Datafolha registra maior intenção de votos brancos e nulos desde 1989
Segundo pesquisa realizada entre os dias 6 e 7 de junho, o ex-presidente Lula é o único candidato a superar as intenções de “não voto”
E m pleno ano eleitoral, a desilusão com a política é um tema recorrente entre os brasileiros. Neste cenário de descrença em partidos e candidatos, os votos em branco ou nulos surgem como alternativa para os eleitores.
O Instituto Datafolha divulgou pesquisa de intenção de voto realizada entre os dias 6 e 7 de junho. Diversos cenários foram testados, e em todos eles o “não voto” figurou no topo da lista, acima da maioria dos candidatos.
Segundo o cientista político Paulo Moura, três fatores principais colaboram para o alto índice de intenção de votos brancos e nulos. “Primeiramente, a população está envelhecendo, e o recadastramento, onde é feito, está levando à exclusão de registros inativos. Também há uma enorme decepção dos eleitores com a corrupção e com a falta de legitimidade da classe política. Além disso, os eleitores de Lula ainda não migraram para outro candidato e, sem ele na disputa, sugerem que não votarão”.
No cenário com o ex-presidente Lula, o petista lidera a pesquisa, com 30% das intenções de voto. Logo atrás dele vem o deputado Jair Bolsonaro, com 17%, empatado com os brancos e nulos. Ambos são seguidos pela ex-senadora Marina Silva, com 10%.
O petista, mesmo após sua condenação, segue com muita popularidade e liderança política, e sua ausência ou candidatura nesta eleição gera grande impacto. “Creio que muitos dos eleitores de Lula vão optar pelo candidato que ele indicar, ou se distribuir entre os demais”, afirmou Paulo Moura. O ex-presidente é o único candidato que alcança uma intenção de votos maior que os brancos e nulos.
No cenário sem Lula, a adesão ao ‘não voto’ é ainda maior. Os brancos e nulos lideram a pesquisa, com 28% das intenções. Em seguida vem o candidato Jair Bolsonaro, com 19%. Ele é seguido por Marina Silva, com 15%, e Ciro Gomes, com 10%.
Esta é a primeira eleição presidencial no Brasil na qual, nas pesquisas de eleitorais, os brancos e nulos aparecem com mais força que todos os candidatos. Anteriormente, as eleições de 2014 tiveram a maior taxa de intenção de ‘não voto’ no mês de junho, com 16%.
Caso estes números se confirmem, seria a eleição com maior número de ‘não votos’ desde 1989. Em 1994 e 1998, a taxa de votos brancos e nulos chegou a 18,7%.
Estes valores podem oscilar até as eleições, em outubro. Debates políticos, propagandas eleitorais, além da candidatura ou não de Lula, podem alterar o pensamento do eleitor.
Via de regra, a taxa de ‘não votos’ costuma crescer das pesquisas do mês de junho até os resultados finais das eleições. Em 1994 e 1998, por exemplo, este valor quase dobrou.
Paulo Moura aposta que estes índices podem oscilar, mas seguirão altos até outubro. “ Creio que esta taxa subirá em relação às eleições anteriores, mas, na eleição presidencial, pode diminuir dado o que está em jogo. Porém, para o legislativo, tende a ser muito grande”.
Esse processo só não se repetiu no primeiro turno de 2014. Na ocasião, o Datafolha indicou 16% de intenção de votos brancos e nulos em junho, mas nas urnas esta taxa só chegou a 9,6%.
Votos nulos e em branco
Em consulta ao Google Trends, um padrão de pesquisas na internet nas vésperas das eleições presidenciais ficou registrado: buscas sobre votos nulos e em branco crescem consideravelmente em comparação com os outros meses do ano.
Nas eleições presidenciais de 2006, as taxas de pesquisas na Web sobre esses tópicos começaram a evoluir a partir de abril, alcançando seu ápice em setembro do mesmo ano. Já em 2010, as buscas se mantiveram estáveis até setembro, em outubro obtiveram o maior número de procuras. Em 2014, o interesse dos brasileiros sobre os temas aumentou em maio, atingindo ponto máximo em outubro, mês da eleição.
Nesse ano, o Google Trends registrou o mesmo comportamento entre os eleitores brasileiros: em consulta aos dados do Trends, nos últimos 12 meses, ficou constatado que o maior índice de procuras por “voto nulo” e “voto em branco” até agora foi entre maio e junho. Porém, esse cenário de procuras na web pode mudar, porque ainda faltam meses para as eleições.
Além disso, também foi possível mapear as consultas relacionadas às procuras de “voto nulo” e “voto em branco” na web no último ano. Os usuários que pesquisaram por esses termos na internet nos últimos 12 meses também fizeram estas consultas:
Apesar das altas taxas de intenção de ‘não voto’, os dados do Google Trends destacaram a recorrente dúvida entre os eleitores se tratando de votos nulos e em branco. Existem diferenças entre ambos? Como eles são computados?
Na última pesquisa eleitoral do Datafolha, foi constatado que a intenção de ‘não voto’ aumentou consideravelmente em relação às eleições anteriores. Porém, ainda assim existem muitas dúvidas e mitos sobre os votos nulos e em branco.
Pensando nisso, preparamos uma seção especial que responde alguns desses questionamentos.
Mitos e verdades dos votos nulos e brancos
O que é voto nulo?
De acordo com o Glossário Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), voto nulo é aquele em que o eleitor manifesta sua vontade de anular o voto.
O que é voto em branco?
Segundo o Glossário Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o voto em branco é aquele em que o eleitor não manifesta preferência por nenhum dos candidatos.
O que acontece com os votos nulos?
O voto nulo é apenas registrado para fins de estatísticas e não é computado como voto válido, ou seja, não vai para nenhum candidato, partido político ou coligação.
O que acontece com os votos em branco?
Ao contrário do mito sobre os votos em branco migrarem para algum candidato, a contagem dos votos em branco servem apenas para fins estatísticos e são descartados na apuração final.
Como votar nulo?
Para votar nulo é necessário digitar na urna eletrônica um número que não seja correspondente a nenhum candidato ou partido político oficialmente registrados, e depois pressionar a tecla “confirma”.
Como votar em branco?
Para votar em branco é necessário que apenas pressionar a tecla “branco” da urna e, em seguida, a tecla “confirma”. Antes da urna eletrônica ser usada em eleições, para votar em branco o eleitor não assinalava a cédula de votação, deixando-a em branco.
Voto em branco anula a eleição?
Não. Ao contrário do que se imagina, os votos em branco não podem anular uma eleição, tampouco podem mudar os resultados. Eles são apenas contabilizados para fins estatísticos.
Mais da metade de votos em branco ou nulo suspendem uma eleição?
Não. Muitos interpretam o artigo 224 do Código Eleitoral erroneamente. O artigo diz: “se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias”. A nulidade não significa votos nulos e brancos. Pela lei eleitoral a nulidade é a constatação de fraude, falsidade, coação, desvio ou abuso de poder de autoridade em favor da liberdade do voto ou captação de votos vedados pela lei.
Votos antigamente X votos hoje
Antigamente o voto em branco era considerado válido, ou seja, era contabilizado e dado para o candidato vencedor. Hoje em dia, vigora no pleito eleitoral o princípio da maioria absoluta de votos válidos, conforme a Constituição Federal e a Lei das Eleições, isto é, considera apenas os votos válidos, que são os votos nominais e os de legenda, para os cálculos eleitorais, desconsiderando os votos em branco e os nulos.
Rafael Pereira
Júlia Ozorio
