Projetos em bibliotecas escolares
Será que é “só” incentivo à leitura?
O primeiro texto dessa “brincadeira” foi difícil de sair, talvez não pela dificuldade de escrever (não que eu ache fácil), mas pela complexidade que foi para escolher um assunto. Claro que rola um certo receio pela receptividade dos outros, mas resolvi relaxar e apenas escrever, já que um dos objetivos deste local é auxiliar a escrita e proporcionar (tentar) a discussão sobre assuntos ligados a biblioteconomia.
A escolha do assunto, coisa bem difícil, passou por coisas que tenho estudado e me empolgado, porém percebi que falar da minha atividade profissional pode ser interessante, já que aborda um dos temas que gosto, como projetos em bibliotecas escolares desenvolvidos por bibliotecários.
Para o desenvolvimento de projetos realizei uma pesquisa prévia, até para analisar o que tem se desenvolvido pelos profissionais das bibliotecas. Percebi que quase todos que localizei se tratavam de forma direta ao incentivo à leitura, coisa obvia pensando em biblioteca, claro! Muitos dos projetos que vi se tratam de troca-troca de livros, clube de leitura, contação de histórias entre outros.
Considero importantíssimo, nós bibliotecários, realizarmos o incentivo à leitura, principalmente porque a leitura nos faz ler melhor, escrever melhor, aprender mais e tantos outros benefícios que ela traz (opinião minha)! Porém será que devemos trabalhar com projetos que visam somente o incentivo à leitura? Incentivo à cultura, inovação, empreendedorismo, argumentação e outros temas podem ser abordados por uma biblioteca escolar?
Para contextualizar tudo tenho que falar um pouco de mim enquanto profissional. Sou bibliotecário, atualmente, em uma instituição de ensino técnico profissionalizante, não trabalho com o ensino básico, somente técnico. Meu primeiro trabalho como bibliotecário foi em uma instituição de ensino básico, passei por uma universidade e por uma biblioteca pública até chegar onde estou hoje, a última me ajudou bastante a entender como funcionam os projetos oferecidos aos usuários.
Voltando ao assunto, desde que iniciei os trabalhos na atual instituição, fiquei bastante preocupado com o incentivo à leitura, porém o primeiro projeto desenvolvido pela biblioteca era relacionado ao outubro rosa, mês de conscientização relativo ao câncer de mama. Era a biblioteca trabalhando com conscientização dos alunos e aplicação dos seus conhecimentos para isso, uma vez que os alunos utilizaram suas competências (curso na área de TI) para passar informações a outros alunos com o uso da tecnologia de realidade aumentada, por exemplo, assim a biblioteca estimulou a produção de conteúdo. O segundo projeto também foi de conscientização relacionado ao novembro azul (câncer de próstata). Os alunos além de produzirem conteúdo para apresentarem a outros alunos, fizeram uma peça de teatro que abordou o preconceito masculino com o exame de próstata, ou seja, o estimulo a cultura, com a produção de uma pequena esquete. O terceiro projeto também foi de conscientização, foi abordado o Dia da Consciência Negra, foram apresentados vídeos e aconteceu um debate. Além da emoção causada pelos vídeos (alguns alunos choraram com as cenas), a biblioteca estimulou a argumentação deles, a forma de se expressar, de colocar suas opiniões e se promoveu enquanto local voltado à promoção leitura, troca de ideias e aberto à discussão.
Estes projetos não tiveram como ponto principal o incentivo à leitura, mas o objetivo de informar, conscientizar, promover a criação de conteúdo e conhecimento, estimular o uso das competências dos alunos, funcionar como disseminadora de informação entre outros pontos.
A educação foi além da leitura (incentivo), percebi que o bibliotecário também é um educador!
Esses tipos de projetos podem, além de tudo dito aqui, promover a biblioteca escolar principalmente como ponto de troca de ideias.
Vários outros projetos nessa pegada de conscientização, produção de conteúdo, apresentação e venda de ideias e até mesmo de incentivo à leitura, foram realizados, essa variedade é marca das bibliotecas da instituição, os bibliotecários têm de ser (e são) criativos.
O último projeto desenvolvido na “minha” biblioteca, foi relacionado à educação, tentamos abordar temáticas voltadas a educação dos alunos, mas o principal objetivo foi ouvi-los, por isso foi proposto um debate de forma mais descontraída. Foram abordadas as dificuldades que os alunos enfrentam para ter educação em sua localidade, a falta de investimento na educação e impacto nas suas vidas, a PEC 241, o futuro da educação e a importância do livro na educação dos alunos. Todos os assuntos foram abordados com isenção de ideias políticas, econômicas, sociais ou sejam lá mais quais ideias hajam. As opiniões dos alunos foram muito interessantes, a biblioteca passou informações que desconheciam (PEC 241) e ouviu deles a sua realidade, assim, além de trabalhar o debate em si, percebemos como podemos atendê-los,o que esperam de nós e promovemos o nosso trabalho e a biblioteca. Pudemos, inclusive, realizar o incentivo à leitura, indicar que é importante para seu desenvolvimento pessoal, profissional e intelectual. O cuidado que devemos ter é não colocar a leitura (recreativa) como algo ruim, pelo contrário, a leitura tem que ser prazerosa.
O objetivo aqui foi tratar alguns projetos desenvolvidos pela “minha” biblioteca escolar, em quase dois anos na instituição que trabalho atualmente percebi que os projetos devem abordar variados temas, não que o incentivo à leitura não seja importante, mas não devemos nos privar somente a ele, ainda mais quando a instituição incentiva a aplicação de projetos variados. Podemos desenvolver projetos para a promoção e uso da biblioteca de diferentes formas, explorar as competências dos nossos usuários (podem se sentir mais incluídos nos processos) e as nossas, propor a criação de conteúdo, estimular os debates, aguçar a curiosidade, entre outros (esses são exemplos meus).
Essa é a minha opinião!
O que acham dela e como a sua biblioteca aborda os projetos desenvolvidos?
