Por que o profissional bibliotecário quase sempre está fora dos assuntos voltados à educação?

Tiago Leite
Ideias de Biblio
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4 min readMar 22, 2019
Uma pergunta com resposta no mínimo complicada…

Não é muito comum ver bibliotecários participando de eventos voltados à educação, como por exemplo eventos sobre educação infantil, básica para a formação do cidadão. Na educação infantil se inicia o hábito e o gosto pela leitura, talvez se fossem aplicadas práticas desenvolvidas por profissionais habilitados para isso, teríamos mais leitores no país e menos pessoas que não sabem interpretar, absorver e disseminar informações e criar conhecimento.

Não que profissionais da pedagogia, professores e outros não saibam incentivar a leitura, mas a biblioteca escolar seria utilizada e administrada por profissionais específicos para tal trabalho, o que aumenta as chances de “produção” de mais leitores. A leitura obrigatória com livros paradidáticos parece fugir daquela “chata” dos livros didáticos, mas, de qualquer forma, ela é obrigatória e tudo que obrigatório, para criança principalmente, soa como algo chato. O profissional correto pode ajudar a criança a entender que o obrigatório não precisa ser chato e pode levar a outros tipos de leitura, atiçar a curiosidade, entre outras percepções, de forma que seja hábito a busca por informações.

Os dois últimos trechos foram iniciados com um “não”, esse “não”, inicia a resposta, que é mais uma opinião minha do que propriamente uma resposta em definitivo para a biblioteconomia.

Não vejo uma biblioteconomia forte no que tange a educação básica, a discussão sobre bibliotecas escolares, sobre o bibliotecário como profissional da educação, sobre o profissional inserido em todo o sistema educacional.

Vejo a biblioteconomia discutindo várias outras temáticas, que são tão importantes quanto essa que falo. Não é objetivo diminuir todas as outras conquistas que a área fez no decorrer do tempo, ou sobre os temas que mais aparecem em eventos biblioteconômicos. O objetivo é entender o porquê de não estarmos inseridos mais fortemente na educação básica do país, já que no ensino superior estamos sempre lá, presentes.

Por que nós somos necessários somente na “última” fase da educação e não em todo o processo, desde a base?

Será que é por conta das exigências do MEC ou da maior fiscalização dos órgãos competentes em instituições de nível superior?

Discutir o bibliotecário na educação, desde a básica, não é só fazer relações ou conexões com exigências da lei, que também são importantes obviamente. A extensão do tempo na lei 12.244/2010, que fala sobre a universalização das bibliotecas escolares e obrigatoriedade de bibliotecários, passando de 2020 para 2024 para ficar em consonância com o PNE 2014–2014, é algo pouco exposto, notícia que se fala quando saí e depois fica quase que esquecida pela área. Não vi muita discussão também sobre a resolução 199/18 do CFB (parâmetros para bibliotecas escolares), na parte que fala sobre a obrigatoriedade de um bibliotecário supervisor para no máximo 4 bibliotecas escolares.

O que isso impacta nos orçamentos das prefeituras e estados, há viabilidade?

E para os profissionais?

Serão realmente contratados?

Como estão essas bibliotecas?

Essas bibliotecas existem?

Dentre essas questões, há várias outras voltadas para essa preocupação, como por exemplo por que o bibliotecário é, quase sempre, esquecido quando se fala em eventos sobre educação, ou será que o bibliotecário se envolve ou tenta se envolver?

Percebo que o bibliotecário não é lembrado como profissional da educação pelos profissionais que nela trabalham e nem pelos próprios bibliotecários. Isso pode ser consequência da própria área (não lembro desse foco na minha graduação) e devido a discussão, acho eu, sobre sua obrigatoriedade no espaço educacional, lembro que o que é obrigatório, somente por ser obrigatório, é chato, talvez assim pensem os que administram a educação.

Assim, alguns questionamentos ficam no ar, como por exemplo:

Por que há resistência em se ter bibliotecários nas escolas?

O profissional pode mudar isso? De que forma?

Sua importância na educação, dede a básica, é importante, mas como fazer perceberem isso?

Há corporativismo entre os profissionais da educação (pedagogos, professores, etc.)?

Em relação aos cursos de graduação, o que colocam quando se falam em bibliotecas escolares e a forma de se trabalhar com elas?

O bibliotecário também é educador, mas como se afirmar para os outros educadores?

Qual a real relação entre educação e a biblioteconomia? Como isso é visto pelos profissionais da área?

Somente as leis são necessárias para garantir bibliotecários? Outros fatores devem ser considerados? Se sim, quais?

A afirmação como educador e como importante no processo da educação desde a base, pode influenciar na “aceitação”, do bibliotecário como profissional importante no processo educacional?

Tenho feito esses questionamentos nos últimos tempos, não consegui resposta concreta para todos e novos estão surgindo, tenho considerado muito essa discussão.

Criticar por criticar não leva a caminho nenhum. Criar conhecimento e a partir disso discutir, gerar medidas, políticas, etc., pode ser um caminho para mostrar o quão importante somos para a educação desde a base, caso contrário continuaremos a reclamar das mesmas coisas sem fazer nada para mudar a realidade.

Me vem à cabeça a minha participação na CONAE 2018, um evento voltado para o desenvolvimento da educação no país, onde estavam os bibliotecários nisso, já que poucas iniciativas sobre bibliotecas escolares temos no PNE?

Estas são apenas opiniões e pensamentos, espero não ter me equivocado em algo.

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Tiago Leite
Ideias de Biblio

Mestre em biblioteconomia pela UNIRIO, bibliotecário, estudante, eterno calouro com vontade de aprender continuadamente.