momento em que ganhei ou fiz cada uma delas, e tenho certeza que cada uma influenciou na forma como sou hoje.
É durante a nossa infância que manifestamos nossas primeiras impressões artísticas, nossas primeiras “obras de arte”. Por exemplo, quando eu era criança, procurava desenhar principalmente estabelecimentos e objetos que via em desenhos animados ou lugares que eu visitava. Criava diversas cidades e sempre eu dava um jeito de colocar parte de tudo o que eu gostava em cada desenho que fazia, como: pizzarias, amigos, hotéis, personagens, pessoas da minha família, mercados, até mesmo uma batcaverna eu dava um jeito de desenhar.
E não foi só com desenhos que eu aproveitava meu tempo. Como muitas pessoas, eu sempre tentava conseguir e guardar pôsteres de eventos que ia, mesmo que eu nunca pendurasse na minha parede, gostava de mantê-los guardados para, de vez em quando, olhá-los e lembrar desses lugares que estive e das pessoas que lá conheci. No período anterior a 2010, raramente minha família tirava fotos desses eventos e lugares que conhecíamos, por isso eu acabava colecionando tudo o que achava interessante como uma maneira de lembrar o que fiz.
Assim, uma das minhas maiores paixões começava a crescer: a paixão por cinema. Não demorou muito para que eu começasse a colecionar, junto com esses pôsteres, ingressos e DVDs de meus filmes e séries favoritos e que, no final de 2005, acabei por desenhar diversos “cartões de visita” dos que mais me impactaram até então. Eu quis ter uma recordação pessoal e única de cada um deles e acabei dando um jeito de fazer isso a minha maneira. Até hoje quando os vejo, acho que fiz um ótimo trabalho, mesmo que os desenhos não tenham ficado a melhor coisa do mundo.
Essas são só algumas das diversas histórias por trás desses objetos que acabei guardando durante os anos. Para mim, as melhores coisas do mundo possuem um significado único e especial para cada um de nós, e podem ser representados por cada objeto, foto ou recordação que escolhemos manter em nossas vidas. Pois são essas coisas que, mesmo parecendo comuns para muitos, possuem um valor muito maior que qualquer dinheiro desse mundo. Um valor que apenas nós podemos atribuir.
Afinal, cada objeto guardado, é uma parte da história individual de cada um. As memórias trazidas por eles estão sempre ganhando novos significados, pois nossa vida continua a se transformar a cada nova experiência. Não digo para viver do passado, mas sim refletir sobre ele. Porque, querendo ou não, lembrando de quem nós fomos, sabemos melhor sobre quem nos tornamos.
Giovanni Baroni Silva