Sônia Hess, vice-presidente do grupo Mulheres do Brasil

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Published in
4 min readJan 29, 2018
Sônia Hess, ex-presidente da Dudalina

Durante 12 anos, Sônia Hess foi presidente da camisaria Dudalina, fundada pelos seus pais empreendedores — Rodolfo (Duda) e Adelina. Atualmente, ela é vice-presidente do grupo Mulheres do Brasil, mentora do programa Winning Women Brasil, da EY; mentora e conselheira da Endeavor; presidente do Lide Mulher; mentora do programa Mulheres em Conselho; conselheira do Instituto Ayrton Senna; membro do Conselho Curador da Fundação Dom Cabral; e conselheira de administração (grupo Sequóia, PETZ e Warburg Pincus do Brasil).

Em outubro do ano passado, Sônia participou da sessão sobre Liderança Feminina na Empresa Familiar no 18º Congresso IBGC, que aconteceu em São Paulo.

Qual a importância da liderança feminina nas empresas?

O equilíbrio entre o feminino e o masculino é muito importante! Os gêneros são diferentes e esse equilíbrio só tem a trazer resultados para a empresa e para toda a sociedade. Se olharmos os dados, veremos que mais de 80% do consumo do mundo é decidido ou realizado pelas mulheres. Não existe nenhuma lógica para não ter mulheres na direção das empresas. Não estamos querendo maioria de mulheres, mas o equilíbrio. A soma dos gêneros masculino e feminino é sempre maior que dois. A colaboração e a mistura são sempre positivas, para além do homem e da mulher, também entre raças. Todos são seres humanos, todos podem contribuir.

Como reforçar a presença feminina nos cargos de alta direção, em especial nos conselhos?

Atualmente, nós, do grupo Mulheres do Brasil, estamos vendo que é necessário estabelecer as cotas para participação de mulheres em conselho. Olhando para o país, são muito poucas as mulheres conselheiras. Excluindo as mulheres com assento em empresas da própria família, esse número não chega a 4%. Nos grupos que faço parte conheci mulheres fantásticas, muito preparadas para fazer parte dos boards. Mas que, na hora da indicação, não são lembradas. Veja o meu caso pessoal: fui presidente de uma empresa por 12 anos, ampliei os negócios, deixei a minha marca. Enquanto amigos meus, homens, que deixaram as suas organizações na mesma época que eu, foram convidados para ser conselheiros em mais de dez empresas, eu só fui convidada para dois. Não que eu queira fazer parte de mais conselhos. Não é isso. Eu vejo uma preferência pelos homens. Não é machismo, mas um costume. Entre uma mulher e um homem vão escolher, normalmente, um homem. A questão do equilíbrio entre gêneros precisa entrar na pauta das empresas. Equilíbrio é sempre bom.

Que tipo de barreiras as mulheres enfrentam para subir na hierarquia das empresas?

Não sei se existe uma barreira explícita. Mas existe uma barreira da própria mulher. Na época em que ela está mais preparada, com energia, ela pode precisar parar para ter um filho. As empresas precisam entender que não é por ter um filho que essa mulher perde suas qualidades, sua capacidade de ser uma empreendedora e uma executiva. Há muitas mulheres preparadas para assumir cargos de direção. As empresas precisam ter uma visão de longo prazo. Essa mulher vai ter um filho, que depois vai crescer e se tornar independente, mas isso não vai tirar a capacidade dela para o trabalho. Essa situação acontece no mundo inteiro. Lembro de ter assistido, fora do Brasil, uma palestra de uma consultoria que perguntava “Onde estão elas?”. Eles analisavam uma empresa na qual se contratou 50% de homens e 50% de mulheres. Três anos depois, a proporção dos funcionários era de 70% homens e 30% mulheres. Isso nos faz levantar as seguintes questões: Para onde essas mulheres vão? Por que elas não ficam na empresa?

Como foi sua experiência pessoal nesse processo da Dudalina? Ajudou o fato de sua mãe ter construído a empresa junto com seu pai?

Para mim, sempre foi algo natural trabalhar. Sempre estive trabalhando, seja na empresa da minha família ou fora dela. Minha mãe foi uma empreendedora. Junto com meu pai, que era poeta, fundaram a Dudalina e tiveram 16 filhos — onze homens e cinco mulheres. Minha mãe trabalhava muito, nos educou numa cidade no interior e nos ensinou a amar o trabalho. Enquanto cuidava de nós, escrevia bilhetinhos com o que precisava ser feito na fábrica. E, com 16 filhos, todos tinham que ajudar. Não havia aquela questão: “você é menina, não pode trabalhar”. Era preciso batalhar e fazer o negócio crescer. Não havia essa separação entre sexos. Ficarei feliz se conseguir passar esse aprendizado para as pessoas.

(Por Pedro Malavolta)

Publicado originalmente em 22/09/2017 no Instante IBGC, newsletter exclusiva para associados do instituto

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