Os meninos e a internet

Soluções para uma sociedade engolida pelo redemoinho da perversão sexual

Lumen ad Viam
Igreja Hoje

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Por Sean Fitzpatrick

Problemas normalmente são mais evidentes do que soluções. Em um artigo recente, escrevi sobre o obstáculo que a pornografia na internet introduz à educação de meninos, pois lhes ferem a percepção da beleza e do sagrado. Lembrei-me de como os efeitos dessa “droga” eram tais, que o meu antigo diretor de internato era reticente em lhes permitir o ingresso naquela cultura acadêmica católica; e que, agora, eu mesmo como diretor, sou confrontado com preocupações similares, exponencialmente majoradas, já que, hoje em dia, praticamente todos os meninos foram prejudicados pela pornografia. Mas isso não quer dizer que aqueles que foram feridos devam ser jogados aos lobos.

Em resposta às consultas de vários comentários sobre o que pode ser feito em relação aos efeitos da pornografia e sua interferência em uma autêntica educação, ofereço três medidas que eu e meu pessoal docente costumamos empregar, estratégias que funcionam com meninos que foram vítimas de uma sociedade engolida pelo redemoinho da perversão sexual. De início, deve-se reconhecer que alguns desses recursos são extremos e difíceis na prática, mas problemas extraordinários exigem soluções extraordinárias.

Se a internet te faz pecar…

Uma forma de eliminar a atração e inércia diante da pornografia na internet é eliminar a internet. Na nossa escola, uma política de pobreza tecnológica é obrigatória e absoluta. Os meninos não têm acesso a computadores ou telefones celulares. Em vez disso, eles leem livros e escrevem no papel. Embora o objetivo geral desta regra não seja simplesmente evitar a presença da pornografia da internet, ela atinge esse fim específico. Desconectados da web, os meninos não acham imagens pornográficas tantas vezes quanto eles podem quando estão online, e, certamente, a tentação para acessá-las é erradicada.

A tecnologia digital é projetada para distrair, e pornografia online é a principal das distrações. Propicie retiro aos jovens. Dê aos alunos as normas e valores eternos pelos quais eles possam julgar as condições materiais e sistemas, em um ambiente que não têm de competir com as dissonâncias e tentações da internet. Deixe-os conhecer o uso correto desses dispositivos, apenas depois de aprenderem o uso correto de suas mentes e corações. É melhor promover as habilidades naturais ao invés de as perder para hábitos ruins e viciantes, como a pornografia. Os jovens tendem ao abuso. Portanto, dê-lhes a oportunidade de fortalecerem o intelecto, princípios e disciplina, removendo-os da influência dos males online.

Embora a internet ofereça uma infinidade de produtos, não é, necessariamente, uma ferramenta que seja apropriada aos jovens, dada a disseminação e prevalência da pornografia. O poder do mundo virtual é o que a torna especialmente perigosa para aqueles que ainda não estão preparados para a controlar. A internet é a principal fonte de informação hoje, além de ser a principal fonte de pornografia. Às vezes, o bebê deve ir embora com a água do banho. A pessoa precisa estar devidamente formada antes de fazer bom uso das ferramentas disponíveis. A arte da educação é sobre os mistérios das realidades interna e externa, de modo que é melhor deixar de fora desse quadro a realidade virtual, juntamente com os seus aspectos que retardam a educação, como a pornografia.

Falar sobre pornografia

O silêncio sobre o tema “pornografia” está entre as suas maiores forças. Poucos se sentem à vontade falando sobre pornografia, então se fica sem falar nada; e assim ela segue sem impedimentos. No entanto, conforto neste tipo de conversa, é mais comum sob o comando de adultos falando para jovens. Estando o adulto confiante e confortável, a confiança e o conforto podem se estender para o jovem adulto. Na minha experiência, um diálogo objetivo com adolescentes sobre pornografia, é recebido com uma espécie de gratidão ao invés de tristeza. Pornografia é um fato na vida dos meninos e, se tratada sem hesitação ou medo, os adultos ganham uma vantagem retórica na discussão, dispensando a necessidade de constrangerem. Pornografia é um tabu, mas não como um assunto de debate franco com aqueles que são o seu alvo e têm sido contaminados por ela.

Assim como os pais e professores em geral, não se furtam de falar diretamente aos jovens colocados sob seus cuidados, em relação a atos homossexuais, aborto, e outros erros que grassam em nossa cultura, também deve a pornografia se juntar a esses temas; especialmente porque os jovens rapazes são mais susceptíveis de serem atraídos por ela do que por qualquer outro tipo de corrupção moral. Para o evitar, é uma falta de responsabilidade negar a condição em que todos os meninos estão: um estado de dano causado pela violação generalizada da santidade humana. Pornografia está entre as doenças do nosso tempo, e deve ser abordada mesmo correndo-se o risco de algum constrangimento.

A pornografia é, em sua essência, uma mentira; e uma maneira infalível de combater a falsidade é a verdade pura e simples. Conversas sobre pornografia, francas e equilibradas, podem repelir sua influência de forma mais eficaz do que qualquer outro filtro parental. Tendo em conta que todo o mundo está exposto à pornografia, os católicos têm o grave dever de a colocar em evidência e a ter como inimiga, falando sobre ela minuciosamente e sem pedir desculpas, especialmente para os jovens.

Ensine o encantamento

A medida final para corrigir as distorções da pornografia é, de certa forma, a mais difícil, porque envolve a restauração do que é, até certo ponto, irrecuperável. A pornografia destrói a inocência, e a tragédia inerente é que a inocência não pode ser restaurada. Uma vez perdida, nunca mais. Alguns dos atributos da inocência, no entanto, podem ser recuperados. O encantamento é um deles, e é essencial para a arte da educação. Para um adolescente cuja pureza foi perdida pela pornografia, encantamento pode parecer tolice. Os professores devem, pelo exemplo e demonstração, ensinar o encantamento.

A adolescência é uma idade inquieta que queima como o fogo, onde as verdades da infância são de alguma forma perdidas. De repente, o adolescente sente-se distante e cheio de desejos de algo inexplicável, aquele final feliz que ainda não foi atingido. A beleza, matéria prima dos sonhos impossíveis e desejos, torna-se inacessível. Esta é a vulnerabilidade de que a pornografia se aproveita, lançando almas no desgaste do desespero ou da dúvida.

No entanto, é a idade certa para admirar, embora tantas vezes se roube a possibilidade de experimentar a admiração pura. O papel dos educadores é renovar e reanimar a capacidade de encantamento. O encantamento é uma maneira dos alunos lidarem com suas contradições internas e os ajuda a compreender os mistérios para os quais eles são atraídos a contemplar por meio da sabedoria. Os professores devem reintroduzir o ato de pensar, e auxiliar no fornecimento do que T. S. Eliot chamou de o correlato objetivo, dando forma e significado às coisas que estão manchadas com a experiência da pornografia. Ensinar encantamento envolve uma reação transparente com o poético, saboreando abertamente a sublimidade da criação e da emoção. Surge em adolescentes um apetite por princípios, bem como por prazeres. Esta dupla preocupação é muitas vezes um esforço para descobrir quem eles são e como eles se encaixam em seus arredores. O encantamento luta com realidades, e como tal, é o reverso e o remédio dos festejos irreais da pornografia.

(Texto publicado em 06/11/2014 na revista Crisis Magazine.)

(Veja também os demais artigos da Coleção Igreja Hoje.)

O norte-americano Sean Fitzpatrick é Diretor da Gregory the Great Academy.

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