“O Brasil é aberto para estrangeiros brancos, não os de cor preta”, diz Alix Georges
O músico participou do evento “Migre-se”, que reuniu imigrantes, estudantes e convidados para debater o processo de migração
“Qual é o teu refúgio?”, esta era a pergunta que estampava o quadro do evento “Migre-se”, realizado no dia 7 de novembro, na Unisinos. Promovido por estudantes da disciplina de Gestão e Ambientação de Eventos, a atividade contou com apresentações artísticas do cantor haitiano Alix Georges e uma roda de conversas com imigrantes.
Há muitos motivos que levam estrangeiros a procurarem abrigo no Brasil. O principal deles, a busca por uma vida melhor. Crises políticas, sociais, econômicas e até mesmo catástrofes naturais fazem com que milhares de pessoas atravessem as fronteiras brasileiras todos os anos.
Em 2010, o Haiti, por exemplo, sofreu um terremoto que fez 200 mil vítimas e levou cerca de 1,6 milhão de pessoas a se deslocarem e perderem suas habitações, segundo dados do Human Rights Watch. Neste período, cerca de seis mil haitianos vieram ao Brasil através de parcerias realizadas pelo governo, ONG’s e empresas do país.
Um dos convidados do evento foi o músico haitiano Alix Georges. Ele conta que veio antes do terremoto, por meio de um programa de estudo, para buscar melhores oportunidades. Morando em Porto Alegre desde 2006, e já graduado pela UFRGS, hoje ele é cantor, trabalha em uma empresa de tecnologia, e dá aulas em uma escola de idiomas.
O evento foi aberto com Alix cantando algumas de suas músicas, como “Fuga de Cérebro”, “Eu Gosto do Brasil” e uma versão em francês do “Canto Alegretense”. Após a apresentação, o público presente foi convidado a participar de uma roda de conversa sobre imigração. Durante o debate, Alix afirmou que, para ele, os portugueses são responsáveis pelo atraso do Haiti, característico de países que foram vítimas da colonização. O músico disse que o processo também deixa marcas no Brasil, através do racismo estrutural que se perpetua até hoje. “A gente não consegue o mínimo no Brasil, que é trabalho, pela cor da nossa pele”, conta.
Rodeados por estudantes, professores e jornalistas, os imigrantes compartilharam algumas das experiências pelas quais já passaram fora de seus países. Um haitiano que chegou há um mês e meio no território brasileiro, e preferiu não se identificar, conta que morou no Chile antes de vir para o Brasil, e que aqui se sentiu melhor acolhido. “Eu não acho que o Brasil seja fechado para os estrangeiros. Pela primeira vez me sinto feliz em um país diferente. Obrigado, Brasil!”, disse.
Alix, que está há mais tempo no país, discordou do jovem. “O Brasil é aberto para estrangeiros, mas apenas os brancos, não os de cor preta”, disse o músico. Ele conta que seu sonho é que, daqui dez anos, seus futuros filhos possam viver em um Brasil com mais respeito e igualdade racial. “A vinda dos imigrantes ajuda a mostrar os problemas sociais do Brasil”, completa.
Além de Alix, participaram da conversa os organizadores, liderados pela professora Gabriela Gonçalves, os estudantes da universidade, diversos imigrantes e os convidados - a Educadora Social Jarina Menezes, que atua como educadora no CIEE desde 2015, e atualmente ensina a língua portuguesa a imigrantes que pretendem procurar emprego, e os membros do coletivo Iguana Jornalismo.
Giovanna Parise
Rafael Pereira
Júlia Ozorio