Funerais para cães
Por Vittorio Messori
Para nós que somos medíocres, os santos parecem muitas vezes exagerados. O Santo Cura d’Ars, que Pio XI proclamou patrono do clero mundial, costumava se expressar com uma frase que muitos consideram excessiva: “Deixe um país sem padres e depois de um ano ele estará adorando bestas”.
Note que, em sua época, ainda não havia vestígios de uma das ideologias que marcam nosso tempo, o animalismo, que exige não apenas o respeito sacrossanto por toda criatura de Deus, mas que considera os animais iguais ou superiores aos seres humanos. Dignos de serem cuidados não apenas como filhos, mas também dignos de imitação, por suas “virtudes”, que seriam superiores às nossas.
Em Auvelais, nos arredores de Bruxelas, sobrevive uma das poucas igrejas belgas, não apenas por estar ainda aberta, mas também porque é assistida por um padre fixo (o que é surpreendente aos nossos ouvidos!). Ela enfrenta uma queda cada vez mais frequente de fiéis, mesmo em missas festivas, e tem que lidar com recursos econômicos escassos.
Na Bélgica, seguiu-se o exemplo francês da Terceira República maçônica, uma rigorosa separação entre o Estado e a Igreja, de modo que não há destinação de recursos para esta última, ou um salário, por menor que seja, para o clero. O dinheiro para o sustento dos sacerdotes e para as despesas do dia a dia, para a salvaguarda de um grande edifício antigo e artístico como uma igreja, tem que vir dos fiéis. Mas se estes são poucos e pobres, quase todos idosos aposentados e alguns imigrantes sul-americanos e filipinos, seria necessário recorrer à diocese, ao bispo, à cúria. Mas também ali a pobreza está crescendo. Até mesmo a hierarquia sobrevive com dificuldade, em grandes episcopados, agora semi-desertos e de manutenção cara.
Eis, então, que o pároco de Auvelais teve uma ideia: se até mesmo os funerais para os humanos diminuem continuamente, enquanto as cremações avançam, por que não angariar recursos oferecendo funerais para cães e gatos?
Não se está a julgar ninguém, embora haja certo desconforto. O fato é que há alguns meses, naquela igreja paroquial belga, entre estátuas de santos e pinturas de cenas evangélicas, celebrou-se o funeral de uma tal Miss Chiwa, uma cadela chihuahua de onze anos de idade, cuja dona não se resignou com a sua morte. Parece que, com o funeral na igreja, celebrado por um padre, ela esperava ter a garantia de encontrar sua companheira predileta na outra vida.
O boato se espalhou e a coisa agradou tanto, que chegaram reservas para funerais de todas as partes do país.
Não, São João Maria Vianney não havia exagerado. Infelizmente, aquele padre extraordinário de Ars, confirmou mais uma vez a sua fama de profeta.
(Texto publicado no dia 14/01/2017 na revista italiana Il Timone.)
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