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A cultura do design dentro das empresas

A díficil arte de articular conceitos, falar de negócios, pensar em pessoas sem tirar o foco dos resultados.

Igor Baliberdin
Igor Baliberdin UX Designer
5 min readDec 12, 2018

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Criar cultura de design em empresas de qualquer seguimento é sempre muito difícil, em outros casos é impossível. Mas como fazer isso ou começar a fazer da maneira menos traumática possível?

Assim como em UX design, precisamos exercitar a empatia, afinal você levou pelo menos 5 anos para sair de uma universidade com uma noção do que é design, por que raios achamos que o outro deve ter consciência disso de uma hora para outra? Mas nem sempre pensei assim. Esse aculturamento é chato boa parte das vezes não pela tarefa em si, mas pelo comportamento reativo que sempre encontramos no meio do caminho. Coisas como: “queremos ser inovadores, disruptivos…”sempre vem acompanhadas de mensagens nas entrelinhas do tipo: “mas vamos com calma, somos tradicionais” ou algo do tipo ou daí para pior.

Desde que saí da faculdade e comecei minha carreira na área de tecnologia, sempre gostei de questionar o meio em que vivemos e principalmente minha missão enquanto designer, questionando o por quê de se investir energia em algo que não possui um propósito definido. Sempre achava que as pessoas estavam mais presas na forma do que na função. Eu trabalhei em agências de propaganda por 10 anos e isso era uma constante, chegando até a escutar uma vez: “você não está aqui para resolver problemas” ou pior: “o cliente não quer isso.” — normalmente ele nem sabe o que quer — mas isso não era uma preocupação destas incubadoras de ego.

Mas aí surge uma galera que vem trazer uma visão sobre o design muito mais alinhada com os negócios e ditou-se novos rumos do mercado, entre estas empresas estão o AirBnB, Uber, Booking entre outras. Departamentos de design foram surgindo dentro das empresas, consultorias de design foram aparecendo no mercado e a função das agências de propaganda foram começando a ser questionadas: modelos de negócio, entregas, metodologias (essa parte nunca foi o forte das agências) e daí por diante…

O aculturamento só começa a ganhar força quando o designer passa a falar a língua de quem investe grana no negócio, antes disso tudo não passa de “papo de maconheiro” — sim, tem gente que descreve dessa forma — e então, ao ver os discursos viajados tomando forma e gerando lucros, que o mercado começa a entender o designer não só como um pseudo-artista, mas como um elemento transformador dos seus negócios.

Agora junta essa visão questionadora do designer à tarefa de escutar quem vai alavancar seus negócios: o usuário. Uma boa ideia só faz sentido se ela atende a quem ela se propõe vender. Quantas empresas têm grandes ideias mas não sabem o que fazer com elas? Na minha opinião, sempre achei que o Instagram foi a maior comida de bola do Flickr. Conheci grandes diretores de marketing que não sabiam pensar no seu trabalho e adicionar o usuário no mesmo balaio. Esse papo de querer gerar lucro sem se preocupar com quem compra/utiliza seu produto é inviável.

Aí nasce a empatia e a preocupação real do negócio, o tal do propósito.

Quando se tem propósito, se tem 50% de chance do negócio dar certo, você duvida disso ainda? Um exemplo bem claro para mim é o tal do formulário de cadastro. 99,99% das pessoas tem pavor disso pois, além de ser muito chato, vem acompanhado de informações que só servirão para gerar algum CRM que disparará uma avalanche de lixo eletrônico e isso serve para todo tipo de negócio: criação de produtos, serviços, mobiliário, tatuagem, moda, etc.

Aculturamento do design é muito mais que fazer wireframes, layouts, montar mood boards, discutir cores… é sobre fazer as perguntas certas no momento certo. É saber escutar essas respostas e saber o que fazer com elas. Já imaginou que louco seria se você pudesse mensurar suas decisões em design e isso fazer parte de um plano de negócios para definir margem de lucro e investimento? Então, já é assim. Agora imagina a cara dos grandes diretores de empresas quando perceberam que design ia muito além de estética e começou a falar a língua deles? Isso é a tal da empatia. Eles também fazem parte da cadeia de pessoas que precisam ser escutadas, certo? E colocando eles para participar desse processo, contextualizando as decisões e compartilhando os resultados, não fica mais fácil provar a importância do design na tomada de decisão de qualquer negócio?

O aculturamento e a abertura para o design é uma via de mão dupla e só se dará quando o designer:

  1. Parar de querer achar que a sua decisão é unânime;
  2. Parar de achar que o usuário não sabe bem o que quer;
  3. Entender as necessidades de negócio de quem o contrata;
  4. Saber criar valor para o seu negócio e o do cliente.
  5. Fazer o cliente estar presente em todas as etapas de desenvolvimento, da idéia à progamação.
  6. Saber mensurar prazos e cumprir todos eles.
  7. Mostrar resultados através de números, afinal design é lindo, mas se não atende à proposta, não funciona.

Mas também temos a contrapartida de tudo isso:

  1. Empresários precisam acreditar mais na equipe que contratam;
  2. Saber onde querem chegar em termos de resultados em curto, médio e longo prazo;
  3. Ter um negócio com propósito bem definido;
  4. Parar de achar que design é feito para “dar banho de loja” em ideia de negócio ruim. Se começa ruim vai ruim até o final, não existe mágica.

Por fim, devemos investir em comunicação sempre, e nem falo sobre dinheiro mas sim de tempo. É preciso conversar mais e sair dessas conversas com coisas definidas e ideias compartilhadas, objetivos claros e vontade de fazer dar certo. Mais uma vez, não existe mágica. Somos organismos vivos e diferentes mas que em sincronia podemos criar e produzir grandes mudanças.

“Aventuro a tese de que onde há autêntica comunicação, isto é, onde dois seres humanos se abrem mutuamente, o diabo é derrotado.” — FLUSSER, Vilém

Ando seguindo nesse caminho, você faz diferente? Se sim, comenta aqui pra gente e compartilha como vem obtendo sucesso.

Referências:

“O mundo Codificado” — Vilém Flusser

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