O que é ser mulher além do 8 de março: números revelam a realidade das brasileiras

Lais Morais
Iguana Jornalismo
Published in
4 min readMar 8, 2021

Hoje, dia oito de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Essa data que é conhecida e celebrada mundialmente tem como objetivo valorizar as mulheres. Elas enfrentam tantas vulnerabilidades e, apesar de diversas conquistas alcançadas por esse grupo social ao passar das épocas, ainda se faz necessária uma intensa luta por uma vida mais justa e com maior qualidade.

Para pensar como é ser mulher no Brasil, nos últimos anos, reunimos alguns dados sobre diversas áreas. Os números apresentados mostram a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho — com as jornadas duplas e triplas delas- e no acesso ao ensino. Além disso, evidenciam a violência sofrida por elas, principalmente, na pandemia, que agravou o cotidiano inseguro de numerosas mulheres ao redor do país.

Analisando a condição de vida feminina no Brasil é inevitável olhar para as questões relacionadas à renda. No final de 2017, os homens receberam em média R$ 2.476 enquanto as mulheres ganharam R$ 1.884. Com isso, evidencia-se uma diferença de 23,9% entre o salário das mulheres e dos homens, segundo dados da organização Gênero e Número. Como comparativo, em 2019, as mulheres receberam, em média, 77,7% do que os homens receberam. Nos nichos específicos de cargos de diretoria e gerentes, essa porcentagem foi de 61,9%, e em profissionais da ciência e intelectuais, a renda das mulheres foi de 63,6% do rendimento dos homens, segundo levantamento de dados divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no último dia quatro deste mês.

Ainda sobre o mercado de trabalho, a mesma fonte informa que 54,5% das mulheres fazem parte da força de trabalho no Brasil, em 2019, enquanto o percentual entre homens é de 73,7%.

No que diz respeito à escolaridade, os dados mostram uma maioria feminina, porém branca. No ano passado, foi divulgado o estudo Mapa do Ensino Superior 2020, realizado pelo Instituto Semesp — organização que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil. Nessa pesquisa, foi revelado, segundo a Agência Brasil, que 57% dos alunos de ensino superior são mulheres. Porém, o estudo também levantou que 55% desses estudantes são brancos e fazem parte do ensino privado e 48% são brancos e do ensino público, ou seja, as universidades em todo o Brasil são representadas por uma maioria feminina e branca.

A situação da mulher na pandemia

Com todos esses desafios em tempos “normais”, com a chegada do novo coronavírus e a necessidade do isolamento social, completando um ano nesse mês, diversas situações se agravaram. A ONU anunciou, no ano passado, que a dupla jornada no isolamento social aumentou a vulnerabilidade das mulheres. Além disso, a porcentagem de equipe feminina nos centros médicos é maior que a masculina, aumentando a exposição dessas mulheres à covid-19: 70% das equipes de trabalho em saúde e serviço social, segundo dados da UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas).

Outra evidente desigualdade de gênero se encontra ao analisar as cargas horárias de mulheres que exercem duplas ou até triplas jornadas. O estudo citado anteriormente do IBGE mostrou que, em 2019, um terço das mulheres que exerciam conciliação da dupla jornada trabalhavam até 30 horas semanais em afazeres domésticos, enquanto apenas 15,6% dos homens empregados no Brasil se encontravam na mesma situação. Com o fechamento das escolas durante a pandemia, também recaiu mais a atenção das mulheres mães em casa.

Além do cenário de trabalho, a violência contra a mulher também sofreu seus impactos com a pandemia. De acordo com o relatório da Rede de Observatório, em 2020, foram registrados 1823 casos de feminicídio e violência contra a mulher em cinco estados: Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Desses casos, 449 foram feminicídios e, em 58% dos episódios, os responsáveis eram maridos, namorados, ou ex-parceiros das vítimas. Isso resulta em cinco casos registrados de violência contra a mulher por dia, em 2020.

No Brasil, a média geral de feminicídios a cada 100 mil habitantes mulheres é de 0,21, segundo dados do Projeto Colabora, no período de março a abril de 2019 e 2020.

Em São Paulo, a média de feminicídios é de 0,17, abaixo da média geral. Entre janeiro a dezembro do ano passado, houve 200 casos de feminicídio no estado. Já em Pernambuco, a média no estado foi maior que a média geral no país, sendo 0,22. Foram registrados 82 assassinatos de mulheres no estado, segundo dados da Rede de Observatório.

No nordeste, na Bahia, a média também está acima da geral, sendo de 0,23. Num ano de pandemia ,como em 2020, o estado somou 70 feminicídios. Já no sudeste, no Rio de Janeiro, também durante o isolamento social, foram 50 mulheres assassinadas, com uma média de 0,09 abaixo da média geral brasileira.

Com esses dados é possível refletir que o clichê tão repetido no dia de hoje “dia da mulher é todo o dia” é tão verdadeiro quanto necessário de ser compreendido. A mulher enfrenta dificuldades que podem se agravar de acordo com as situações do país e do mundo. Ela é impactada pelo seu ambiente e pelo contexto social que está inserida. São necessárias políticas públicas e a conscientização da sociedade para que sua existência seja respeitada.

Os problemas apresentados pelos dados são somente alguns, existem ainda tantas problemáticas registradas — ou não- em estudos e números que assombram as mulheres todos dias: ao sair de casa, ao procurar um emprego, ao buscar cuidados médicos, ao ser mãe, ao buscar identificação de gênero — como as mulheres trans- , a lista não para. Olhar para essas situações é imprescindível para que a desigualdade de gênero não seja mais uma realidade. Afinal, se os homens podem ter todos os direitos e privilégios que eles possuem, por que nós mulheres não podemos?

Lais Morais

--

--