Ensinando o Scrum para mulheres devs

Stefânia Viana
iFood Tech
Published in
6 min readOct 31, 2019

Tive a missão de ensinar Scrum para futuras desenvolvedoras back-end que ainda não conheciam a agilidade e o framework do Scrum.

As mulheres da turma de back-end Meli {reprograma}

Esse mês tive a oportunidade de experimentar uma outra profissão. Por 3 dias, além de ser Product Manager na tribo de Restaurantes no iFood, fui professora de Scrum para as mulheres da turma de back-end Meli da {reprograma}.

E que honra foi falar para mulheres que, em sua maioria, ainda não conheciam a agilidade e o framework Scrum!

A {reprograma} é uma iniciativa de impacto social. Ela foca em ensinar programação para mulheres cis e trans que não possuem recursos e/ou oportunidades para aprender a programar. Essa iniciativa promove a redução do gap de gênero no setor de tecnologia por meio da educação.

Eu sempre fui fã da {reprograma}. Há 2 meses, eles divulgaram que precisavam de uma professora para dar aula sobre Scrum. Enviei meu currículo sem pensar duas vezes e enfatizei o quanto gostaria de ter essa oportunidade.

Conhecendo as alunas

Resultado? Fui chamada! Comecei a pensar que tipo de conteúdo iria apresentar para realmente colaborar para o sucesso profissional dessas mulheres. Seriam 3 dias para plantar a semente do ágil no coração de cada uma.

No meu primeiro contato com a turma, pedi para que elas se apresentassem. Descobri um grupo muito diverso em idade (22 a 43 anos) e experiência de vida. Tínhamos entre nós: cozinheira, bancária, mães de família e mulheres que não tiveram a oportunidade de fazer uma graduação.

O comum entre todas eram os sonhos: elas sonham grande.

Foi emocionante perceber o quanto elas estão se dedicando a essa nova possibilidade, a essa nova profissão como desenvolvedores. Um novo caminho para realizar sonhos que haviam sido deixados para trás.

Mas o que é o Scrum?

Para quem não conhece, o Scrum é um framework para gerir o desenvolvimento de produtos complexos usado desde os anos 90. Ele não é um processo, uma técnica ou um método definitivo. É um framework que permite utilizarmos diversos processos e técnicas. (definição retirada do Guia do Scrum, 2017)

O framework Scrum é considerado ágil por honrar todos os itens do manifesto ágil. E quando pensamos nele, geralmente visualizamos somente os papéis, cerimônias, artefatos e time box.

Mas eu senti a necessidade de passar mais do que isso nas aulas.

Queria mostrar a elas a essência do scrum, que é orientar o time a se comunicar sobre o que está executando, sobre pendências e, principalmente, sobre o que podem fazer melhor na próxima sprint.

Precisava falar pra elas que os erros são bem-vindos e que o importante é aprender com eles. O Scrum cria uma liga entre o time. Mostra o quanto é importante o planejamento coletivo antes de iniciar uma atividade, com cada um contribuindo com sua visão e conhecimento para chegar à resolução do problema.

O Scrum na real

Como estudantes de desenvolvimento back-end, elas ainda estão aprendendo sobre como funciona uma empresa de TI, um time de desenvolvimento, o conceito de squad e o papel de cada um dentro do desenvolvimento de software.

Por isso, optei por falar de Scrum para além de conceitos, papéis, artefatos ou eventos. Como já mencionei, minha intenção foi transmitir o real sentido do Scrum, do ágil, dentro de uma empresa.

Na primeira e na segunda aula, apresentei os conceitos do Scrum. O objetivo era que elas conhecessem a metodologia a ponto de conseguirem ser críticas com os processos de trabalho que encontrarão em suas futuras empresas.

Na terceira aula, a turma foi divida em 6 grupos em que cada um teve que escolher um produto para ser desenvolvido pelo time. Em seguida, elas definiram a visão dos seus produtos e atribuíram papéis a cada membro do grupo. Os papéis eram:

  1. PO (product owner): dono do produto, responsável por refinar as histórias levantadas com o Time de Desenvolvimento. Após refinamento, o PO prioriza as histórias que serão entregues na sprint.
  2. Scrum Master: responsável por garantir que o Scrum seja utilizado corretamente por todos. Também cuida para que o time não tenha impedimentos e conclua o objetivo de entregar a sprint planejada.
  3. Time de Desenvolvimento: precisa entender o contexto das histórias incluídas no backlog e estimar se as atividades geradas a partir delas cabem dentro da sprint. Também é responsável por entregar o incremento do produto.

Nesse exercício não houve desenvolvimento de código, apenas desenho de telas. O resultado final do trabalho foi muito interessante! As alunas me surpreenderam criando produtos que de fato resolviam problemas do dia a dia.

A importância das histórias para Devs

Por eu ser Product Manager, queria mostrar o real impacto do Scrum no produto. Por isso, mesmo não estando exatamente dentro do escopo, apresentei pra elas o que são as histórias.

Falei sobre como as histórias são escritas e sobre o que elas precisam ter: cenário atual, cenário esperado, contexto, qual usuário executa a atividade, que módulo do sistema será afetado, regras etc.

Queria que elas entendessem a importância do papel delas com desenvolvedoras ao receber uma história, ajudar a refiná-la na planning para, então, gerar as tasks que, após desenvolvidas, incrementarão o sistema.

Se a abordagem fosse somente o framework, não seria possível refletir sobre dia a dia de um time Scrum. Todas as cerimônias e artefatos são necessariamente baseados nas histórias que serão priorizadas e desenvolvidas em cada sprint.

Na sprint, o Dev vai receber uma história que vai dizer a ele, de forma negociada, o que deve ser feito. Vai dizer qual usuário está solicitando, qual o motivo da solicitação, quais os critério de aceitação da história etc.

O Time de Desenvolvimento então analisa as histórias e as quebra em atividades que remetam a etapas que precisam ser executadas para que cada história seja entregue. Por isso, é importante que a Dev entenda não só a história, mas todo seu contexto e seja crítica sobre regras e priorização de cada história dentro da sprint.

Expectativa e realidade

Na primeira aula pedi que elas escrevessem no quadro suas expectativas com as aulas. A maioria queria saber como o Scrum poderia ajudá-las a serem boas desenvolvedoras e, no dia a dia, com a rotina de estudos.

Eu e as expectativas

A partir das expectativas listadas por elas, foquei em mostrar o Scrum além de um framework que dita como, quando e por que o time deve se reunir.

Mostrei a elas, a partir do papel do PO, técnicas de priorização de atividades diárias e até mesmo conteúdos a serem utilizados, pensando sempre no ROI que será obtido para tomar as melhores decisões.

Também apresentei o conceito de MVP para estimular que elas testem soluções com o mínimo. Como Time de Desenvolvimento, vimos a importância de planejar e de olhar os detalhes para evitar as surpresas. Devemos trocar conhecimento e experiências para auxiliar nossos pares a concluírem suas atividades de forma mais simples.

O Scrum Master sabe a importância de identificar e resolver impedimentos. Algumas atividades/projetos/sonhos não poderão ser concluídos se não identificarmos os impedimentos e resolvê-los ou mitigá-los.

Aprendizados de ser professora de mulheres incríveis

Essa realmente foi uma das melhores experiências que tive em 2019. Tanto por ser algo muito diferente da minha rotina quanto por saber que eu ajudei no processo de transição dessas alunas para profissionais capacitadas.

Espero ter essa oportunidade mais vezes. Poder ensinar, compartilhar e também aprender é algo que só se vive dentro de sala de aula.

Da próxima vez, olhando para como preparei as aulas, acredito que introduziria a atividade de criar um produto desde o primeiro dia e iria trabalhando os conceitos do Scrum durante as atividades. Uma forma mais dinâmica, em que a aprendizagem ficaria ainda mais fácil.

Que as mulheres da {reprograma} inspirem todos que lerem esse artigo a se desafiarem e a buscarem a coragem e a força para correr atrás dos seus sonhos! =D

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