Universo Paralello 2020 — Experiência Estética
A psicodelia da aceitação
Ao longo dos anos da minha formação individual sempre me senti desconectado da realidade que muitos viviam o que na maioria das vezes me levou a um segmento mais “underground” em qualquer aspecto da minha vivência. Enquanto meu irmão sempre escutava rock e muitas vezes compartilhava do gosto musical dos meus pais, desde pequeno já me direcionava a um segmento de música eletrônica que na opinião deles, não se tratava de música, mas apenas barulhos desconexos.
No final do ano de 2019, após anos de insistência, consegui convencer meu irmão a ir comigo ao Universo Paralello, um festival de música eletrônica na Bahia, considerado por muitos como um dos melhores festivais do mundo. Apesar de possuir uma noção prévia de que o festival seria algo parecido com boa parte das festas e baladas que frequentei aqui em São Paulo, cidade onde eu moro, fui surpreendido ao descobrir que seria algo muito além do que eu poderia imaginar.
Ao chegar ao festival depois de um voo de 3 horas até Salvador e 5 horas de estrada até o local do festival, tenho de admitir que estava um tanto quanto nervoso. Será que eu iria gostar dessa experiencia como havia imaginado? Ou seria apenas um show de horrores envolvendo drogas, brigas e momentos de sofrimento? Durante os primeiros dias apenas observei o que estava acontecendo ao meu redor nos shows para que eu pudesse avaliar se eu deveria me soltar e aproveitar o festival junto aos outros participantes ou teria de deixar minha guarda levantada para não ser pego de surpresa por algum dos fatores acima citado.
O festival em geral possui uma gigante estrutura podendo capacitar cerca de 30,000 pessoas. Ao decorrer das atrações notei que todos que estavam ali dançando e se divertindo aos barulhos desconexos segundo meus pais, com sorrisos em seus rostos e que apesar de saber da existência das drogas em um local como aquele, tal fato não seria o motivo da presença das pessoas ali. As pessoas se abraçam e tentam transmitir o que chamam de energia positiva. Todos parecem estar em sincronia com seus sentimentos e atitudes. Havia um sentimento geral de todos se ajudarem a atingir o maior proveito possível do momento.
Para mim, locais com uma enormidade de quantidade de pessoas não são os locais mais agradáveis de se estar devido às minhas crises de pânico. Sempre que fico em lugares onde há uma aglomeração de pessoas sempre sinto que preciso ficar atento pois algo de ruim pode acontecer, independente do que seja. Ao final do segundo dia de festival, me dei conta que não havia pensado uma vez se quer que estava correndo perigo ou algo de ruim poderia acontecer mas apenas era mais um no mar de psicodélicos que tomavam proveito das boas energias para ser quem eu realmente sou e dançar da maneira que queria, sabendo que não seria julgado ou hostilizado por ninguém.
O conjunto proporcionado pelo festival sendo, local e tudo que se diz respeito às características proporcionadas pela sua geografia, quantidade de palcos com diferentes diretrizes, interação entre os participantes, iluminação, decoração dos palcos além de muitos outros fatores elevam os espíritos dos frequentadores devido ao fato de sempre serem expostas de maneira positiva. Enquanto eu poderia estar assistindo à apresentação de Caetano Veloso no palco alternativo, poderia também estar assistindo um show de High-Tech, estilo conhecido pela alta quantidade de batidas por minuto. Sempre com cores muito vibrantes e de energia positiva.
Ao longo dos 6 dias de festival me dei conta que não era mais o mesmo Henrique que havia chegado lá. Uma pessoa tímida que de maneira alguma iria se expor de qualquer forma, inseguro quanto a minha forma física, ao final do festival estava dançando pulando sem camiseta, mais um no mar de psicodélicos.