Decisões: Dando relevância para o processo decisório e criando uma cultura de confiança na sua equipe.

Rodrigo Bornholdt
iClubs
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7 min readJul 20, 2022
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"Caso ou compro uma bicicleta ?". Esta é uma metáfora muito usada popularmente para mostrar que uma decisão tem sempre dois lados e que, optando por um, estamos deixando algo "para trás".

Tomar decisões é daquelas coisas que, de tão comuns no nosso dia a dia, já nem nos atentamos mais à como acontecem. Por isso, decidi escrever esse artigo para falar especificamente sobre o processo decisório, desmistificando os erros e elencando alguns fundamentos importantes. Além disso, vou abordar a importância de uma cultura de confiança no ambiente trabalho e sua relação com o processo. Com isso, você estará equipado para tomar decisões de forma consciente e estruturada e, consequentemente, melhor.

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Idealmente, as decisões devem ser tomadas em um cenário onde suas consequências podem ser elencadas, e as rotas de mitigação, mapeadas. Então, minha primeira dica é: não procrastine. Trate os assuntos com antecedência, para torná-los simples e com diversos caminhos possíveis. Mas, sabemos que nem tudo está sob o nosso controle (e que às vezes, infelizmente, procrastinamos mesmo). Por isso, precisamos lidar de forma madura e estruturada com o processo decisório.

Trate os assuntos com antecedência, para torná-los simples e com diversos caminhos possíveis.

Tomar decisões não é fácil, não mesmo ! É claro que isto varia de pessoa para pessoa. Acredite: até decisões que para muitos parece simples, como escolher entre pão ou fruta pro café da tarde, podem ser extremamente difíceis para outros. O oposto também é verdade: decisões que podem ser muito difíceis para a maioria de nós, como investir alguns bilhões de dólares em um projeto da nova geração da internet, não parece uma decisão tão difícil para Ellon Musk.

Isto porque a decisão envolve múltiplos fatores. Dentre eles, estão:

  • as condições que a pessoa tem de assumir as consequências da decisão que vai tomar. As condições podem ser psicológicas, financeiras, entre outras. Alguns exemplos:
    Exemplo de alguém preparado para uma consequência social: Se meus amigos não gostarem do meu jantar, a gente pelo menos vai dar muita risada da minha tentativa frustrada. Com certeza vão gostar do pudim da sobremesa e na próxima a gente pede uma pizza.
    Exemplo de alguém nem tão preparado para a mesma consequência: Se meus amigos não gostarem do meu jantar, vai ser um desastre, não vão mais querer voltar aqui e, pior, posso perder meus amigos.
    Exemplo de alguém que tem condições financeiras para assumir prejuízos: Se nosso projeto falhar o lucro que a gente espera não vai acontecer, mas podemos usar o que construímos para tentar diminuir os prejuízos e tentar novamente.
    Exemplo de alguém que não tem condições financeiras para assumir prejuízos: Se o projeto falhar não vou conseguir pagar as dívidas que terei que contrair para realizá-lo.
  • As bases e o contexto que fundamentam a decisão:
    Exemplo de decisões fundamentadas: O ambiente de negócios está favorável a riscos para novos investimentos, nossa idéia foi testada e tem mercado consumidor amplo, vamos seguir em frente.
    Exemplo de decisões sem base fundamentada: Vamos arriscar, tem muita gente que deu certo nesse segmento, a gente vai ser mais um deles.
  • Os padrões morais ou o que considera-se certo: neste caso, não está em discussão o que é certo ou o que é errado mas, sim, se o decisor tem claro o que ele acha certo ou errado.
    Exemplo de um decisor que sabe o que é certo: Vou ser transparente e comunicar meu cliente do problema que encontramos pra que nós possamos nos preparar juntos e mitigar os impactos do possível atraso.
    Exemplo de um decisor que não tem certeza do que é certo: Se eu disser a verdade, o cliente vai ficar enfurecido, e não tenho certeza da reação dele. Se eu não disser a verdade, vou agradá-lo mas a situação pode piorar. Se eu não disser nada, ele pode nunca saber, mas pode ficar sabendo por outras vias.

Qualquer decisão gera impactos e consequências, tanto para o decisor quanto para quem está a sua volta. Conforme progredimos em escopo e responsabilidades, as decisões que nos são requeridas ficam cada vez mais desafiadoras. Por isso, tenho algumas dicas importantes de como tornar o processo mais simples.

  1. Fundamente suas decisões olhando para além do impacto imediato, ponderando também o longo prazo. Isso vai fazer com que, mesmo que sejam as decisões pareçam não ser as melhores naquele momento, no conjunto delas, vão fazer sentido e você vai se orgulhar de tê-las tomado quando olhar pra trás.
  2. Divida seu dilema com mais alguém. Isso fará com que você refine seu julgamento, seja reforçando que estava certo ou apresentando outros fatores importantes, que você havia desconsiderado em sua análise inicial. Ao longo do tempo, vai se sentir mais confiante mas, mesmo assim, é importante que sempre divida com mais alguém: o aprendizado é infinito.
  3. Conheça bem cada caminho, possíveis consequências e mitigue os riscos. Avalie a situação por completo: se eu decidir por A, o que acontece; e se eu decidir por B? Independente da decisão tomada, geralmente é possível tomar algumas ações para mitigar os impactos. Nesse caso é importante que você encare o problema de frente, sem medo, e seja criativo. Sua decisão vai ser mais simples, mas atenção ao gerenciamento apropriado das consequências.
  4. Decida de forma calma. Nem sempre é fácil, pois geralmente são em momentos de estresse que as decisões mais difíceis precisam acontecer, mas é importante acalmar os ânimos antes da atitude final. Os padrões morais, aquilo que você realmente acha certo, a visão que você tem do seu futuro, vão ficar mais turvos quando está em um estado de nervos elevado, mas vão clarear quando se acalmar.

Fácil ou difícil, se tem que decidir é melhor que seja uma boa decisão.

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Até aqui, cobrimos o processo decisório de forma mais geral mas eu não poderia deixar de trazer, especialmente, a importância da decisão no mundo dos negócios.

No trabalho, as decisões são constantes, todo dia, toda hora, independentemente do cargo ou posição que ocupamos. Talvez a grande diferença no trabalho é que elas frequentemente tem impactos e consequências além do decisor.

  • O analista que toma más decisões pode gerar relatórios com informações imprecisas ou incorretas, o que leva seu cliente a ter prejuízos.
  • O gerente que toma más decisões, pode trazer retrabalho para o time.
  • O presidente da empresa que toma más decisões pode levar a empresa ao fracasso, impactando o emprego de dezenas, centenas, milhares de pessoas

Acho que estes exemplos estão bem postos. Mas, o assunto mais polêmico sobre decisões no âmbito empresarial talvez seja a confiança nas decisões tomadas pelos seus companheiros de equipe. É comum pensarmos que a decisão do outro foi absurda, que nós decidiríamos de forma completamente diferente. Mas é importante lembrar que cada decisão tem seus fatores únicos de contexto que podem levar a pessoa a optar A ao invés de B, ou o exato oposto em um contexto ligeiramente diferente. Ou seja, você provavelmente faria diferente do seu par, porque seu contexto seria ligeiramente diferente do dele. E o pior de tudo isso é que esta divergência, dependendo de como for encarada, tem impacto ruim no clima da equipe, gerando ainda mais questionamentos e resultando em um ciclo vicioso.

cada decisão tem seus fatores únicos de contexto que podem levar a pessoa a optar por A ao invés de B, ou o exato oposto em um contexto ligeiramente diferente

O que fazer então, já que nunca estamos na cabeça do decisor para saber qual o contexto ele considerou? Eu diria que são três passos importantes para podermos conviver bem com as decisões dos outros.

  1. Decisor, busque decidir com consenso. Ao buscar o consenso você vai poder ouvir, vai poder falar e muitas idéias vão surgir, o que aumenta os elementos a serem considerados. E não tenha medo de ouvir algo que possa tornar sua decisão ainda mais difícil: é melhor que se tenha clareza das potenciais consequências para que possa mitigá-las no futuro.
  2. Decisor, não havendo consenso, decida. Buscar o consenso tem um limite porque no trabalho é importante que o time seja produtivo, que o tempo da equipe seja otimizado e que as decisões sejam rápidas.
  3. Equipe, respeite a decisão tomada. Na falta do consenso, uma decisão precisa ser tomada e esta precisa vir do líder, que é quem vai ter que assumir as consequências do que foi decidido.
  4. Confie e suporte a decisão tomada. Uma vez que a decisão de posicionar o leme do barco foi de ir para norte e não para sul, o time precisa suportar a decisão e trabalharem juntos para que o resultado seja o melhor.
  5. Confie que seus líderes sabem o que estão fazendo. Lembra quando disse que as decisões precisam ser fundamentadas no resultado de longo prazo?Se você não confiar que as decisões de seus líderes farão sentido para um resultado de sucesso no futuro, encontre um ambiente em que se sinta assim. Esta é a essência da cultura de confiança, crucial para o sucesso do trabalho.
  6. Líderes, deleguem e confiem que sua equipe vai decidir bem por você. Treine sua equipe para liderar e decidir, entenda os erros, ensine a mitigar os riscos, mostre como se assume as consequências.

Enfim, vejam como devemos dar a relevância adequada para cada decisão que tomamos. Deixar suas decisões no "piloto automático" pode ser perigoso pois, naturalmente, vamos decidir pelo que é mais fácil, pelo que faz sentido naquele momento. Dando relevância para cada decisão é quando buscamos opiniões, pensamos no resultado de longo prazo, treinamos nossa equipe, explicamos o contexto da decisão e, por fim, construimos um ambiente de confiança.

Ah, falando em longo prazo, não poderia deixar minha última dica de lado: vamos trabalhar pelas futuras gerações. Isso, nossos pequeninos, filhos e filhas que dependem de nós para ensinarmos tudo o que precisam aprender. Dando-lhes autonomia e decisões para tomar desde cedo, vai fazer com que se sintam confiantes, que tenham auto-estima, que se tornem adultos com o ato de decidir.

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