começar incerto. #1

Clicia Loubach
clicialoubach
Published in
4 min readJul 5, 2017

Eu sempre tive uma mania chata de supervalorizar o começo das coisas. E podia ser de qualquer coisa. Por mais ridícula que fosse, estava eu lá, dizendo pra mim mesma que o começo daquilo tinha que ser sempre mais bonito e perfeito do que realmente se podia fazer. Algo que eu me sentisse plenamente confortável — e orgulhosa — em assumir.

Começar um projeto, um trabalho, ou divulgar qualquer negócio que tenha a nossa cara estampada, nunca vai ter como primeira opção aquele passo singelo, e simples. Não dá pra mostrar os pontos fracos, não dá pra fazer nada menos que um super-site, com uma super-descrição e super-fotos-profissionais. Senão a gente não se sente seguro pra começar. Porque, claro, é preciso muita certeza em si mesmo, e muita autoconfiança envolvida (bota muita nisso!). Senão, não dá. Sem chances de sair por aí mostrando aquele nosso portfólio “mais ou menos”.

E é a partir dessa insegurança toda — e medo de se expor — que começamos a delirar com megalançamentos imaginários que dizem (leia-se em CAPS LOCK): “eu sei o que estou fazendo, eu mando bem, eu tenho talento, eu me garanto, eu tenho coragem!” e que, na verdade, querem dizer: “ei, por favor, olha pra mim. Acredita em mim pra eu também acreditar? Me diz o que você acha pra eu ter certeza que não tô fazendo nada errado? Compra pelo menos uma balinha moço, eu gastei uma fortuna imprimindo colorido.”

Mas, o que de errado tem viver isso? Se é que tem alguma coisa errada. Tem? Todo mundo tá passando — ou já passou — por esse desafio de querer ter um monte de ferramentas, recursos (e certezas) que ainda não têm. Todo mundo já viveu seus dias negros tentando se esconder do mundo, tentando adiar um começo. Esperando pelo melhor momento de usufruir do direito de: não colocar a sua cara pra bater, de não correr riscos. Acontece nas melhores famílias, e não é errado.

Mas tem muita gente travando seu sonho porque acha que não tem o que precisa pra ir lá, e se mostrar. Mostrar o seu trabalho, a sua arte, o seu talento. E isso sim é muito errado.
Não começar, quando não se tem tudo isso que se deseja, é errado. Achar que pra começar, você precisa de tudo isso, e de toda a certeza do mundo, é errado. Porque a verdade é que não, você não precisa de tudo isso pra começar. E não, você nunca vai estar totalmente confortável — e seguro — com a situação. Porque começar é um desafio mesmo, e conforto é a última coisa que alguém precisa diante de um desafio.

A única coisa que você precisa é de uma versão beta, que nada mais é do que: colocar o coração na ação, se jogar no desconforto, e mostrar quem você é agora, com toda a sua integridade, sem se preocupar com a vulnerabilidade que será, fatalmente, exposta na situação. Pode ser que você não se sinta pronto, assim como eu não me sinto, pode ser que não tenha grana, ou que não goste da letra do site que era a única opção da versão free. Pode ser que nada esteja — ainda — como você gostaria que estivesse, e que tudo o que você criou até hoje seja só um conjunto de incertezas que te dá mais medo de mostrar, do que orgulho de ter feito.

Pois é, são os ossos do ofício.
Mas no final, vai por mim, é o ofício que importa, não os ossos.
É o seu trabalho e a sua coragem de se expor que vão contar.

Sabe aquela apresentação que você fez quando estava super nervoso, tremia de medo e vergonha, mas foi lá e fez? E você lembra que no final, ninguém percebeu que estava nervoso? Pois é. Só notaram que você foi lá, e fez.
Então, meu camarada, não faz bem endeusar ou entrar em pânico em um começo. Começo tem que ser o mais simples e natural mesmo, com toda a serenidade no olhar do que você sabe e pode fazer, no agora.

Porque se a gente deixa de aproveitar a satisfação de ter dado um passo e vencido uma barreira, e começa a sofrer a ausência do que “deveria ser” e não é, esquece que começar é só uma parte do processo e do caminho. E que, por mais perfeito que seja o seu lançamento pro mundo, a única garantia é que tudo o que você fizer depois, vai ser bem melhor.
Então, aprecie o momento, agradeça o começo. Do jeito mais humilde ou sem jeito que ele for. Porque não, nada deveria ser ou estar diferente do que já é, hoje e agora.

E, se tem uma coisa que eu aprendi nessa minha jornada de novos começos desconfortáveis, confusos, não-garantidos e incertos é que: o começo não tem sempre que ser mais bonito e perfeito do que a gente realmente pode fazer.
Ele é o que é. Ele é você. E nada pode ser mais bonito que isso.

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