Igreja?

Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18)

Pr. Diego Avlis
IgrejadeCristo
6 min readMar 26, 2020

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A natureza, organização e propósito da Igreja é um dos meus assuntos favoritos na ciência da fé, a teologia. A área da teologia que estuda a Igreja é chamada de eclesiologia: do grego eclésia (assembléia, chamados, convocação) + logos (palavra, conhecimento, estudo) = estudo ou doutrina da Igreja, e ela visa estudar o que a Igreja é de fato, o que a Igreja é chamada a ser, como a Igreja se organiza e para que a Igreja existe.

Dos textos bíblicos que falam sobre a Igreja, Mateus 16 é um dos que mais me chama a atenção. Não só pelo fato de ser o primeiro texto onde a palavra grega eclésia é usada com referência a uma comunidade de discípulos de Jesus, mas pelas declarações e promessas de Jesus no texto bíblico a respeito da Igreja.

O texto citado acima está inserido numa conversa que Jesus teve com seus discípulos. Nesta conversa Jesus pergunta aos seus discípulos:

“Quem os homens dizem ser o Filho do homem?” (Mt 16.13).

Em outras palavras Jesus estava perguntando: “o que as pessoas dizem que eu sou?” ou “quem as pessoas acham que eu sou?”. A qual, os discípulos responderam que alguns o identificavam com João Batista, um homem de Deus — por sinal, primo de Jesus — que havia identificado como sua missão anunciar alguém que viria depois dele, alguém que era maior que ele e do qual ele não era digno de desatar as correias das sandálias (Jo 1.27).

O próprio Jesus já havia afirmado de João, o Batista, que entre os homens não havia ninguém tão especial quanto ele, mas haveria um lugar onde até o menor daquele lugar seria maior do que ele (Lc 7.28). Mas apesar de, mesmo quando ainda era um bebê no ventre de sua mãe, ter saltado de alegria com a presença de Jesus (Lc 1.41), ele não era o Cristo (Jo 3.28–30), e aqueles que identificavam Jesus com ele, ainda não O reconheciam como de fato Ele era.

Além disso, os discípulos disseram que outros O identificavam com Elias. Elias, semelhantemente a João, também era um homem de Deus, identificado assim sem que nada precisasse declarar. Ele fez grandes prodígios, em seu ministério fogo descerá do céu, chuva caiu sobre a terra seca. Ao fim do seu ministério, foi arrebatado para Deus e muitos dos profetas posteriores disseram que antes da grande vinda do Messias ele retornaria para preparar-lhe o caminho.

Ele não era o Cristo, sua missão dava testemunho do Cristo e mais uma vez os que identificavam Jesus a ele, ainda não O reconheciam como de fato Ele era. Por sua vez, outros identificavam Jesus com Jeremias e outros ainda com alguns dos profetas. Todos esses tem em comum uma coisa, ainda não reconheciam Jesus como de fato Ele era.

Foi então que, diante desta resposta, Jesus perguntou aos seus discípulos:

“Mas vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15)

Agora Jesus tocou no ponto. Jesus trouxe a conversa para o nível do relacionamento. Jesus não queria mais saber a opinião da multidão que o seguia a distância. Jesus não queria mais saber a opinião dos fariseus que lhe confrontavam. Jesus queria saber a opinião dos seus discípulos, daqueles com quem Ele tinha relacionamento, daqueles que passavam dia e noite com Ele, comiam com Ele, choravam com Ele, andavam com Ele.

E diante desta pergunta, o discípulo mais hiperativo de Jesus, Simão Pedro, respondeu:

“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16)

Pedro, em poucas palavras, identificou o que nenhum dos outros grupos havia identificado. Um conhecimento que só é possível através de revelação espiritual, através de uma caminhada relacional com Jesus. Conforme disse Jesus:

Simão Barjonas, tu és bem-aventurado, pois não foi carne e sangue que te revelaram isso, mas meu Pai, que está no céu (Mt 16.17)

Pedro reconheceu em Jesus uma missão maior, um projeto mais excelente, um realidade mais substancial do que as propostas anteriores. Seja João, seja Elias, seja Jeremias ou qualquer outro dos profetas, nenhum destes poderia afirmar sobre si: “Eu sou o Cristo, o Filho do Deus vivo”.

Foi a esse projeto excelente que Jesus chamou de Igreja ao dizer para Pedro:

E digo-te ainda que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18)

Desta declaração de Jesus três afirmativas saltam aos olhos:

1. A Igreja é edificada sobre uma pedra

Jesus declara ao seu discípulo que ele é Pedro, uma pedra frágil, mas que é sobre esta pedra, sobre esse rochedo, ou seja, o conhecimento que Ele (Jesus) é o Cristo, o Filho do Deus vivo, alçado através de meios relacionais, que Sua Igreja seria edificada.

Tanto é que após o diálogo o evangelho afirma que Jesus instruiu os discípulos a não expor aos de fora do grupo, da eclésia, que Ele é o Cristo, pois, entendo eu, esse conhecimento seria adquirido a medida que se desenvolvesse um relacionamento com Jesus, onde se reconheceria como o Cristo, o Filho do Deus vivo!

Igreja é, portanto, uma comunidade de pessoas que se relacionaram com Jesus a ponto de o reconhecerem como o Cristo, o Filho do Deus vivo. E é sobre esse reconhecimento, essa confissão, que a Igreja está firmada, segura, e ninguém a pode abalar.

2. É Cristo que edifica a Igreja

Nessa declaração Jesus também afirma que Ele mesmo se asseguraria da edificação da Igreja. Em outras palavras, Jesus garantiu que Ele proveria todos os meios necessários, espirituais ou temporais, para a manutenção da Sua Igreja.

Mas Jesus não edifica sua Igreja “apesar de seus discípulos, mas através de seus discípulos” (Ed Stetzer, Cristo edifica a Sua Igreja, nós fazemos discípulos). Segundo Ed Stetzer o Evangelho de Mateus não acaba com o capítulo 16, mas sim com o capítulo 28, onde Jesus ordena:

“…ide, fazei discípulos de todas as nações…” (Mt 28.19).

Em outras palavras, quando Jesus edifica a Sua Igreja, Ele o faz através de discípulos, incluindo você!

“Somente um Salvador crucificado e ressuscitado é o Rei dos reinos. Com essa autoridade, ele chama seus discípulos a irem fazer discípulos de todas as nações entre todos os grupos de pessoas, batizando-os e ensinando-lhes o que Ele ordenou” (Ed Stetzer, Cristo edifica a Sua Igreja, nós fazemos discípulos)

3. As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja

Em último lugar, mas, com toda certeza, não menos importante, Jesus garante que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja.

Outra tradução possível é que os limites do inferno não seriam capazes de impedir o crescimento da Igreja, ou seja, a medida que a Igreja cresce, limites ou territórios que pertenciam ao reino das trevas, passam a ser dominados pelo reino de Deus. Sociedades que eram conduzidas por valores do reino das trevas, passam a ser conduzidas pelos valores do reino de Deus.

Para isso, a Igreja deve, como estabeleceu Jesus, pôr-se como uma cidade-luz, uma referência, um farol, como bolsões, ilhas, aonde o reino de Deus acontece e na prática dos valores deste reino, influencia a sociedade dominada pelo príncipe deste século.

“Vós sois o sal da terra; mas se o sal perder suas qualidades, como restaurá-lo? Para nada mais presta, senão para ser jogado fora e pisado pelos homens.

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo de um cesto, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está no céu” (Mt 5.13–16)

Essa é a Igreja, uma cidade construída sobre o monte, uma cidade construída sobre a firme certeza que Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo!

Esta é a Igreja, o sal da terra e a luz do mundo, a qual as portas do inferno ou os limites deste não podem impedir!

Esta é a Igreja um sinal vivo do Reino de Deus, daquele lugar aonde até os menores podem ser maiores que João, que Elias, que Jeremias ou que qualquer dos profetas. Maiores não por seus merecimentos ou obras, mas porque foram chamados a ser parte, ser parcela, de um projeto maior, mais excelente, a Igreja de Cristo, a assembleia daqueles que foram chamados das trevas para a maravilhosa luz!

Continua…

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Pr. Diego Avlis
IgrejadeCristo

Ser um sinal da Providência de Deus em minha geração