Tropicália jacta est: that is the question.

Maria Júlia Giovanini
Iandé
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2 min readApr 25, 2019

Navegar é preciso, viver não é preciso. O barquinho vai, a tardinha cai. Quem te ensinou a nadar? Ou foi o tombo do navio ou foi o balanço do mar. Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar. Minha jangada vai sair pro mar. Beira do mar: lugar comum.

Quando Pero Vaz Caminha descobriu que as terras brasileiras eram férteis e verdejantes escreveu uma carta ao rei: tudo o que nela se planta, tudo cresce e floresce. Tudo cresce e floresce. Cresce, floresce. Tudo. Cana, café, capim. Coragem grande é poder dizer sim. Sim. A tropicália não termina quando acaba e quando começa, começa do que se alimenta a antropofagia, come tudo de novo. Come a bossa, a fossa, meu amor. Sem a bossa-nova não dá pra imaginar. O Brasil fez por merecer a bossa-nova? Como pode um João Gilberto? Imagine só. Um projeto de Brasil. Aqui tudo ainda é construção e já é ruína.

O que foi a tropicália incontornável, ainda é. Não se pode ter tanta certeza. Não se faz mais tropicalistas como antes. Os tempos e os tropicalistas são outros. Mas no tempo auge da juventude, a gente toda há de ser inconformada, há de fazer crescer, florescer uma dose de rebeldia, se não fica tudo muito achatado. Uma pena que não se pode experimentar a tropicália pela primeira vez mais de uma só única vez. Barato total poderia ser esquecer pra descobrir com euforia. Tem de ter euforia. Um pouco de tragédia, ei José.

Seja marginal. Seja herói. Será que ainda dá pra ser alguma coisa ou ser tudo de uma vez, deve ter um jeito de aproveitar tudo dessa terra sem deixá-la tão pobre de qualquer coisa. A felicidade que desaba sobre os homens. Machuca também, mas a vida é assim mesmo, eu vou-me embora. Ah, como dói na gente quando a gente se deixa sentir um pouco da dor do outro que vai embora não porque quer, mas porque eles mandam. É comportamento subversivo. Tropicalista é tudo desse jeito.

Eles entram na sua casa, invadem seu quarto, suas gavetas, seus pertences, lenços, documentos, tudo. Parece difícil demais viver o Brasil. Antes, depois, tanto faz, é sempre difícil. Deu pra entender tudo finalmente mesmo sem viver o tempo que surge a tropicália. Faz sentido. Quando se toma nota disso, logo vem na cabeça: ah, era isso então, o tempo todo. Ta explicado, dá pra inventar qualquer coisa então, não precisa ser sabido, deve precisar antes ser atrevido. No Brasil tudo o que planta, dá.

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