Eis o Tempo de Conversão!

Quaresma 2020

Pr. Diego Avlis
IgrejadeCristo
4 min readFeb 25, 2020

--

Estamos iniciando uma nova estação no calendário cristão e com esta nova estação somos impulsionados a novos hábitos discipuladores, visando a convergência de nossos amores e nossos impulsos à Cristo e o Seu reino — afinal, essa é a intenção do ano cristão.

A estação que iniciamos é a Quaresma. Ela é assim chamada porque dura quarenta dias — da quarta-feira de cinzas ao sábado anterior ao domingo de Ramos — , em referência aos quarenta dias que Jesus passou no deserto, além dos quarenta dias do dilúvio e dos quarenta dias de Moisés e Elias na montanha.

Se formos buscar as origens deste tempo na história da Igreja veremos que inicialmente ele era um período destinado a preparação mais intensa daquelas pessoas que iriam receber o santo batismo na Vigília da Páscoa. Ao longo do tempo essa observância passou a ser feita pelos demais cristãos como um período de renovação em correspondência aos quarenta dias de jejum de Cristo.

“ A Quaresma é uma temporada que nos convida ao deserto, uma experiência tão comum para o povo de Deus. Porém o cristão não vai ao deserto para encontrar Deus, pois já o encontrou em Jesus Cristo. Mas quando Deus nos chama ao deserto Ele o faz para nos santificar, e este processo não é em nada confortável, pois se há algo que os desertos não são são zonas de conforto” ~ Zé Bruno, A Observância da Quaresma, 2018

Ao observarmos o evangelho proposto para a Quarta-feira de Cinzas, podemos extrair algumas disciplinas que nos ajudam na observância desta importante estação do ano cristão, vejamos:

1 . Caridade

Uma primeira disciplina espiritual proposta pelo Evangelho de Nosso Senhor que muito contribui para a observância quaresmal é a disciplina da caridade.

Caridade é uma palavra que vem do latim “carĭtas” e fala de um amor, uma virtude que nos conduz a entrega a Deus e ao nosso semelhante. Ela é muitas vezes confundida com uma relação de benevolência para com alguém em situação de inferioridade, mas isso é bem diferente do que Jesus nos propõe no Evangelho.

Antes, Jesus nos propõe uma ação de se dar ao outro, de suprir suas pobrezas — que todos temos — com as nossas riquezas — que também temos. E nessa relação de dar e receber todos são supridos e ninguém tem falta de nada.

Quando Jesus nos aconselha a prática destas boas obras, ele afirma que não as devemos realizar em público com o objetivo de sermos admirados pelos outros (Mt 6.1), pois, fazendo isso, desta visibilidade alcançada, já teríamos obtido recompensa. Antes Jesus diz que devemos aguardar a recompensa do Pai que vê aquilo que está em segredo e para isso ele nos aconselha a operarmos boas obras sem quaisquer estardalhaços, visando a promoção pessoal. Antes nossas obras devem brilhar afim de que todos vejam e louvem ao nosso Pai que está no céu (Mt 5.16)

Um outro perigo que a quaresma nos ajuda a afastar dessa disciplina — conforme as instruções evangélicas de Jesus — é a distorção da disciplina da caridade em um assistencialismo seco e sem qualquer relacionamento interpessoal. Antes, nossa doação de vida em função do outro envolve conhece-lo realmente, envolver-se com ele, desenvolver um relacionamento de irmão que apoia e supre, antes de um paternalismo desfuncional que faz do outro seu dependente e não seu irmão (interdependente).

2. Oração

Uma segunda disciplina essencial a observância da Quaresma é a disciplina da oração.

Por meio da oração nos deixamos ser conhecidos por Deus em nosso mais profundo íntimo e conhecemos a vontade de Deus para as nossas vidas. É por isso que Jesus mais uma vez nos aconselha a nos afastarmos do exibicionismo no exercício da disciplina da oração, antes a oração deve ser íntima, uma conexão pessoal com Deus, representada pelo entrar no quarto e fechar a porta para que o Pai no segredo nos olhe.

Como disse Zé Bruno:

“A Quaresma é um tempo de quebrantamento, de contrição, de arrependimento. É uma oportunidade de ‘convertermos nossa alegria em tristeza e nosso riso em pranto para nos humilharmos diante do Senhor’” ~ Zé Bruno, A Observância da Quaresma, 2018

É por isso que a oração combina tanto com a Quaresma — mesmo que seja parte da observância de qualquer outra estação do ano cristão.

3. Jejum

Uma terceira prática que muito contribui para a estação da Quaresma é a disciplina do jejum.

O jejum é um gesto ou um ato de entrega total a Deus. Ele não deve ser revestido de hipocrisia — manifesta pela transfiguração do rosto, pelo esforço em parecer piedoso — ou de tristeza, antes ele deve ser um genuíno ato de consagração a Deus, dotado de uma grande dose de alegria, pois o fazemos para a glória de Deus e mortificação da nossa carne.

Ele nos ajuda a trazer cativos para as mãos de Deus nossas inclinações.

No cumprimento dessas três disciplinas nossa quaresma será um tempo propício, um tempo agradável para ajuntarmos tesouros, não na terra, mas no céu (Mt 6.19–20), pois onde está o nosso tesouro, está o nosso coração (Mt 6.21) e se nosso tesouro está no céu, logo nossas afeições estarão no céu.

Busquemos as coisas do alto!

Boa quaresma!

--

--

Pr. Diego Avlis
IgrejadeCristo

Ser um sinal da Providência de Deus em minha geração