Produto e síndrome do heroísmo

Thais Choutick
iFood Tech
Published in
5 min readNov 21, 2018

Desde que entrei no iFood, há uns bons 7 meses, tenho trabalhado com Produto. Uma área que só descobri quando cheguei aqui. Gosto de usar uma frase do meu chefe para explicar o que é a área de produto: “uma área que envolve design, tecnologia e negócios”.

Eu, que vim com um background totalmente técnico — formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, apaixonada por artes visuais e por entender as dores do cliente — me deparei com um universo gigantesco, cheio de expectativas e responsabilidades.

Nós, produteiros, somos os donos das features, as pessoas que sonham e que ajudam a tornar realidade esses sonhos. Até a próxima vírgula.

Quando virei produteira, passei a me defrontar com uma coisa que chamo de “síndrome do heroísmo”. A síndrome do heroísmo nada mais é do que a incrível habilidade de abraçar as dores do seu produto de tal maneira que tudo parece ter urgência para ser resolvido. E a sensação de que tudo pode ser resolvido por você, ou partir de você.

Meu mundo caiu

Me deparei então com um cenário quase desesperador: um montão de problemas para “resolver”, várias equipes com que conversar e um monte de barreiras para quebrar (prioridades, metas e pessoas). Já teve a sensação de que tudo ao seu redor está desabando? (um pouco dramático, bem estilo novela mexicana rs).

“Como assim não estão priorizando isso?! Só precisa de uma forcinha”, “Mas isso aqui faria tanta diferença, a gente merece ter um produto animal”, entre vários outros pensamentos invadiram minha mente.

Aquela “ira santa”, o sentimento de justiceira, bateu na porta. Ou melhor, chegou arrebentando tudo. E agora?

Quero remover um item da sacola!

Quando eu usava o iFood para pedir comida em casa, sempre fazia aquela famosa cotação do valor da taxa de entrega e dos itens que eu queria comprar nos restaurantes. Mas editar, remover ou colocar uma observação em um item da sacola não era nada fácil.

Quer excluir um item? Aperte no menos até chegar no zero :(

Logo que comecei a trabalhar no iFood, fui introduzida ao universo de dados e métricas do app. Um dos primeiros pontos que eu quis explorar com dados foi justamente a experiência de edição na sacola.

Quantas eram as pessoas que precisavam diminuir a quantidade de itens um por um para esvaziar a sacola e montar outro pedido? Ou que tinham que fazer isso porque simplesmente não conseguiam adicionar uma observação depois que o item já estava na sacola?

Na época, as prioridades do meu time eram outras. Tínhamos muitos projetos para nos preocuparmos, como a carteira de cupons, por exemplo. (sim, ela existe)

Martelava na minha cabeça o fato de que havia algo que potencialmente agregaria valor para os usuários, e que também era um gap no nosso aplicativo, mas que não estava sendo priorizado. Como podíamos pensar em projetos novos sem resolvermos problemas básicos como esse?

O tempo passou, a indignação também e a aceitação disse “Oi”. Quando decidi seguir o baile, de repente, apareceu um projeto novo no nosso roadmap e eis que surge a edição na sacola. Demorou, mas chegou.

Começamos a trabalhar nesse projeto e, em duas semanas, tínhamos como editar observação, remover e editar itens da sacola de um jeito mais fácil.

Agora foi! :)

Equilíbrio é tudo, não é, migues?

Não precisa se descabelar para resolver um problema que, inevitavelmente, terá de ser resolvido em algum momento. Esse momento pode demorar, mas uma hora chegará.

Não é de uma hora para outra que a chavinha vira na sua mente. Mas, com o tempo, você aprende quais lutas vale a pena lutar. Compreende a visão a longo prazo, por que algumas decisões são tomadas, e como encaixar as dores dos usuários e as melhorias de produto no meio de tudo isso.

Muitas vezes, a estratégia da empresa não vai englobar tudo aquilo que você acredita que vai agregar valor ao produto. O que não significa que suas hipóteses não são importantes ou que não merecem ser abordadas.

Tudo é válido, muita coisa é importante, mas não vai cair o braço do usuário se ele não tiver aquela feature que você tanto espera para resolver determinado problema, certo?

Equilíbrio é tudo, principalmente o mental (respire fundo e vai). É importante compreender a visão da empresa, para onde ela está indo, para então entender o que encaixa e pode ser priorizado no momento presente.

Uma dica que dei a mim mesma: mapeie tudo o que puder, entenda as movimentações da empresa e levante a bola no momento oportuno. E acredite, ele virá.

Como não amar produto?

O ponto positivo de não termos um produto perfeito ou ideal é que sempre teremos trabalho a fazer. Assim não perdemos nosso emprego e nossa fonte de dinheiros (bolsoneiros, jairs, elenãos…).

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Quero listar aqui meus motivos para amar essa área que tem conquistado meu coração:

  1. Produto de comida, como não amar? (e engordar… rs)
  2. É maravilhoso ver o impacto daquilo que você faz no dia a dia até nas mãos das pessoas mais próximas.
  3. Criatividade e espaço para criar? Habemus!
  4. Tecnologia é nossa maior parceira.
  5. Sempre fazemos um tour pela empresa e conhecemos novas pessoas para resolvermos nosso B.O.s.

Às vezes, é bom ter uma síndrome do heroísmo, mas só se for controlada e bem direcionada. Porque, afinal de contas, tudo é válido quando pensamos em melhorar a vida das pessoas com nossos produtos. ❤

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