“O Brasil é aberto para estrangeiros brancos, não os de cor preta”, diz Alix Georges

Júlia Ozorio
Iguana Jornalismo
Published in
3 min readNov 14, 2018

O músico participou do evento “Migre-se”, que reuniu imigrantes, estudantes e convidados para debater o processo de migração

(Foto: Rodolpho Tsvetcoff)

“Qual é o teu refúgio?”, esta era a pergunta que estampava o quadro do evento “Migre-se”, realizado no dia 7 de novembro, na Unisinos. Promovido por estudantes da disciplina de Gestão e Ambientação de Eventos, a atividade contou com apresentações artísticas do cantor haitiano Alix Georges e uma roda de conversas com imigrantes.

Há muitos motivos que levam estrangeiros a procurarem abrigo no Brasil. O principal deles, a busca por uma vida melhor. Crises políticas, sociais, econômicas e até mesmo catástrofes naturais fazem com que milhares de pessoas atravessem as fronteiras brasileiras todos os anos.

Em 2010, o Haiti, por exemplo, sofreu um terremoto que fez 200 mil vítimas e levou cerca de 1,6 milhão de pessoas a se deslocarem e perderem suas habitações, segundo dados do Human Rights Watch. Neste período, cerca de seis mil haitianos vieram ao Brasil através de parcerias realizadas pelo governo, ONG’s e empresas do país.

Alix está há 12 anos no Brasil e narra a realidade dos imigrantes através da música (Foto: Rodolpho Tsvetcoff)

Um dos convidados do evento foi o músico haitiano Alix Georges. Ele conta que veio antes do terremoto, por meio de um programa de estudo, para buscar melhores oportunidades. Morando em Porto Alegre desde 2006, e já graduado pela UFRGS, hoje ele é cantor, trabalha em uma empresa de tecnologia, e dá aulas em uma escola de idiomas.

O evento foi aberto com Alix cantando algumas de suas músicas, como “Fuga de Cérebro”, “Eu Gosto do Brasil” e uma versão em francês do “Canto Alegretense”. Após a apresentação, o público presente foi convidado a participar de uma roda de conversa sobre imigração. Durante o debate, Alix afirmou que, para ele, os portugueses são responsáveis pelo atraso do Haiti, característico de países que foram vítimas da colonização. O músico disse que o processo também deixa marcas no Brasil, através do racismo estrutural que se perpetua até hoje. “A gente não consegue o mínimo no Brasil, que é trabalho, pela cor da nossa pele”, conta.

Rodeados por estudantes, professores e jornalistas, os imigrantes compartilharam algumas das experiências pelas quais já passaram fora de seus países. Um haitiano que chegou há um mês e meio no território brasileiro, e preferiu não se identificar, conta que morou no Chile antes de vir para o Brasil, e que aqui se sentiu melhor acolhido. “Eu não acho que o Brasil seja fechado para os estrangeiros. Pela primeira vez me sinto feliz em um país diferente. Obrigado, Brasil!”, disse.

Dezenas de pessoas compareceram para compartilhar ideias e experiências sobre o processo de migração (Foto: Rodolpho Tsvetcoff)

Alix, que está há mais tempo no país, discordou do jovem. “O Brasil é aberto para estrangeiros, mas apenas os brancos, não os de cor preta”, disse o músico. Ele conta que seu sonho é que, daqui dez anos, seus futuros filhos possam viver em um Brasil com mais respeito e igualdade racial. “A vinda dos imigrantes ajuda a mostrar os problemas sociais do Brasil”, completa.

Além de Alix, participaram da conversa os organizadores, liderados pela professora Gabriela Gonçalves, os estudantes da universidade, diversos imigrantes e os convidados - a Educadora Social Jarina Menezes, que atua como educadora no CIEE desde 2015, e atualmente ensina a língua portuguesa a imigrantes que pretendem procurar emprego, e os membros do coletivo Iguana Jornalismo.

Giovanna Parise
Rafael Pereira
Júlia Ozorio

--

--

Júlia Ozorio
Iguana Jornalismo

Jornalismo UFRGS. Codiretora do coletivo Iguana Jornalismo. Excêntrica.