Uma experiência intrauterina

Como a exposição “Sopro” de Ernesto Neto pôde mexer com meus sentidos

Kim Bellini
Iandé
2 min readNov 17, 2022

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Por Thainá de Freitas Trebbi

De 30 de Março a 15 de Julho de 2019, a Pinacoteca de São Paulo agregou-se à exposição “Sopro”, do artista carioca Ernesto Neto. É comum que exposições tenham uma área específica destinada à exibição, mas nesse caso, a Pinacoteca virou a própria exposição em si. Com muitas obras interativas espalhadas pelas salas e corredores, os visitantes viam-se tentados a participar, tocar, mexer e sentir.
A obra era composta por cordas entrelaçadas que tomavam formas de assento, carruagem, balanço, tapete e até mesmo cobertor. Além das cordas emaranhadas, havia também um tecido que lembrava o de uma meia calça, servindo tanto como objeto de observação quanto de interação.

No entanto, o que mais me chamou a atenção foi uma obra interativa dentro de uma das salas. Era uma meia calça flutuante com uma entrada apertada em uma das extremidades, presa pelo teto para que se mantivesse elevada, e por sacos de areia no chão para que permanecesse num lugar fixo.
A sensação é difícil de descrever. O caminho para passar era minúsculo, o que nos causava estranheza e até receio, mas assim que colocávamos o pé no tecido e encontrávamos o chão, o caminho se abria, como mostra a foto acima. Ao chegar no final, nos deparávamos com uma “parede” de meia-calça, parecendo que o intuito da interação era, justamente, o de nos fazer voltar. E o trajeto da volta foi definitivamente mais interessante.
O princípio era o mesmo, passar por um caminho minúsculo que se abria à medida de nossas passadas, mas a sensação era de algo a mais.

Acredito que eu tenha “desbloqueado” a memória de quando saí do útero de minha mãe. O sentimento era familiar, igual a quando você conversa com um amigo e se lembra de algo que aconteceu na sua infância. Apesar de não ter uma memória imagética do meu próprio parto, era como se eu tivesse a intuição do que estava para acontecer.
Saindo da obra, conversei com uma amiga que me disse ter sentido o mesmo que eu, e passamos a hora seguinte especulando sobre a interação.
Tal experiência mexeu tanto comigo que ficou arquivada na memória, mas foi, principalmente, a sensação que me causou, como se fosse possível renascer.

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