Bibliotecas e Educação

Tiago Leite
Ideias de Biblio
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4 min readNov 30, 2018

Onde estão as bibliotecas na educação?

Reflexão da participação em um evento sobre educação no país

Ao participar de um grande evento na área de educação, percebi que fazer educação no país é muito mais difícil do que parece, depende de fatores que são dependentes de outros fatores, ligados a fatores muitas vezes desligados. A complicação desses “fatores” altera decisivamente no produto: a educação de qualidade. Acredito muito que a educação seja o principal fator para a formação de um país, quando falo em educação estou relacionando da básica à superior, claro que uma excelente educação básica influencia na excelência da educação superior.

Neste grande evento ainda absorvi uma fala interessante e para reflexão:

“Não adianta discutir escola sem partido, se não há foco na aprendizagem”

Isto é fato (no meu entendimento)! Se nossos estudantes não aprendem, por variados motivos, então eles não têm nem ideia do que pode significar “escola sem partido”.

Quando penso em aprendizagem, talvez pela profissão, me vem à cabeça a biblioteca como espaço determinante nesse processo, pois dá todo apoio pedagógico ao corpo docente, influencia no processo de leitura e interpretação, na disseminação e absorção de informação e na construção de conhecimento. Costumo dizer que o bibliotecário pensa diferente de outros profissionais da educação, por exemplo, no que tange o incentivo à leitura, nada contra outros profissionais, mas o objetivo do incentivo à leitura talvez seja com foco e de forma diferentes, priorizando o tipo de literatura e não a leitura em si, mas enfim, este não é o caso. O grande caso é onde estão as bibliotecas na educação do país? E onde estão os profissionais da biblioteconomia ligados à educação?

No evento que participei, com foco na educação do país, vi muitos profissionais da educação, além de professores, como assistentes sociais, pedagogos, psicólogos, advogados, médico (palestrante), entre outros, de bibliotecário lembro de mim, não conheci outro, talvez tivesse, pois estava num universo de quase 1500 pessoas. Mas a impressão que fica é que não se considera esse profissional como “profissional da educação” também, talvez pelo “sucateamento” das bibliotecas escolares no país.

A questão é bem complexa, já que este profissional deveria estar nas bibliotecas escolares há pelo menos 8 anos, é só lembrar da Lei 12.244/2010, que fala sobre a universalização das bibliotecas nas unidades de ensino do país (agora com data alinhada ao PNE). Com a aplicação dessa lei, bibliotecas seriam construídas nas escolas e bibliotecários contratados, contudo o que vemos é a aplicação desta lei no âmbito federal e talvez estadual, pois as universidades, IFs e escolas federais, contam com este profissional. Nos municípios a coisa é um pouco mais complicada, já que muitos estão quebrados devido à grande crise que assola o país, logo fica a pergunta:

Como construir bibliotecas e contratar profissionais sem dinheiro?

Não sei a resposta, não defendo nenhum partido político e nem estou defendendo a falta de possibilidades que a crise gerou, mas será que se conseguirmos, aos poucos, inserir a ideia de biblioteca na educação não poderemos, enquanto bibliotecários, criar políticas para que esse grave problema seja sanado.

Penso também que muitos municípios têm especificidades quanto a quantidade de alunos na escola devido ao difícil acesso, comunidades específicas ou outros fatores, isso pode implicar na construção de bibliotecas e contratação de profissional específico. Talvez pensando nisso, o CFB lançou a Resolução CFB 199/2018, na qual tem um trecho que fala sobre a possibilidade de um bibliotecário supervisor para o máximo de 4 bibliotecas escolares. Talvez seja um caminho para “(re)iniciar” a trajetória (já existente) deste profissional como “profissional da educação” também.

Vejo muitos amigos e amigas, bibliotecários e bibliotecárias, trabalhando na rede privada de ensino, talvez esta sofra maior fiscalização dos órgãos competentes, ou tenha preocupação em ter este profissional… não sei dizer, mas vi no evento que participei, que a rede privada tem pouca participação nas decisões sobre o ensino no país, não sei explicar o motivo. Logo se tem pouca participação dessa instituição, então é bem provável que haja pouca participação também de seus bibliotecários em eventos como esse.

Ouvi falar muito pouco sobre bibliotecas nesse evento, na verdade não ouvi falar sobre, é como se esse espaço não fizesse parte da educação, de uma escola, da vida do estudante e do ser de uma maneira geral.

Assim, me perguntei onde está a biblioteca na educação?

Talvez saiba a resposta, mas não sei externalizar, pois no próprio Plano Nacional de Educação ela é citada pouquíssimas vezes e sem nenhuma ênfase para a contratação do profissional adequado ou sobre como mantê-la após sua construção. Enfim, a biblioteca é diretamente ligada a educação, mas falta deixar essa ligação mais clara e forte e não ligada por um fio fino que pode ser arrebentar a qualquer momento.

A ideia foi colocar para fora uma reflexão que fiz durante esse evento, o qual considerei muito relevante para minha formação, tanto intelectual, quanto como ser humano. Aprendi bastante sobre educação e vi muitas pessoas que querem fazer dar certo, que querem formar indivíduos pensantes, com identidade cultural, senso crítico, tolerantes, sem preconceito e tantas outras coisas que estão em falta no nosso país.

Por fim, aprendi lá que fazer educação não é simples, mas é de extrema importância para a construção de um país sério, pensante e diversificado!

Sou bibliotecário e mesmo não atuando em biblioteca escolar, eu sou educador!

Tiago

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Tiago Leite
Ideias de Biblio

Mestre em biblioteconomia pela UNIRIO, bibliotecário, estudante, eterno calouro com vontade de aprender continuadamente.