Dia Nacional do Livro: 6 indicações de leitura para celebrar a data

Os integrantes do coletivo Iguana Jornalismo indicam seus livros preferidos

Nicole Goulart
Iguana Jornalismo
7 min readOct 29, 2020

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O Dia Nacional do Livro é comemorado no dia 29 de outubro em lembrança a fundação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em 1810 pela Coroa Portuguesa. Antes se chamava Biblioteca Real Portuguesa e veio transferida para o Brasil dois anos após a vinda da Família Real.

O acervo da Biblioteca foi inicialmente instalado na Igreja dos Terceiros do Carmo — Igreja Nossa Senhora do Monte do Carmo — conforme decreto publicado em 27 de junho de 1810. Entretanto, um novo decreto foi assinado no dia 29 de outubro, ordenando a locação do acervo nas catacumbas dos religiosos do Carmo junto a Real Capela. A Biblioteca Nacional ficou de 1858 a 1910 na Rua do Passeio, no Centro do Rio de Janeiro, quando mudou para o atual endereço na Avenida Rio Branco, 219.

Para celebrar a história e a importância da data, os integrantes do coletivo Iguana Jornalismo selecionaram livros que consideram incríveis e explicam suas escolhas.

1. O Nascimento de Joicy — Fabiana Moraes

O livro-reportagem “O Nascimento de Joicy” foi escrito pela jornalista Fabiana Moraes e publicado em 2015. Indicada pelo repórter Filipe Pimentel, a história é sobre a transexual Joicy no processo de transgenitalização.

A autora acompanha Joicy e mostra os obstáculos pessoais, sociais, econômicos, estruturais e institucionais pelos quais uma pessoa trans precisa passar para viver no corpo que se identifica. Um dos pontos que Filipe destaca é a questão da saúde pública, pois todo o atendimento foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Para quem se interessa pelo teor jornalístico, Filipe afirma: “Percebemos um equilíbrio e mistura de subjetividade da jornalista com a técnica de objetividade. Vale destacar no livro a existência de um capítulo final que conta os bastidores da reportagem. Com isso, fica evidente todo trabalho de Fabiana e de sua equipe.”

“O Nascimento de Joicy” foi publicado pela editora Arquipélago Editorial e tem 248 páginas. A reportagem sobre a história da Joicy venceu o Prêmio Esso de Reportagem em 2011.

2. A Vida Que Ninguém Vê — Eliane Brum

Livro escrito pela jornalista Eliane Brum e publicado em 2006 pela Arquipélago Editorial. Indicado pelo cofundador do coletivo Rafael Pereira e pela repórter Giovanna Parise, “A Vida Que Ninguém Vê” traz o olhar delicado, atencioso e empático sobre as vidas que passam por nós todos os dias, mas que não enxergamos.

Os textos foram publicados na edição de sábado do jornal Zero Hora e preenchem as 208 páginas da obra. Para Rafael, o livro o fez perceber o quanto as grandes histórias podem estar escondidas nos lugares mais inimagináveis, inclusive ao nosso redor. A obra é sobre personagens do comuns do cotidiano e que o cofundador possuem “uma sensibilidade e profundidade que nos conectam com as narrativas e fazem com que passemos a ver o mundo ao nosso redor sob uma nova ótica — a de que, por trás de cada rosto, existe uma história a ser contata.”

Considerado um clássico para quem estuda Jornalismo, a repórter Giovanna Parise indica esse livro escrito por uma jornalista premiada porque mostra a prática deste ofício. Para ela, “o jeito que a Eliane olha para as pessoas e escuta as pessoas, primeiramente, ensina muito sobre a jornalista que eu quero ser. Desde o título A Vida Que Ninguém Vê e no caso ela vê, eu acho que já exemplifica o papel que eu como jornalista preciso ter, que é sempre buscar ver o que a gente não costuma ver. Então, se ninguém vê, a jornalista precisa enxergar, precisa escutar quem não é normalmente ouvido.”

Assim como Rafael, Giovanna lembra que a autora conta histórias de pessoas muito diferentes e de uma forma humana, ressaltando que ao enxergar essa humanidade entendemos que todos têm direitos iguais porque todos nós somos seres humanos. Por esse motivo, essa indicação se relaciona com o propósito do Iguana.

3. Mulheres e poder: um manifesto — Mary Beard

A indicação da cofundadora do coletivo Júlia Ozorio ultrapassa as fronteiras do Brasil, mas nem tanto. Mary Beard é inglesa e escreveu “Mulheres e poder: um manifesto” em 2018, trazendo em suas 128 páginas o histórico milenar de subjugamento e silenciamento das mulheres na sociedade ocidental e como elas são encaradas quando estão em posições de poder.

Suas palavras não estão distantes de nós porque a ex-presidente Dilma Rousseff é citada no livro. A autora conta como mulheres governantes são consideradas fortes, mas que são comparadas a personagens como a Medusa, insinuando que são pessoas más. Entretanto, a própria história de Medusa como vilã é uma leitura equivocada da Mitologia. Além disso, outros contos mitológicos também são discutidos pela autora como a Odisseia de Homero, revelando seus aspectos machistas.

Imagem: Sergio Lima/Folhapress

O manifesto de Mary Beard também questiona o porquê das mulheres poderosas serem associadas a homens e às características masculinas. Por essas razões, Júlia indica esse livro para mulheres que querem aprender mais sobre misoginia, sobre machismo e sobre representação feminina em cargos de poder.

4. O Alienista — Machado de Assis

Um clássico da literatura brasileira, o conto para alguns e novela para outros foi escrito por Machado de Assis e publicado pela primeira vez em 1882. O livro “O Alienista” é a indicação da designer Larissa Tibola e conta a história do Dr. Simão Bacamarte, um alienista — como eram chamados os psiquiatras na época — e o seu trabalho no manicômio Casa Verde, construído por ele mesmo na vila de Itaguaí, no Rio de Janeiro.

Larissa escolheu esse livro pela história discutir a linha tênue entre racionalidade e sanidade, com plots twists bem construídos, além de questionar o que é a loucura, quais são os parâmetros de normalidade e quem define o que é ser normal. A designer destaca que a história ainda pode ser considerada atual, porque a loucura ainda é um tabu na sociedade.

“Pessoas com transtornos mentais foram indesejadas e excluídas socialmente, escondidas e abandonadas em centros de tratamentos, ou como antigamente, em manicômios. Também levanta a questão que agir e pensar fora da curva muitas vezes faz alguém ser socialmente indesejável, e sendo assim, louco”, afirma.

O Alienista possui 96 páginas. A obra completa de Machado de Assis está disponível para o público no site Domínio Público. Clique aqui.

5. Amora — Natalia Borges Polesso

Livro de contos lançado em 2015 e escrito por Natalia Borges Polesso, “Amora” traz história de relacionamentos lésbicos, mas é como diz em sua sinopse: Seria pouco dizer que os contos de Amora versam sobre relações homossexuais entre mulheres. Também estão aqui o maravilhamento, o estupor e o medo das descobertas. O encontro consigo mesmo, sobretudo quando ele ocorre fora dos padrões, pode trazer desafios ou tornar impossível seguir sem transformação. É necessário avançar, explorar o desconhecido, desestabilizar as estruturas para chegar, enfim, ao sossego de quem vive com honestidade.”

Indicado pela estudante de Publicidade e Propaganda, Jéssica de Alencar, a obra venceu o Prêmio Jabuti e o Prêmio Açorianos, ambos na categoria “Contos”, em 2016. Para Jéssica, é uma de suas leituras favoritas e afirma que o livro é recheado de histórias de amor. “Com todas suas protagonistas representadas por mulheres lésbicas, cada conto traz um pouco de paizão ao dia a dia, com histórias doces e emocionantes. Amora também é sobre representativa”, completa.

Publicado pela editora Dublinense, possui 256 páginas.

6. Morangos Mofados — Caio Fernando Abreu

A última indicação dessa lista é a minha. O livro Morangos Mofados, escrito por Caio Fernando Abreu, foi lançado em 1982 e tem diversas edições por diferentes editoras. Os dezoito contos divididos entre “O Mofo”, “Os Morangos” e “Morangos Mofados” compõe uma obra que mistura repressão com liberdade e sonhos com desilusões.

Escolhi esse livro porque são histórias que têm cheiro, cor, gosto e forma, ou seja, ficam marcadas nos nossos sentidos. Apesar de serem classificadas como ficção, são contos que poderiam ser reais porque o autor escolheu falar do dia-a-dia. É a obra que eu sempre abro de novo para ler um trecho.

Uma das edições do livro é da editora Nova Fronteira, lançado em 2016 com 168 páginas. O prefácio foi escrito por Heloísa Buarque de Hollanda.

Indicações extras

  1. Dom Casmurro — Machado de Assis
  2. Filho Eterno — Cristóvão Tezza
  3. Pequeno manual antirracista — Djamila Ribeiro
  4. O amor nos tempos do cólera — Gabriel García Márquez

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