Síndrome de Torcida

Uma breve análise dos conflitos de visão

Pr. Diego Avlis
IgrejadeCristo
4 min readApr 22, 2020

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Entre as coisas que gosto de fazer no meu tempo livre, no meu tempo de descanso, é assistir filmes e séries de heróis, sim, os famosos “Blockbusters”. Sou daqueles que gostam de todos os filmes e séries deste gênero — sim, até mesmo os mais horríveis como “Quarteto Fantástico” hehehe.

Dentro deste universo de produções audiovisuais existem duas grandes editoras ou produtoras, a Marvel, famosa por grupos de heróis como “Os Vingadores”, o já citado “Quarteto Fantástico”, “Os X-Men”, “Guardiões da Galáxia” e outros, e por heróis como “Homem de Ferro”, “Homem-Aranha”, “Thor” e muitos outros, sendo seus fãs conhecidos nas redes como “marvetes”, e a DC, por sua vez, famosa por grupos como a icônica “Liga da Justiça”, “Os Titãs” e outros, e por heróis como “Superman”, “Batman”, “Flash”, “Mulher-maravilha”, “Arqueiro-verde” e muitos outros — e antes que venham falar alguma coisa, meu objetivo aqui não foi fazer uma lista extensiva, mas apenas situar as pessoas nas produções dessas editoras — , sendo seus fãs conhecidos como “DCnautas”.

Por minha paixão por estas produções, na decoração da parede do meu quarto tenho três quadros um do “Thor” (Marvel), outro do “Flash” (DC) e outro ainda do “Capitão América” (Marvel). Apesar de haver muitos, que como eu, curtem heróis das duas produtoras, para uma gama dos “marvetes” ou dos “DCnautas” é quase um pecado unir em um mesmo ambiente heróis destas duas produtoras. A rivalidade de alguns destes fãs é tamanha que muitos chegam a festejar quando uma produção da “rival” fracassa.

Tais fãs estão envoltos em um verdadeiro espírito de torcida de futebol — pode aqui substituir por outros esportes do gênero — que só está feliz quando o adversário perde. Algo que destoa da história destas produções que tem demonstrado que quando uma produtora consegue gerar uma obra realmente icônica atrai pessoas não-fãs para as diversas produções do gênero e que a sadia “competição” delas pelo público que não está tão ligado diariamente ao gênero só faz com que a qualidade das produções aumente e as produtoras sejam estimuladas a sempre investirem mais em tais obras.

E tal “síndrome de torcida”, como eu chamo essa competição negativa e muitas vezes até doentia, não acontece somente em relação a tais produções, mas muitos a aplicam em diversas áreas da vida, quando, por exemplo, uma pessoa adere a determinada cartilha teológica ou ideológica e passa a acreditar que sua cartilha é a visão absoluta e bem definida do mundo, estando todas as outras erradas e fadadas a destruição.

O mundo não é fácil de ser compreendido, nós seres humanos estamos fadados a erros constantes, nossas visões estão influenciadas por diversas coisas que podem ajudar a vermos melhor o mundo ou atrapalhar ainda mais. A opulência de alguns faz com que não enxerguem a pobreza, o pobre e suas dificuldades, tudo concentra-se na sua abundância de coisas. A miséria de outros faz com que não vejam nada além de sua própria miséria.

Mas ao mesmo tempo a opulência promove aos que dela desfrutam mais ócio para refletir acerca de questões fundamentais da vida, metafísicas, éticas, enquanto que a miséria de outros e suas necessidades os fazem buscar pela solução de questões mais práticas, tecnológicas e produtivas.

Deste modo, as diversas visões de mundo, contribuem umas as outras para produzir um mundo cada dia melhor. É na sadia competição do consenso que se constroem alternativas para o bem-viver. Na sadia competição teológica de algumas correntes do cristianismo foram apontados erros doutrinários, práticos, litúrgicos e éticos nos diversos grupos, o que gerou crescimento e qualificação em muitos campos teológicos, gerando o que hoje já é observado em pequenos, mas significativos grupos, como diversas convergências.

É na sadia competição de visões de mundo mais a direita e visões de mundo mais a esquerda que podemos construir um mundo melhor. Nenhum destes são times que merece vencer em contraposição a derrota do outro, não há nenhum campo da vida humana que é exclusividade de determinado espectro, antes é no diálogo, no consenso que está a resposta.

E com isso não digo que você não possa ser de esquerda ou de direita, pelo contrário, você deve ter a sua visão de mundo, deve ter a sua visão política, mas deve abrir-se para ouvir no outro as soluções para os problemas que sua visão é incapaz de solucionar ou para encontrar o consenso entre suas diferentes soluções e construir uma solução comum, sadia e forte.

Por isso, não tenha seu espectro político, sua visão de mundo, seu campo teológico, nada disso, como sua torcida, não tenha ministros religiosos, teólogos, políticos como seus “bichinhos de estimação”, antes promovam consensos, convergências e diálogos. Creio que assim termos um mundo melhor. Mas essa é também apenas uma de muitas visões possíveis.

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Pr. Diego Avlis
IgrejadeCristo

Ser um sinal da Providência de Deus em minha geração